VIDA URBANA
Falta de saneamento faz paraibano adoecer
A cada 100 mil pessoas, 362 foram internadas em 2013 por causa de más condições sanitárias.
Publicado em 20/06/2015 às 6:00 | Atualizado em 07/02/2024 às 17:24
A cada 100 mil paraibanos, 362 foram internados em 2013 acometidos por doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado. A informação é da pesquisa Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (IDS), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). O estudo traz um panorama de informações necessárias ao conhecimento da realidade do país nas dimensões ambiental, social, econômica e institucional.
Conforme a pesquisa, do total de internações por conta de más condições sanitárias, 315,9 a cada 100 mil tiveram como condições motivadoras doenças de transmissão feco-oral; 45,4 doenças transmitidas por inseto vetor; 0,4 gel-helmintos e teníases; e 0,3 doenças transmitidas por contato com a água.
Em todo o país, as internações por doenças relacionadas à falta de saneamento ambiental diminuíram e ficaram com índices inferiores aos da Paraíba. Em 2000, havia 326,1 internações a cada 100 mil habitantes enquanto em 2013 o número caiu para 202,6 a cada 100 mil. Em todo o país, a região Nordeste foi a que apresentou o maior índice de internações devido a doenças relacionadas às más condições sanitárias. Foram 364,4 pessoas internadas por esse motivo.
Esse foi o caso da dona de casa Carla Cristina, 31 anos, moradora da Comunidade do 'S', em João Pessoa. Ela é avó de uma criança de 1 anos e 6 meses e mãe de uma adolescente de 16 anos. “Aqui quando a maré sobe, o esgoto entra nas casas. Minha neta vive com coceira pelo corpo por conta dos mosquitos e minha filha já teve diarréias e foi internada. Tiveram doenças por conta do esgoto e lama”, relatou.
Mãe de seis filhos, a dona de casa Luciana Floriano,38 anos, explica que por conta do esgoto muitos insetos entram dentro de casa. “Rato, barata, mosquito. Já fui parar muitas vezes no hospital com vômito e diarréia. Um vizinho morreu da doença do rato”, lamentou.
De acordo com o estudo, algo favorável para o desenvolvimento dessas doenças é a inexistência de saneamento básico. Na Paraíba, apenas 30% dos domicílios localizados na zona rural do Estado possuem esgotamento sanitário adequado contra pouco mais de 80% dos domicílios urbanos com esgotamento sanitário adequado. Ainda nesse sentido, do total de domicílios do Estado, apenas 56,2% estavam adequados para moradia, enquanto os demais 43,8 estão inadequados.
A pesquisa considera inadequados os domicílios em que pelo menos um dos pré-requisitos não eram atendidos: até dois moradores por dormitório, existência de rede geral de esgoto ou fossa séptica, coleta de lixo direta ou indireta e rede geral de água. A maior deficiência, segundo o órgão, é o atendimento por rede de esgoto.
Para a clínica geral Gerlane de Farias, dentre as doenças que podem ser transmitidas por esses vetores estão as parasitoses, a hepatite do tipo A, infecções bacterianas por alimentos contaminados além de febre tifoide e doenças virais como dengue e febre amarela.
INFRAESTRUTURA, CAGEPA E SAÚDE
De acordo com a Secretaria de Infraestrutura, dos Recursos Hídricos, do Meio Ambiente e da Ciência e Tecnologia (Seirhmact), o sistema de esgotamento sanitário está sendo ampliado em 11 municípios da Paraíba. Ao todo, serão 55 municípios paraibanos que estão situados nas margens dos rios ou bacias receptoras do Rio São Francisco e que vão receber obras de esgotamento sanitário.
Procurada pela reportagem, a Cagepa revelou que junto ao governo, estão sendo desenvolvidas diversas obras. Só em João Pessoa, onde já há uma cobertura de 70% de rede coletora de esgotos, estão sendo investidos R$ 76 milhões em vários bairros. Ainda em relação à capital, a Cagepa está concluindo um projeto que visa universalizar o serviço. Com relação a Campina Grande, a cidade possui hoje quase 90% de cobertura. Cidades como Lucena e Cabedelo chegarão até o final de 2018 a 100%.
A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Estado da Saúde, através da assessoria de comunicação, porém até o fechamento desta edição não obtive respostas.
Análise da notìcia Por: George Cunha - Engenheiro sanitarista
"É evidente que esses vetores ambientais que causam doenças de veiculação hídrica são ligados à falta de esgotamento sanitário e isso é preocupante. Faltam sistemas adequados não só de coleta, mas também de tratamento dos nossos esgotos. João Pessoa, por exemplo, tem 50% da cidade com esgotamento sanitário enquanto Campina Grande tem 80%. Por outro lado, cidades do interior têm 30% ou até mesmo não têm esgotamento sanitário".
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