Idosos resgatam autonomia ao 'mergulhar' no mundo digital

Lidar com o novo é sempre algo desafiador, mas quando se tem perseverança os obstáculos passam a ser enfrentados com uma nova perspectiva. E é com essa premissa que o aposentado Alcio Magalhães Aguiar, 74 anos, tem buscado se inserir no mundo digital, mostrando que a idade não é limite para quem tem vontade de aprender. Ele é um dos cerca de 20 alunos que participam do Curso de Informática Básica para Maturidade do Núcleo de Tecnologia Municipal (NTM), da Secretaria Municipal de Educação (Seduc), em Campina Grande. De acordo com a coordenação do projeto, esse tipo de iniciativa tem ajudado a resgatar a autonomia dos idosos.

“Eu desejei fazer esse curso porque há muito que eu já tinha vontade de aprender a mexer com essas coisas. Em todos os lugares que chego só vejo o povo falando em internet e eu não sabia era de nada. Comecei a ter as aulas e fiquei com a certeza de que eu poderia aprender. Esse curso é muito bom e eu estou adorando fazer parte dele. Aqui a gente conversa, se diverte e aprende”, comentou Alcio. Orgulhoso de já saber manusear algumas ferramentas no computador, ele conta que antes de participar do curso não sabia sequer ligar o equipamento, mas agora consegue também transcrever alguns dos poemas que ele mesmo cria, o que é um dos seus passatempos favoritos.

Alcio mora no distrito de São José da Mata e trabalhava com manutenção de ar condicionados antes de se aposentar. O pouco tempo que lhe sobrava para o lazer acabava não sendo direcionado para mexer com as ferramentas ligadas ao computador, embora a vontade de aprender a lidar com isso fosse muito grande. Agora, já viúvo e afastado do trabalho, ele, que mora só, encontrou no curso de informática uma maneira de continuar ativo e afastado da solidão. Ele revela que aos poucos está descobrindo as infinitas possibilidades que a inserção no mundo digital estão proporcionando para a sua vida.

Para a coordenadora do Núcleo de Tecnologia Municipal, Antônia Oliveira, as pessoas que se envolvem com o curso de informática, não aprendem simplesmente a utilizar o computador como também passam a ter novas perspectivas. “Esse curso é diversificado e voltado àqueles que para muitas pessoas já não são capazes de aprender. Com ele mostramos que na realidade não existe idade para quem quer viver algo novo. Além disso, tem também a questão de que aqui os nossos alunos estão sempre interagindo com outras pessoas. Eles chegam querendo aprender a fazer coisas simples como usar o Facebook e passar um e-mail ou até mesmo para fugir da solidão”, explicou.

A professora do curso, Sonaly Barros, pontuou que esses alunos têm um diferencial porque chegam para assistir aulas com uma ânsia muito grande de aprender e de encarar novos desafios, de modo que acabam transferindo para ela a mesma sensação. “Têm alguns que vem como uma fuga da realidade, que é a solidão que eles sentem em casa ou até mesmo o fato da família não ter paciência de ensinar quando eles querem fazer algo. No final das contas, eu aprendo mais do que eu ensino”, concluiu.

Como funciona o Curso

As aulas do Curso de Informática Básica para Maturidade do Núcleo de Tecnologia Municipal (NTM), da Secretaria Municipal de Educação (Seduc), são ministradas às quintas-feiras, nos turnos da manhã e tarde, no Centro de Ciência e Tecnologia, às margens do Açude Novo. Cada curso tem a duração de quatro meses e no período da manhã é direcionado para os idosos encaminhados pela Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas), enquanto que à tarde é voltado para alunos da comunidade em geral. Os cursos mantém dez alunos por turma.
As inscrições para o próximo semestre já estão abertas.

Análise da Notícia

Por: Elianne Madza de Almeida, professora de psicologia da Faculdade Maurício de Nassau, em Campina Grande

Aulas de informática na terceira idade estimulam a inclusão social do idoso e oferecem recursos de atualização, acesso a informações, momentos de distração e ampliam sua rede de relacionamentos, uma vez que essas aulas ocorrem geralmente em grupos. Além disso, o manejo com computadores, por meio de atividades variadas, favorece a ativação cerebral, ampliando e mantendo a capacidade de memória, raciocínio e criatividade. Todos esses elementos contribuem para a melhoria de sua qualidade de vida, seu bem-estar e, consequentemente, sua autoestima.

A inclusão digital na terceira idade, assim como em qualquer outra fase da vida, deve ser incentivada paralelamente a outras experiências. É preciso ter em mente que a comunicação virtual não substitui os encontros presenciais e os jogos em rede não substituem o exercício físico nem o contato com a natureza. Embora o computador coloque em movimento as atividades cognitivas e ocupe o tempo ocioso, é necessário investimento em atividades de leitura, de exercício e de contato físico com outras pessoas, além de passeios, trabalhos manuais e entretenimento em geral. Sem essa associação de atividades, o uso do computador - e de outras ferramentas tecnológicas - pode levar ao isolamento social e ao consequente comprometimento de sua saúde mental.