VIDA URBANA
PB soma 99 focos de queimadas
Números correspondem a quase o dobro das ocorrências do mesmo período do ano passado, que registrou 50 focos.
Publicado em 01/04/2014 às 6:00 | Atualizado em 16/01/2024 às 15:19
De janeiro até março deste ano já foram identificados 99 focos de queimadas na Paraíba. Os números correspondem a quase o dobro das ocorrências do mesmo período do ano passado, que registrou 50 focos, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Conforme informações da Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema), a suspeita é que todas essas queimadas foram feitas sem a autorização do órgão.
Segundo os dados do Inpe, o mês de janeiro foi o que contabilizou o maior número de focos, totalizando 75 ocorrências, a maior incidência registrada durante esse mesmo mês nos últimos quatro anos. Já no último mês de março foram 18 focos, quantidade seis vezes maior do que o quantitativo de março de 2013. Os dados do instituto federal revelam que a maior parte das queimadas registradas este ano ocorreram nas regiões da Zona da Mata e Agreste.
De acordo com o coordenador da Divisão de Florestas da Sudema, Franklin Linhares, em 2013 foram iniciados 86 processos de empresas e indústrias solicitando autorização para a realização de queimadas. No entanto, nenhum dos procedimentos foi autorizado pelo órgão estadual.
“Os processos mais recorrentes se referem aos municípios da Zona da Mata, onde tem o cultivo da cana-de-açúcar. As solicitações chegam mais pedindo autorização para realizar queimadas do mês de agosto até fevereiro. Mas nenhum procedimento foi autorizado”, explicou o representante da Sudema, alegando ainda que as queimas podem ter acontecido, mas o órgão não tomou conhecimento por carência na área de fiscalização.
Ainda de acordo com Franklin Linhares, as empresas que solicitam a queima enviam o cronograma com os períodos programados para a realização do procedimento e a delimitação da área afetada. O coordenador lembrou ainda que desde o ano passado, a Sudema não recebeu solicitações para queimadas em municípios localizados nas regiões do Agreste, Cariri, Borborema e Sertão.
Embora não especifique se os focos de queima ocorreram ou não em área de reserva ambiental, segundo informações da assessoria de comunicação do Inpe, os dados do órgão revelam que nas queimadas deste ano o município de Ingá, no Agreste, lidera o ranking dos focos, com seis ocorrências. Neste município não há cultivo da cana-de-açúcar, como ocorre em Pitimbu, no Litoral Sul do Estado, que também registrou o mesmo número de focos. Na sequência do mapeamento do Inpe, estão os municípios de Fagundes, Sapé e Gurinhém, com cinco focos cada um. Outro dado que chama a atenção e reforça a situação de queima clandestina relatada pelo coordenador da Sudema são os focos registrados nos municípios de Cachoeira dos Índios, Conceição, Ibiara, no Sertão, e Aroeiras, no Agreste. Cada um com três focos identificados.
MULTA
Segundo informações da Sudema, quem for flagrado organizando queima não autorizada será autuado e poderá pagar multa de R$ 300 por hectare atingido pelas chamas. No caso de queimadas que invadirem reservas ambientais, o valor sobe para R$ 5 mil e pode chegar até R$ 50 mil, além de ser considerado crime ambiental.
Danos ao meio ambiente. Emissão de gás carbônico para a atmosfera e empobrecimento do solo são os principais problemas gerados pelas queimadas, principalmente para fins de práticas agrícolas. De acordo com o agrônomo da Sudema Humberto Gomes, esse procedimento pode “acabar com a produtividade do solo”. Segundo ele, toda a matéria orgânica, com micro-organismos que compõe a fauna e a flora, fica comprometida.
“Tem técnicas para recuperar o solo que passou por queimadas, conhecida popularmente por coivara, mas aquele solo danificado não será o mesmo”, completa o agrônomo.
O professor de Geografia Ésio Augusto acredita que a queimada ainda é utilizada na agricultura por ser mais barata. Contudo, assim como Humberto Gomes, ele lembra que essa técnica não pode ser utilizada repetidas vezes. “Se o agricultor repete sempre as queimadas, aquele solo fica empobrecido e reduz a capacidade de produção. Além disso, tem a liberação de CO2 (Gás Carbônico) que contribui para o aquecimento global. Então, é um problema generalizado”, alertou o professor.
CONDE: LÍDER DE CASOS NA GRANDE JP
Na Região Metropolitana de João Pessoa, um levantamento realizado do início de 2013 até março deste ano pelo Corpo de Bombeiros Militar do Estado da Paraíba apontou que os locais com maior incidência de queimadas em vegetações são as cidades de Conde (54) e Santa Rita (37). Os números têm como base os dados coletados a partir de ocorrências em todos os bairros dos municípios.
Já na capital, as áreas com a maior quantidade de casos são os bairros de Mangabeira (82), Altiplano (37), Cabo Branco (32), Valentina (29) e as margens das BRs 230 (29) e 101 (23).
Conforme o comandante do 1º Batalhão do Corpo de Bombeiros e responsável por ações de prevenção e combate a incêndios na Região Metropolitana de João Pessoa, tenente-coronel José Jobson Ferreira, o principal causador das queimadas em área urbana vem sendo a ação humana.
“Além do problema da estiagem, que nesse ano veio mais forte, boa parte dos incêndios em florestas é provocado pela ação humana. E, às vezes, nem há a intenção de provocar esse incêndio. É muito comum que, em margens de rodovias, motoristas descuidados joguem restos de cigarro pelas janelas dos carros e esse cigarro caia no capim, gerando chamas que se alastram para a mata”, analisou. “Há situações também em que algumas pessoas incomodadas pelo lixo colocado em terrenos baldios provoquem um incômodo ainda maior colocando fogo nesse material. Isso pode ficar restrito àquela área, como pode se espalhar, dependendo do tipo de vegetação”, acrescentou, citando ainda que certos incêndios em áreas urbanas costumam ser provocados até por diversão.
Para coibir práticas do tipo, o tenente-coronel frisou que os Bombeiros realizam campanhas e ações educativas entre a população. De acordo com ele, apesar disso, a atuação dos órgãos fiscalizadores tem sido essencial para diminuir as queimadas irregulares na capital.
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