VIDA URBANA
Projeto para recuperar falésia do Cabo Branco preocupa ambientalistas
Integrantes do Grupo Amigos da Barreira (GAB) temem intervenções e dizem que não houve discussão com a sociedade.
Publicado em 17/03/2015 às 9:00 | Atualizado em 19/02/2024 às 11:10
O projeto de recuperação do processo de erosão da falésia do Cabo Branco e da praia do Seixas, está preocupando os ambientalistas e profissionais de diversas áreas, principalmente devido às intervenções feitas dentro do mar, como a construção de oito quebra-mares, que totalizam uma extensão de 2.600 metros paralelos à costa.
A barreira possui diversos pontos de erosão e foi interditada em novembro do ano passado de forma emergencial. O projeto foi apresentado no Centro Administrativo Municipal (CAM), em Água Fria, na última quarta-feira.
Segundo a Prefeitura, o projeto consiste basicamente na construção de oito quebra-mares e seus caminhos de serviço, feitos em enrocamento de pedra, proteção do sopé da falésia, engorda da praia, drenagem pluvial das ruas localizadas na parte superior da barreira, bem como a pavimentação de algumas delas.
Ainda de acordo com a Prefeitura, os quebra-mares ficarão localizados a cerca de 300 metros da costa, com 1,5 a 5 metros de altura e estarão a 50 centímetros acima do nível médio do mar. Eles totalizam a extensão de 2.600 metros paralelos à costa e cada um terá o comprimento de 300 metros, com espaçamento de 50 metros entre um e outro. Apenas entre os quebra-mares 7 e 8 o espaçamento será um pouco maior, de 75 metros para possibilitar a passagem de pequenas embarcações.
O ambientalista e integrante do Grupo Amigos da Barreira (GAB), Willians Guimarães, demonstrou preocupação com as obras previstas para a região falésia, por não ter tido acesso aos estudos ambientais. O GAB é formado por profissionais de diversas áreas com o objetivo de discutir e estimular ações para a preservação da barreira do Cabo Branco.
“A concepção de qualquer projeto de engenharia tem que anteceder com estudo ambiental para saber a fragilidade do local, o tipo de obra adequada para causar menos impacto e se posteriormente causará algum dano ao meio ambiente, mas esses estudos não ficaram claros, pois não foram apresentados para sociedade, instituições e Ongs (Organizações Não Governamentais) de defesa ao meio ambiente. É um estudo científico que precisa de discussão para adequação do que seria o mais correto”, ponderou.
Willians Guimarães considerou exagerado o número de quebra-mares a serem instalados próximo à costa. “A parte de enrocamento já havia sido apresentada anteriormente, mas oito quebra-mares é um certo exagero, pois como já apresentado, o ideal seria apenas dois, sendo um no Seixas e outro próximo à falésia do Cabo Branco”, disse.
Para o ambientalista, a colocação dos oito quebra-mares contornando toda a costa da área da barreira até a praia do Seixas, poderá impactar os corais da região. “Em frente à falésia, por exemplo, já tem os arrecifes, que são plataformas de abrasão, que diminuem naturalmente o impacto da água do mar e fazer uma interferência desse tipo poderá causar impactos ambientais na região e adjacências”, frisou.
PREVENÇÃO CONTRA DANOS ESTÁ PREVISTA
A engenheira civil da Unidade Executiva Municipal (UEM) da Secretaria de Planejamento (Seplan) de João Pessoa, Domitilla Una, responsável pela apresentação do projeto, na última quarta-feira, garantiu que antes de concluir o relatório final do projeto executivo, algumas medidas de prevenção e proteção a possíveis danos ambientais foram tomadas por meio de diversos estudos.
“Esse processo foi dividido em duas etapas. A primeira delas foi de avaliação e atualização dos estudos que tínhamos disponíveis, fornecidos pelas universidades, onde foi feito um melhoramento para que pudéssemos usar mais substancialmente todos eles. Na segunda, foram apresentados os estudos preliminares e de concepção e a viabilidade técnica econômica do projeto, onde foram tomados mais dados, como a batimetria, que é um mapeamento do relevo do fundo do mar, de toda a área que envolve a obra. Além disso, foram estudadas as séries históricas de ventos e estudos de marés, para que pudéssemos fundamentar todos os cálculos feitos e tornar a concepção do projeto executivo”, explicou.
Domitilla Una ainda esclareceu que todos os cálculos foram feitos por modelos matemáticos, concebidos por um soft da Delft University of Technology (Universidade de Tecnologia Delft) da Holanda, onde foram feitas 18 simulações, nas quais as variáveis eram as marés, os ventos, as posições e quantidades dos quebra-mares, além da localização dos mesmos em relação à costa. “Das 18 simulações, apenas a mais viável foi a escolhida como projeto executivo da falésia de Cabo Branco, entregue ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), à Caixa Econômica Federal e à Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema) e apresentada na última quarta-feira”, afirmou.
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