VIDA URBANA
Mamógrafo subutilizado
Com capacidade para realizar até mil mamografias por mês, apenas 60% desse total vem sendo oferecido pelo Hospital Napoleão Laureano.
Publicado em 14/09/2012 às 6:00
Um serviço fundamental para a saúde da mulher não está sendo devidamente usufruído em João Pessoa. O Hospital Napoleão Laureano – referência no tratamento de câncer na Paraíba – está capacitado para oferecer até mil mamografias por mês, mas apenas 60% desse total está sendo realizado. A direção do setor de diagnóstico acredita que o problema esteja ocorrendo no sistema de marcações de exames. O câncer de mama foi responsável pela morte de 683 mulheres na Paraíba nos últimos quatro anos e é o segundo tipo de neoplasia maligna mais frequente no mundo, respondendo por 22% dos casos novos a cada ano.
De acordo com o último censo demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem na capital aproximadamente 61 mil mulheres com idade entre 40 e 59 anos. Essa é a faixa etária de maior incidência do câncer de mama onde foram identificados 43% dos óbitos registrados na Paraíba nos últimos quatro anos. Em vigor desde 29 de abril de 2009, a Lei 11.664/2008 estabelece que todas as mulheres têm direito à mamografia a partir dos 40 anos por ser este o exame que permite a detecção precoce do câncer, ao mostrar lesões em fase inicial, muito pequenas (medindo milímetros).
No sistema público de saúde de João Pessoa, a mamografia é solicitada pelo médico na Unidade de Saúde da Família e o paciente é encaminhado ao setor de regulação do Sistema Único de Saúde (SUS), onde é feita a marcação do exame. Existem na cidade cinco locais, entre públicos e privados credenciados ao município, habilitados para o serviço. O Hospital Napoleão Laureano é o centro mais avançado em qualidade no Estado, operando dois mamógrafos e trabalhando com quatro técnicos especialistas em dois expedientes.
O chefe do Centro de Diagnóstico por Imagem (CDI) do hospital, Ozias Arruda Neto, relata com estranheza o que tem sido detectado nos últimos seis meses. “Trabalho em uma clínica privada e escuto muitas queixas de pacientes que se dizem obrigadas a recorrer ao serviço particular porque a demora para marcar um exame pelo SUS é de até três meses. Fico chocado com isso, pois sei que no Hospital Laureano estão sobrando vagas”. O médico relata que, desde que foi instalado o novo mamógrafo em fevereiro, o CDI está capacitado para oferecer até mil exames mensais, meta esta que nunca foi atingida. “A média é atender entre 600 e 700 pessoas, mas já houve mês de atendermos só 50% da capacidade total”, informa.
Ozias Arruda afirma que já procurou obter informações junto à Secretaria de Estado de Saúde (SES) para saber o que pode estar dificultando o acesso de pacientes ao serviço. “Levantei esta questão junto à Secretaria, pedindo que verificassem que tipo de falha pode estar ocorrendo no setor de marcação de exames, mas até agora a situação continua a mesma. É inaceitável que isso prossiga, pois temos um equipamento de ótima qualidade e técnicos qualificados sendo mal aproveitados enquanto sabemos que há pessoas necessitadas”, declara o chefe do CDI.
A dificuldade para marcar exames fez com que a empregada doméstica Maria do Carmo de Melo se descuidasse da saúde.
Há quatro anos ela não realiza uma mamografia. “Eu sei que é um exame importante, que precisa ser feito todo ano, mas sempre que eu ia marcar era avisada de que só teria vaga disponível depois de meses. Com isso eu ia sempre adiando, deixando para depois. Na última vez, paguei para fazer o exame e isso já faz mais de quatro anos”, revela Maria do Carmo, que tem 47 anos e está na faixa etária de risco.
Para a mastologista Joana Marisa de Barros, uma das médicas que trabalham no CDI, o que está acontecendo na capital é uma anomalia. “Sabemos que a demanda por mamografias é muito grande e é simplesmente inacreditável que sobrem tantas vagas no Hospital Napoleão Laureano. Uma análise rápida sugere que estão faltando pacientes, mas quem conhece a prática sabe que isso não corresponde à realidade. Em síntese, temo um serviço de última geração sendo oferecido que não chega ao povo por causa da burocracia”, denuncia a médica, que é uma das coordenadoras da ONG Amigos do Peito.
Com o intuito de investigar o que pode estar causando a incompatibilidade entre demanda e o serviço efetivamente oferecido no Hospital Napoleão Laureano, Joana Marisa de Barros encaminhou uma denúncia ao Ministério Público da Paraíba (MPPB) em nome da ONG Amigos do Peito pedindo que o caso seja explicado. A ação foi protocolada na última semana e deverá ser apreciada pelo Promotor da Saúde Flávio Wanderley da Nóbrega em breve.
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