VIDA URBANA
Pesquisadores encontram em saliva de mosquito substância que trata doenças
Cientistas realizaram pesquisa no transmissor da dengue, da zika e da chikungunya e descobriram substâncias anti-inflamatórias.
Publicado em 06/03/2016 às 8:00
O Aedes aegypti, quem diria, tem um lado bom. Pesquisadores da USP encontraram na saliva do mosquito transmissor dos vírus da dengue, da zika e da chikungunya substâncias anti-inflamatórias capazes de controlar a imunidade e tratar doenças intestinais, como a colite ulcerativa em roedores.
O estudo experimental, realizado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP em Ribeirão Preto, resultou em tese de doutorado e artigo publicado na revista científica "International Immunopharmacology".
Agora, os pesquisadores tentam identificar quais são as moléculas da saliva que têm essa ação terapêutica. Segundo a imunologista Cristina Cardoso, que orientou o trabalho, na saliva do aedes existe um "coquetel" de substâncias que ainda estão sendo identificadas. A ideia é extrair essas moléculas específicas, sintetizá-las em laboratório para então estudá-las em ensaios clínicos (humanos).
Como obter baba de mosquito? O especialista é Anderson de Sá Nunes, professor do Instituto de Ciências Biomédicas, da USP. O tratamento no modelo animal escolhido, em camundongos, dura cerca de quatro dias. Para cada dose, são usados 5 microgramas (0,000005 grama) de proteína, o que requer as glândulas salivares de dois mosquitos-fêmeas.
É possível que apenas um centésimo deste total de proteína se deva ao(s) princípio(s) ativo(s), explica Nunes, que provavelmente tem natureza proteica. Em um exercício de Matemática e futurologia, é factível imaginar que a dose de um remédio para humano adulto - supondo que a droga seja segura, eficaz e chegue a esse nível de desenvolvimento - fique na casa dos miligramas.
Isso seria compatível com a produção industrial, diz o cientista, que está tentando obter financiamento para criar uma empresa que faria os chamados estudos pré-clínicos - realizados em animais antes que os remédios cheguem aos testes em humanos. Após a identificação e sequenciamento da molécula a produção pode ser feita tanto usando "biofábricas" à base de fungos ou bactérias ou por meio de sintetizadores artificiais, a depender da complexidade da molécula.
Segundo Nunes, a nova droga à base de saliva de mosquito também obteve sucesso no tratamento de doenças como a hepatite autoimune e a esclerose múltipla. Assim como a colite ulcerativa, elas têm um importante componente inflamatório.
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