VIDA URBANA
Indisponibilidade de água está entre os desafios enfrentados por CG
Situada a 551 metros acima do nível do mar, Campina só conta com o curso de riachos, o que é considerado um entrave para seu desenvolvimento.
Publicado em 11/10/2015 às 11:30
Campina Grande, a cidade da inovação, das grandes ideias colocadas em prática e do pioneirismo, é também uma cidade que amarga um desafio que há mais de 150 anos não consegue superar: a indisponibilidade de água. Por estar situada a 551 metros acima do nível do mar, no Planalto da Borborema, Campina só conta com o curso de riachos e essa realidade hidrológica sempre foi apontada por muitos como um dos entraves para o desenvolvimento da cidade. Pauta recorrente nos dias atuais, assim como já foi em décadas anteriores, não foram poucas as tentativas realizadas para se garantir o abastecimento de Campina diante dos prolongados períodos de estiagem que, de tempos em tempos, corrói as esperanças e muda a rotina dos moradores da cidade.
Em livro póstumo lançado recentemente, o professor Stenio Lopes já sintetizava a saga da Rainha da Borborema em uma pequena sentença: “A água, sempre a água...”. De quando a cidade começou a se desenvolver até os dias de hoje, esse parece ser um desafio incapaz de superarmos, notável pela lista de reservatórios a que já recorremos em busca do precioso líquido.
“A gente sempre vive em crises por causa da indisponibilidade de água e sempre procuramos a mesma solução: aumentar a oferta. Fizemos isso ao construir o açude Velho, em 1828, dois anos depois, o açude Novo, também construímos o açude de Bodocongó. Sendo insuficiente, partimos para buscar água em Puxinanã; anos mais tarde no açude Vaca Brava, em Areia, e a crise novamente chegou. A água ainda não foi suficiente, e então foi construído o açude de Boqueirão, em 1957, mas o fantasma da falta de água sempre aparece, porque essa é a realidade do semiárido”, relatou o professor e geógrafo Franklyn Barbosa de Brito.
Açude de Bodocongó foi um dos recursos usados para driblar indisponibilidade de água. (Foto: Junot Lacet Filho)
Segundo Franklyn, esse histórico de tentativas mostra que a solução não é aumentar a oferta, e sim gerir o recurso da forma adequada, coisa que não foi feita porque, de acordo com ele, sofremos de uma ‘amnésia de inverno’. “Quando chove, as chuvas afogam os problemas e achamos que estamos vivendo em um oásis”, critica o professor. Nos 58 anos desde a sua inauguração, em 1957, o açude Epitácio Pessoa sangrou 12 vezes, a última delas, em 2011. De lá até aqui, Campina Grande já passou por três severos racionamentos, o mais crítico deles foi em 1999, quando o reservatório chegou ao menor volume da história, 14,9%. Entretanto, essa crise parece não ter sido pedagógica e mais uma vez, estamos diante do mesmo problema, e em proporções ainda maiores.
Há décadas se debruçando sobre o tema, o professor da Universidade Federal de Campina Grande e especialista em engenharia de Recursos Hídricos, Janiro Costa Rêgo, foi enfático na seguinte sentença: “Se hoje nós enfrentamos problemas é porque a gestão não foi feita, ou foi feita de forma inadequada e ineficiente. A água que se dispõe e o uso que fazemos dela tem que ser bem administrado de acordo com as prioridades, e a principal delas, é o abastecimento humano das populações”.
Conforme o especialista, esse panorama está traçado na Lei das Águas do Brasil, mas não é posto em prática. “Gerir adequadamente um manancial inclui o controle das demandas urbanas, evitando consumo excessivo, a limitação da irrigação, o controle da construção de novos reservatórios, além do monitoramento adequado da bacia hidrográfica, do reservatório e do uso da água”, pontuou, ao complementar que essa é a única solução capaz de evitar as sucessivas crises de abastecimento em Campina Grande.
Futuro de CG depende da transposição e da conclusão da barragem de Camará
Para o gerente regional da Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa), Simão Barbosa, toda a atenção foi dada à rede de abastecimento de Campina Grande, mas o aumento da população e das cidades abastecidas pelo manancial geraram um estrangulamento da capacidade do açude que só será solucionada com a conclusão das obras da transposição do rio São Francisco e também da barragem de Camará, que voltará a abastecer a região do Brejo.
“A transposição vai chegar ao açude Poções, em Monteiro, e vai encontrar toda a estrutura de adutoras e de sistemas interligados. É necessário planejamento, o reforço na rede de abastecimento de Campina Grande está sendo feito e assim poderemos dizer que vamos ter uma autonomia hídrica. Além disso, a conclusão da barragem de Camará e sua posterior recarga de água vai desafogar o sistema e aliviar açude de Boqueirão, equilibrando o consumo de Campina Grande e das demais cidades”, apontou o gerente.
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