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VIDA URBANA

Orla de João Pessoa se torna território de assaltos a qualquer hora

Problema vem impedindo o o lazer das famílias no Busto de Tamandaré, Praça de Iemanjá e no final do Retão de Manaíra.

Publicado em 25/10/2015 às 8:15

Final de tarde na praia do Cabo Branco. Dois rapazes surgem repentinamente e atravessam a rua em direção à equipe de reportagem do JORNAL DA PARAÍBA. Um deles mantém o olhar fixo na câmera que está nas mãos do fotógrafo. São minutos de tensão que parecem anteceder um assalto, mas a dupla passa direto para a Praça de Iemanjá, onde instantes depois consomem drogas em plena luz do dia. A situação vivenciada pela reportagem virou rotina nas praias de João Pessoa, as mesmas vendidas nos cartões postais para os turistas. No entanto, a falta de Boletins de Ocorrência (BO) tornam os crimes invisíveis para a polícia, que atua com estatísticas oficiais.

O problema silenciado pelas autoridades vem impedindo ou limitando o lazer das famílias e a prática de atividades físicas. Em pelo menos três pontos das praias de João Pessoa – Busto de Tamandaré, Praça de Iemanjá e no final do Retão de Manaíra – os relatos de assaltos têm se multiplicado nas redes sociais, conforme levantamento extraoficial do JORNAL DA PARAÍBA.

Segundo as vítimas, os assaltos ocorrem a qualquer hora do dia. Em muitos casos, quem comete os roubos são rapazes que aparentam ser adolescentes. Agem sem cerimônia. Chegam 'pedindo' celular e dinheiro. Alguns fingem estar armados. Outros sentam na calçadinha, se aproximam e pedem os objetos, sem alterar a voz. Depois, saem tranquilamente como se não tivessem cometido crimes. Para a população, fica a sensação de insegurança; para as autoridades, o alerta de que alguma coisa precisa ser feita com urgência.

Segundo o comerciante Hildebran Aires, falta policiamento. “A gente ouve muitos relatos de roubos por aqui. Hoje até melhorou um pouco, mas o policiamento ainda é fraco”, afirmou. A reportagem não viu na área a polícia Militar, Civil e Guarda Municipal. O comandante da Guarda, coronel Marcos Marcone, disse que há monitoramento, no entanto eles não foram vistos pela reportagem.

Outros comerciantes reclamam da presença de grupos de adolescentes que costumam 'tocar o terror' na calçadinha.

Praça de Iemanjá vira 'cracolândia'

A arquiteta Rosário Moreira adora pedalar e faz isso diariamente entre Tambaú e Cabo Branco. Temerosa com a insegurança na praia, Rosário deixa celular, dinheiro e joias em casa. O pensamento dela é comum a muitos outros frequentadores das praias da capital: em caso de roubo, o prejuízo financeiro será menor. Contudo, o que preocupa a população não é só a perda dos bens materiais, mas principalmente os danos psicológicos de passar por um assalto. “A gente tem que tomar cuidado, tem que ficar sempre em alerta”, contou.

Rosário estava sentada no calçadão próximo à Praça de Iemanjá, no final do Cabo Branco, quando conversou com a reportagem, na última quarta-feira. A poucos metros dali, jovens consumiam drogas. Segundo comerciantes da área, desde que a praça foi interditada, em consequência do avanço do mar, o local passou a ser usado para o consumo de drogas. A situação incomoda. Um dos comerciantes relatou que é comum ver os jovens – sob efeito das drogas – assaltando pessoas que passam naquela área.

A insegurança que tomou conta da orla da capital também incomoda Jéssica de Luna e seus amigos Luara Wenere e Douglas Lopes, todos adolescentes. O trio estava sentado nas areias da praia de Cabo Branco, próximo ao Busto de Tamandaré, onde a movimentação de pessoas é intensa no final da tarde, mas nem isso garante tranquilidade aos adolescentes.

Jéssica fazia selfie (autorretrato) no momento que a equipe de reportagem se aproximou. Por impulso, escondeu o celular. Em seguida, sorriu aliviada e pediu desculpas. “Vi vocês chegando de repente, tive medo. Vivo sempre com medo”, declarou a estudante. Ela e os amigos confessaram que já ouviram muitos relatos de pessoas assaltadas na praia do Cabo Branco, durante o dia, e temem entrar para as estatísticas que nem sempre condizem com os números oficiais repassados pela polícia.

Para quem carrega o trauma de um assalto, a exemplo de Douglas, o passeio na orla deve ser limitado a determinados horários, e ser feito, preferencialmente, em grupo. Os três adolescentes chegam a lamentar a situação. Enquanto reclamam da insegurança, no Busto de Tamandaré, a reportagem observa a base da Polícia Militar vazia, o que contrasta com a necessidade da população.

Relatos sobre assaltos são contados nas redes sociais. Muitos desabafos são feitos no grupo 'Foi Assaltado JP,' movimento que distribui faixas pela cidade pedindo policiamento e mais segurança. Uma das organizadoras, Deborah Suelda, disse que através dos relatos percebe a aflição dos cidadãos que passam pelo trauma de um assalto. “Os relatos se multiplicam a cada dia e ninguém faz nada”, afirmou. Até a sexta-feira passada o grupo contabilizava cerca de 12 mil pessoas.

Roubos frequentes em Manaíra

Praia de Manaíra. A jornalista Fátima Dantas e uma amiga caminhavam no calçadão, como costumam fazer diariamente no final da tarde. Na direção delas, um jovem joga a bicicleta por cima delas, tira um revólver da cintura e anuncia o assalto. Ainda era claro, segundo as vítimas, mas nada intimidou o jovem que parecia determinado a levar os pertences das mulheres. “Entreguei a aliança e disse que não tinha celular. De repente ele me olha com 'cara de ódio', não consigo esquecer isso”, declarou Fátima.

A amiga da jornalista, já prevendo o risco de caminhar na orla de Manaíra, saiu de casa com o celular escondido na roupa, o que impediu que o ladrão levasse. “Foi tudo muito rápido. Questão de segundos”, disse Fátima. Segundo ela, um idoso passou por eles e também foi abordado. Do homem, o jovem levou o relógio. “Em seguida ele colocou minha aliança na boca e foi embora”, relatou, indignada. Desesperadas, as mulheres encontraram uma viatura e contaram o ocorrido. “Os policiais saíram em busca, mas certamente ele já estava longe”, frisou.

O assalto a Fátima e à amiga dela ocorreu cerca de 30 minutos antes da chegada da equipe de reportagem à praia de Manaíra, onde foi observado um grupo de jovens sentado no calçadão em frente a um shopping center. A todo instante olham para o lado e não se concentram na conversa entre amigos. À reportagem, eles explicaram que o motivo para tal comportamento é a insegurança. O medo de ser assaltado é comum aos cinco jovens que haviam acabado de sair de um curso e aguardavam suas respectivas caronas.

A praia de Manaíra, principalmente na área que fica em frente a um shopping, aparece como um dos pontos mais propícios a assaltos, segundo levantamento extraoficial feito com base em relatos de vítimas de roubos nas redes sociais. O estudante João Pedro Melo, por exemplo, disse que não se arrisca a ficar sozinho no local. “É muito assalto nessa área. Todo dia, toda hora”, afirmou.

O capitão Gleidistone Cavalcanti, que responde pelas praias de Tambaú e Cabo Branco, disse que a partir do momento que a população não procura a polícia (seja a Civil, nas delegacias, ou a Militar) após um roubo, é como se o crime não existisse oficialmente. Segundo ele, os desabafos nas redes sociais não podem, jamais, substituir o documento oficial, com o qual a polícia trabalha e traça as estratégias para a segurança do cidadão.

Polícia orienta fazer registro

Para a polícia, não basta reclamar nas redes sociais após ter sido vítima de um assalto. É preciso procurar uma delegacia e registrar o boletim de ocorrência. O delegado Giovani Giacomelli, titular da 12ª Delegacia Distrital, em Manaíra, explicou que nas últimas semanas não registrou nenhuma queixa de roubo ocorrido ao final do Retão de Manaíra, na área onde os internautas reclamam de assaltos. Com base no que revelam os boletins, a maior frequência desse tipo de crime no bairro aponta para a avenida Flávio Ribeiro Coutinho, conhecida como Retão de Manaíra. O delegado Fernando Klayton, que responde pela 10ª Delegacia Distrital, disse que há registros, mas que eles não chegam com frequência, e informou que desconhece o alto índice de assaltos nas praias.

A Polícia Militar, através da Companhia Especializada de Apoio ao Turista (CEATur), informou que, de acordo com o registro do Centro Integrado de Operações Policiais (Ciop-190), no mês de outubro foram registradas apenas três ocorrências de roubo ou furto nas proximidades do Busto de Tamandaré e da Praça de Iemanjá. Esses são os dados oficiais com os quais a polícia trabalha, por isso a necessidade do registro da ocorrência. Segundo o capitão Gleidistone Cavalcanti, comandante da área, a polícia atua com base nas estatísticas oficiais, que apontam a vulnerabilidade de cada local. A CEATur é responsável pelas praias de Cabo Branco e Tambaú. A PM não enviou resposta sobre o policiamento na praia de Manaíra.

Sobre a falta de policiais na plataforma instalada no Busto de Tamandaré, a PM esclareceu que o fato se deve à reforma feita desde o dia 19 de outubro na calçada da praia, o que inviabiliza o acesso dos policiais.

O JORNAL DA PARAÍBA tentou contato com o secretário de Planejamento de João Pessoa, Zennedy Bezerra, mas ele não atendeu as ligações.

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Jornal da Paraíba

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