VIDA URBANA
IBGE faz 'raio X' de João Pessoa
Estudo mostra quais são os bairros da capital mais carentes de esgotamento sanitário e os que têm o menor rendimento.
Publicado em 22/12/2013 às 10:00 | Atualizado em 12/05/2023 às 14:36
Os três filhos pequenos de Josilena dos Santos Rodrigues são proibidos de brincar na frente de casa com outras crianças da rua. O motivo, segundo a dona de casa, é o esgoto que corre a céu aberto na rua Cícero Gregório de Lacerda, na Cidade dos Colibris, em João Pessoa.
O mau cheiro e o risco de contrair doenças deixa a dona de casa preocupada com os filhos. A falta de esgotamento sanitário na localidade é o segundo pior da cidade. Quem lidera o ranking negativo é o Portal do Sol, localizado em área nobre da cidade.
No Colibris, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de esgotamento sanitário é de 1,35%. Os moradores do bairro reclamam da situação precária.
“É um absurdo. Meu sonho é que façam o saneamento básico para que meus filhos possam andar de bicicleta e brincar com outras crianças aqui na rua”, frisou Josilena. Segundo ela, há dias que o mau cheiro do esgoto é insuportável e atrapalha, inclusive, o momento das refeições.
Duas ruas depois, a reportagem conversou com a comerciante Marlene Euzébio da Silva, que também se queixa da falta de saneamento no bairro.
“Moro há 19 anos nessa rua e quando cheguei, o problema já existia. Ouvi muitas promessas de políticos ao longo desse tempo, mas nada é resolvido. Só quem mora aqui sabe quanto é ruim ter um esgoto a céu aberto na porta de casa. É um absurdo, pagamos nossos impostos para termos uma qualidade de vida melhor, mas infelizmente a realidade é outra”, declarou.
No Portal do Sol, próximo ao Altiplano Cabo Branco, o luxo das mansões recém-construídas contrasta com a falta de saneamento básico.
Segundo o IBGE, o índice no bairro é de apenas 1,06%, o pior de João Pessoa. Na lista dos cinco mais deficientes entram também o Distrito Industrial, Planalto da Boa Esperança e Muçumagro, esses dois últimos no Valentina Figueiredo.
As melhores condições em saneamento básico são encontradas nos bairros de Anatólia, João Agripino, Estados, Expedicionários e Brisamar.
Por meio da assessoria de imprensa, a Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa) informou que, no Portal do Sol, a obra de implantação do sistema de esgotos já foi licitada e encontra-se em fase de contratação do projeto.
A obra, ainda segundo a Cagepa, está incluída no plano de universalização de cobertura de esgotamento sanitário da capital, programada pelo Governo do Estado.
Sobre os baixos índices de saneamento básico no Colibris (José Américo), Planalto da Boa Esperança e Muçumagro (ambos no Valentina Figueiredo), a obra de implantação do sistema de esgotamento sanitário encontra-se em andamento, segundo a Cagepa. Já no Distrito Industrial, a Cagepa opera rede de esgotamento sanitário doméstico.
Sobre a situação do Altiplano, que apesar de ser um bairro nobre só possui 8,36% de cobertura de esgotamento sanitário, a Cagepa explicou que ainda este mês a localidade passará a contar com 100% de atendimento por esgotamento sanitário, tendo em vista a conclusão das obras que estão sendo executadas no bairro.
Por fim, a Cagepa ressaltou que a capital conta com 66% de cobertura de esgotos e que ao término das obras que estão em andamento, previsto para dezembro de 2014, o percentual subirá para 85%.
PIORES BAIRROS EM RENDIMENTO
Aos 60 anos, Maria Sebastiana de Luna tenta driblar as dificuldades financeiras para sobreviver com o filho, em uma comunidade carente do Grotão, um dos bairros mais pobres da capital, segundo o IBGE.
Sebastiana tem um problema de saúde que a impede de trabalhar e a renda da casa se resume aos R$ 70,00 de um programa do Governo Federal. A idosa mora com o filho em um casebre de dois cômodos, em uma rua sem calçamento nem esgotamento sanitário.
Além da pobreza, Sebastiana também entra em outra estatística: a dos analfabetos. Ela nunca frequentou uma sala de aula e não sabe, sequer, assinar o próprio nome. As refeições são sempre incertas. Para pagar o aluguel de R$150,00, ela depende da boa vontade de vizinhos e familiares, mas quando esses não podem ajudá-la, ela sai às ruas, na esperança que desconhecidos se disponham a dar algum dinheiro.
Na mesma comunidade, outras pessoas passam por situação semelhante. Alguns, no entanto, trabalham, recebem um salário mínimo, mas não conseguem comprar tudo que precisam. “Infelizmente, por aqui muitas pessoas passam necessidades, não têm condições de sobreviver com dignidade”, afirmou a dona de casa Eliete Costa.
O bairro do Grotão está entre os cinco piores em rendimento, ficando atrás apenas do bairro São José. No Padre Zé, Ilha do Bispo e Distrito Industrial, segundo o IBGE, a situação é parecida. O rendimento médio mensal no São José é de R$469,63; no Grotão de R$525,21; no Padre Zé R$539,65; na Ilha do Bispo R$540,66; e no Distrito Industrial R$554,98.
A secretária de Desenvolvimento Social de João Pessoa, Marta Geruza Gomes, disse que a prefeitura tem várias ações nas áreas de vulnerabilidade social (que inclui, portanto, os bairros mais pobres). No início do próximo ano será dada a ordem de serviço para a construção de um Centro de Referência de Assistência Social (Cras), o que vai ajudar pessoas em situação de miserabilidade, como dona Sebastiana.
No São José, segundo a secretária, será iniciado no próximo ano o processo de reurbanização do local, o que vai permitir uma realidade mais digna aos moradores da localidade, que sofrem com a pobreza e a violência. “A prefeitura tem muitas ações nesse sentido. Nosso parâmetro é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que está ligado diretamente aos números da pobreza”, declarou.
'ESTADOS' TEM MAIORIA DE IDOSOS
Aos 72 anos, seu Juvenal Santos passa boa parte do tempo assistindo televisão, brincando com os netos ou, no final da tarde, conversando com os vizinhos na calçada. Há 40 anos ele mora no Bairro dos Estados, localizado entre a praia e o Centro, e que tem o maior percentual de idosos de João Pessoa. Seu Juvenal entra nessa estatística.
Quando decidiu comprar a casa no Bairro dos Estados, ele levou em conta a tranquilidade e a proximidade com o Centro e a praia. Seu Juvenal não sabe, mas o local onde ele mora também é um com os melhores índices de saneamento básico e o 8º melhor em rendimento, com R$3.101,19. O bairro possui 7.458 habitantes, sendo a maioria mulheres.
Segundo o IBGE, 21,7% da população residente no Bairro dos Estados tem mais de 60 anos de idade. Situação parecida acontece com o João Agripino, Centro, Cabo Branco e Pedro Gondim.
Jaguaribe, conhecido também pela longevidade dos moradores, ocupa a sexta posição no levantamento do IBGE. Por outro lado, o menor número de idosos é encontrado nos bairros do Costa do Sol, Gramame, Cidade dos Colibris, Paratibe e Cuiá.
A secretária de Desenvolvimento Social de João Pessoa, Marta Gomes, disse que a prefeitura, através do Programa de Apoio à Pessoa Idosa, oferece assistência a cerca de 2,6 mil idosos residentes na capital. Uma casa de acolhida está em processo de aquisição pela prefeitura, para acolher idosos em situação de vulnerabilidade social e de violência.
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