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VIDA URBANA

Idosos têm direitos violados

Apenas no primeiro mês deste ano, a Delegacia de Proteção ao Idoso, recebeu 174 queixas de violações de direitos.

Publicado em 06/02/2014 às 6:00 | Atualizado em 10/01/2024 às 16:14

De 1º a 30 de janeiro, 174 pessoas procuraram a Delegacia de Proteção ao Idoso, no Centro de João Pessoa, para prestar queixas pela violação de direitos. De acordo com o delegado plantonista Marcelo Falcone, a maioria dos casos refere-se a abusos financeiros, negligência, violência psicológica, além dos casos de maus-tratos em cuidados básicos, como alimentação, falta de atendimento médico e medicação, e também abandono.

“Cerca de 90% dos crimes cometidos contra idosos ocorrem dentro de casa, por membros de sua própria família, sendo o cartão de benefícios deles o objeto de maior desejo por parte dos agressores. Mas já nos deparamos com todos os tipos possíveis de crimes que possam ser cometidos contra um ser humano. O difícil muitas vezes, é que como agressor e vítima possuem laços familiares que não se desfazem jamais, uma vez aqui na delegacia, pais, mães e avós não permitem que seus filhos e netos respondam pelos crimes que cometeram contra eles, muitas vezes pagando a fiança estipulada”, afirmou.

Em 2013, a Delegacia de Proteção ao Idoso da capital instaurou 167 inquéritos para apuração desses crimes, recomendando muitas vezes a prisão dos criminosos ou o afastamento deles da residência dos idosos. No entanto, os casos de abandono da pessoa idosa pelos familiares configuram-se como os casos de maior destaque citados pela equipe da delegacia.

O delegado lembrou de um caso emblemático ocorrido em 2012, quando uma idosa foi resgatada da casa onde morava em Mangabeira, em condições subumanas. “Ela estava há muito tempo trancada, sem acesso a água e aos medicamentos que precisava, e já estava comendo a espuma do colchão onde dormia. Foi doloroso ver uma situação como essa. Acionamos o Ministério Público e a encaminhamos para um abrigo, enquanto investigávamos o passado dela em busca de alguém que pudesse ser responsabilizado pelo que foi feito a ela”, lembrou Marcelo Falcone.

Ausente das estatísticas da Delegacia do Idoso e vivendo há 13 anos no abrigo está o senhor de 70 anos, que não terá o nome revelado para preservar sua identidade. Um exemplo do abandono, ele morava sozinho em um pequeno terreno próximo à Escola de Serviço Público do Estado da Paraíba (Espep), em Mangabeira, trabalhava como auxiliar de limpeza, sem contato com nenhum de seus 12 irmãos, até que sofreu um atropelamento na Avenida Josefa Taveira, onde perdeu a visão. Internado do Hospital de Trauma da capital, sem documento ele foi ajudado por um casal que o socorreu no momento do acidente e levado para o abrigo, onde vive até hoje.

“Eu antes me considerava feliz porque tinha saúde e isso bastava. Hoje sou feliz porque tenho amigos aqui. Meus fins de semana são bastante animados com a chegada das visitas dos voluntários e passo meus dias conversando com as outras pessoas daqui. Não quero sair daqui de jeito nenhum”, contou sorrindo após o almoço na instituição.

CASOS ENVOLVENDO UNIÕES AFETIVAS

Tendo a questão financeira como principal responsável pelos crimes cometidos contra idosos, o delegado Marcelo Falcone lembrou que são comuns os casos em que idosos se unem afetivamente com mulheres muito mais jovens e que posteriormente buscam a polícia para reaver bens e dinheiro tomados por elas.

Um desses casos foi registrado recentemente, quando o delegado convocou um casal onde o esposo era 30 anos mais velho que a esposa e que reclamava de estar sofrendo agressões psicológicas pela companheira e os filhos dela. “Em casos como esse buscamos o diálogo e apresentar a ambas as partes os direitos e sanções que cada um pode sofrer. Como ele não demonstrou interesse em deixá-la, explicamos quais eram as obrigações dela para com ele, com relação à movimentação financeira dos recursos dele e os liberamos”, contou o delegado.

Outro caso de violação de direito dos idosos foi o de uma dona de casa de 61 anos, que compareceu à delegacia para solicitar que a polícia retirasse seu ex-marido, de 51 anos, da casa onde morava, no bairro do Róger e da qual ela foi expulsa.

“Ele era um bom marido. Com ele tive cinco filhos e já estávamos juntos há mais de 20 anos quando ele se 'engraçou' por uma mulher de 30 anos e teve durante um ano um caso com ela, levando-a a morar em um quartinho na parte de cima da minha casa. Até que no final do ano passado, ele me bateu, me ameaçou com um faca e tive que sair da minha casinha.

Hoje moro de aluguel em uma pequena vila, enquanto ele mora na minha casa com essa mulher. Vim pedir que a polícia me ajude a reaver o que é meu”, informou tristonha e muito abalada a dona de casa, que no momento da denúncia contava apenas com o apoio de uma neta.

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Jornal da Paraíba

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