VIDA URBANA
PB tem 3ª maior taxa de morte de negros no país
Segundo pesquisa, são 60,5 mortes para cada 100 mil habitantes da cor negra.
Publicado em 20/11/2013 às 6:00 | Atualizado em 04/05/2023 às 12:12
A Paraíba possui a terceira maior taxa de mortalidade de negros do Brasil. A constatação é da Nota Técnica “Vidas Perdidas e Racismo no Brasil”, divulgada ontem pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). No território paraibano, ocorrem 60,5 óbitos em cada grupo de 100 mil habitantes da cor negra. A quantidade superou os índices apresentados por 25 federações do país, ficando atrás apenas de Alagoas (80,5) e Espírito Santo (65,0).
Os números ainda mostraram que os negros morrem mais do que pessoas de outras etnias. A Paraíba apresentou a proporção de 3,1 mortes para cada 100 mil habitantes brancos, amarelos e indígenas. Esta quantidade é quase 19 vezes superior à taxa de mortalidade entre afrodescendentes.
Racismo, discriminação socioeconômica e falta de oportunidades profissionais são causas dessa realidade, segundo os dados.
A pesquisa foi feita com dados do Sistema de Mortalidade do Censo Demográfico 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e apontou que as causas das mortes foram suicídio, acidentes de trânsito, homicídios e agressões.
A pesquisa ainda apontou que o negro possui menor expectativa de vida em comparação a pessoas de outras etnias. Segundo a nota técnica, os homens da cor negra vivem, em média, 3,5 anos a menos em relação a pessoas de outras raças no Brasil. Na Paraíba, essa redução no tempo de vida chega a 4,8 anos. Mais uma vez, é terceira maior perda do país, ficando atrás apenas de Alagoas (6,2 anos) e Espírito Santo (5,2 anos).
Isso ocorre porque essas pessoas estão mais sujeitas a se tornarem vítimas de violências que resultem em homicídios, acidentes de trânsito e suicídios geradas por racismo e dificuldades sociais. Ainda de acordo com o estudo, na Paraíba, no Espírito Santo e em Alagoas, a redução na expectativa de vida ocorre principalmente por conta dos homicídios.
A pesquisa concluiu que o negro sofre dois tipos de discriminações no Brasil. A primeira é pela situação socioeconômica e a segunda é pela cor de pele. Nas duas situações, o quadro se agrava pelo racismo. O estudo apontou que essas são as causas que fazem os negros aparecerem como as principais vítimas de assassinatos.
Para a pesquisadora Terlúcia Silva, os dados do Ipea são “gritantes e preocupantes”. Ela é coordenadora da Bamidelê, uma organização não governamental que atua em defesa da população negra na Paraíba e diz que os dados não são recentes.
“Desde 2008, a Paraíba vem aparecendo no cenário nacional com altos índices de violência praticada contra negros. Mas o que nos preocupa é a falta de ação e a negligência por parte do Estado. Os dados estão aparecendo, mas a gente não vê as medidas de enfrentamento a esse problema. A Paraíba está se omitindo e o racismo está visível”, afirmou.
Segundo Terlúcia Silva, a falta de ações do Estado está causando a queda na expectativa de vida dos negros, porque a longevidade está ligada às condições de moradia, educação, alimentação e trabalho.
“O negro ocupa as áreas menos estruturadas da cidade, estão mais envolvidos com tráfico de drogas, porque faltam políticas preventivas, escolas de qualidade e emprego. Existe um conjunto de problemas que coloca a população negra em maior vulnerabilidade social”, afirmou a coordenadora da Ong Bamidelê.
ESTADO REALIZA AÇÕES PREVENTIVAS
Na Paraíba, as ações estaduais de combate à discriminação contra o negro são de competência da Secretaria de Estado da Mulher e Diversidade Humana. Segundo a titular da pasta, Gilberta Soares, a mortalidade de negros é motivo de preocupação para o governo.
Por conta disso, o Estado e mais seis municípios firmaram pacto com o Programa Juventude Viva, do governo federal. “Essa medida prevê a realização de ações preventivas, ligadas a esportes e educação, que permitirão a inclusão social de jovens negros”, disse a gestora.
Ainda de acordo com Gilberta, o Programa Juventude Viva será implantado inicialmente nas cidades de João Pessoa, Patos, Cabedelo, Bayeux, Santa Rita e Campina Grande, porque essas localidades apresentaram altos índices de homicídios de negros. “O racismo provoca a exclusão social, mas o homicídio de negros é a consequência mais grave do racismo. Por isso, estamos unindo forças com governo federal e municípios para combater essa violência”, acrescentou.
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