VIDA URBANA
Facilidade faz da web, vício
Pesquisas apontam a internet como um vício novo e cada vez mais perigoso e comum pela facilidade de acesso.
Publicado em 11/03/2012 às 18:18
A internet é uma realidade disponível, hoje, à maioria dos brasileiros. Nesse contexto, as redes sociais vêm ganhando preferência – às vezes, de maneira excessiva e até viciosa - nos acessos. Para se ter ideia do alcance da rede, em qualquer ambiente (domicílio, trabalho, escola, lan houses), ela atingiu o patamar de 77,8 milhões de pessoas ‘conectadas’ no 2º trimestre de 2011 no Brasil, segundo a última pesquisa Ibope Nielsen Online, que citou o uso das redes sociais.
Também conforme o estudo, desse total de internautas, em agosto de 2011, 30,9 milhões eram usuários únicos do Facebook, enquanto 29 milhões o eram do Orkut. O microblog Twitter também manteve tendência de crescimento no Brasil e, em agosto, marcou 14,2 milhões de usuários únicos.
O Ibope ainda verificou que nesse período, em média, cada usuário brasileiro de redes sociais conectou-se a esses sites por 7 horas e 14 minutos mês. Um tempo considerado ‘normal’, mas que não tem sido padrão para muitos. Assim como outras dependências, a internet tem se apresentado como um vício bem perigoso e cada vez mais comum pela facilidade de acesso.
“O comportamento de vício sempre existiu na sociedade.
Atualmente, ele vem se desviando também para a rede mundial de computadores”, comentou o psicólogo e pesquisador de dependência de internet, Glauco Barbosa de Araújo.
Ele destacou que a internet é muito atrativa - com um leque de opções: jogos, sexo, vídeos, notícias - e as pessoas têm se vinculado a ela, tornando isso um hábito que vai ficando cada vez mais grave, até virar um vício.
“Existem alterações químicas que provocam o vício. O cérebro libera substâncias que dão a sensação de prazer enquanto a pessoa está usando a internet em excesso. Então cria-se essa ideia associada ao uso e a pessoa se conecta para sentir prazer. Quando sai, a sensação vai embora e então a pessoa volta ao computador para sentir novamente prazer. É um ciclo vicioso”, alertou Glauco, lembrando que essa dependência é perigosa.
O cérebro do indivíduo passa a estar sempre vinculado à rede mundial de computadores e toda a rotina dele é afetada – inclusive estudos e trabalho. Além disso, ele ainda pode ter reações agressivas, durante a abstinência, entre outras mudanças de comportamento inesperadas.
A estudante Nayara Cristina Araújo, 17, chega a passar dez horas seguidas na internet e está entre as brasileiras que não consegue mais imaginar sua vida sem internet. “Pelo menos uma vez por dia, eu tenho que entrar”, diz.
Segundo ela, o que mais a atrai na rede é a possibilidade de ficar sempre bem informada. “Eu gosto muito de fotografia, de música, e nas redes sociais fico por dentro disso. Posso olhar fotos dos colegas e ver as novas músicas que são lançadas”, contou a estudante, revelando ainda que às vezes deixa até de almoçar enquanto está conectada - mas não chega a abdicar dos compromissos fora de casa.
“Mas se eu sair de casa e puder ficar conectada, eu uso o celular.
Estou sempre twittando e postando algo no Facebook”, comentou, confessando que chegou, em um certo período, a ficar um mês sem internet e se sentiu bem aperreada.
“As pessoas disseram que eu fiquei mais ansiosa, não conseguia esperar nada”, disse ela, comentando que não sabe se as redes já viraram um vício. “Às vezes eu acho que estou viciada, outras não”, completou.
Perfil dos ‘viciados’
Conforme Glauco Barbosa, vários fatores emocionais podem estar ligados ao exagero de acesso à rede. Pessoas com dificuldades em relacionamentos, com estado de depressão ou outros comportamentos negativos estão entre os perfis que usam as redes sociais como escape.
“Na internet você pode ser impessoal, se comunicar sem se identificar. Pode ser outra pessoa, mais nova, mais velha, mais forte. Pode ser quem quiser e as pessoas não vão saber disso”, frisou.
“Pessoas que não têm habilidade na conversa, não conseguem interagir bem no trabalho ou na escola, buscam a internet para se sentir mais seguras. As redes sociais disponibilizam o contato imediato e as pessoas, cada vez mais, estão precisando disso”, avaliou.
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