VIDA URBANA
Facções levam terror à comunidade do Citex e à Rua do Arame em JP
Moradores das duas comunidades, que ficam na Zona Sul da capital, vivem no meio de uma disputa territorial entre grupos de traficantes
Publicado em 31/10/2015 às 8:00
Nas ruas ermas e de difícil acesso das comunidades do Citex, que fica no bairro do Geisel, e da Rua do Arame, no Grotão, em João Pessoa, os olhares das crianças saem tímidos no portão, mas são logo seguidos pela ordem dos adultos para que entrem em casa. Isso acontece porque cenas de tiroteios são comuns nas localidades, conforme moradores que pediram para não ser identificados. A razão para sua recorrência é a disputa de facções pelo tráfico de drogas na região. Devido a tudo isso, eles revelam que o medo é algo com que têm que conviver. “Para se prevenir, só com a ajuda de Deus. E não podemos nem falar muito, porque fofoqueiro morre, não é, moça?”, disse uma moradora de uma dessas comunidades.
Acompanhada da polícia, que pede cautela para que a vida de ninguém seja posta em risco, a reportagem do JORNAL DA PARAÍBA observou a fragilidade desses locais. No Citex, por exemplo, ruas estreitas impedem a passagem dos policiais, que precisam descer das viaturas e sair a pé quando é necessário realizar alguma abordagem ou perseguição pelas ruas sem calçamento e esburacadas. De dia, a situação parece tranquila, mas à noite, conforme o comandante da Unidade de Polícia Solidária (UPS) do Geisel, tenente Freitas, a falta de infraestrutura das ruas é associada à pouca iluminação. Quem mora nessas ruas estreitas e de difícil acesso diz que não é fácil viver 'no olho do furacão'.
A dona de casa Maria Silva (fictício) é uma dessas pessoas. Residente na comunidade do Citex há 25 anos, ela diz que é preciso saber o que dizer e por onde andar para sobreviver no local. “O perigo é constante, vivemos com medo”, revelou. Na última terça-feira, ela disse que o clima foi de terror no local, pois todos sabiam que teria tiroteio. Às vezes, os envolvidos nas facções anunciam as disputas, mas por vezes elas são de surpresa. Por conta de todos esses riscos, ela pediu demissão do seu emprego há sete meses. Segundo ela, foi por um único motivo: medo. “Eu saía de casa muito cedo e voltava muito tarde. Não tenho confiança mais de andar por aqui tão tarde. Aqui nós somos esquecidos, honestamente a gente só tá sendo lembrado por causa desses eventos que estão acontecendo”, comentou.
Segundo a moradora, o último tiroteio aconteceu na última terça-feira e foi anunciado. Na escola de sua filha e em toda a comunidade, o 'toque de recolher' colocou as famílias para dentro de suas casas. “Na terça-feira teve um tiroteio aí avisaram na escola e liberaram as turmas. É todo mundo dentro de casa, muito mal a gente vê os vizinhos. Andamos sempre com muito medo”, disse, revelando que com a presença da polícia as coisas estão mudando. “Essa semana a polícia está mais presente, era o que a gente estava precisando. Estamos ficando mais tranquilos”, garantiu.
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