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VIDA URBANA

Sem leitos, médicos do Arlinda Marques cancelam cirurgias

Denúncia foi feita por um profissional do plantão durante fiscalização do Ministério Público da Paraíba e pelo Conselho Regional de Medicina. 

Publicado em 23/04/2015 às 17:08

Um cirurgião pediátrico do plantão do Complexo de Pediatria Arlinda Marques denunciou ao Ministério Público da Paraíba (MPPB) que diariamente cirurgias são canceladas devido aos três leitos de cirurgias existentes no complexo serem insuficientes. O relato foi feito durante inspeção realizada na última sexta-feira (17) pela 1ª Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde de João Pessoa, do Ministério Público da Paraíba (MPPB) e pelo Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM).

Segundo o profissional que fez a denúncia, a situação piorou, principalmente após o ingresso de procedimentos ortopédicos, neurocirúrgicos e cardíacos, obrigando os profissionais das diferentes especialidades a terem que dividir as agendas para realizar as intervenções em horários diferentes.

A visita constatou ainda superlotação nos setores da recepção do Ambulatório e da Urgência, além de detectar que o Setor de Estabilização do hospital estava sendo utilizado como uma UTI improvisada, por falta de vagas na Unidade de Terapia Intensiva da unidade hospitalar.

Ainda na inspeção, foi constatada, durante a troca de pacientes entre os setores, que havia falta de materiais básicos de higienização para os profissionais. Na ocasião, a promotora de Justiça Maria das Graças Azevedo Santos, representante do MPPB, foi informada pela chefe do setor que alguns setores do hospital não são credenciados no Ministério da Saúde e não recebem a contrapartida financeira do Sistema Único de Saúde (SUS).

Outro setor inspecionado pela equipe foi um dos Ambulatórios da Urgência, onde a médica pediátrica do setor revelou a dificuldade em gerenciar a demanda reprimida para internação, justificando que, por questões éticas, não poderia prescrever a alta médica por falta de vagas. O mesmo problema acontece também no Consultório da Cirurgia.

O objetivo da visita foi fiscalizar possíveis irregularidades existentes e cumprir o calendário de inspeções ordinárias em unidades públicas de saúde na capital.

Hospital recebe pacientes de outras unidades, diz direção

O diretor técnico do Arlinda Marques, Fabiano Alexandria, reconheceu que há de fato uma demanda maior que a capacidade do hospital - especialmente no bloco cirúrgico -, mas que o problema ocorre principalmente por falhas na atenção secundária básica à saúde, que "deveria ser realizada nos hospitais da rede municipal" e, por motivos diversos não atende a demanda, obrigando pacientes a procurarem o Arlinda Marques.

"O Arlinda Marques tem o perfil de tratamento de alta complexidade, voltado para procedimentos cardíacos, neurológicos e ortopédicos", afirmou o diretor. "Mas estamos recebendo requisições de procedimentos mais simples, como cirurgias de fimose (só em março foram 90 procedimentos) e de amígdala, porque muitos dos hospitais da rede municipal que deveriam realizar essas cirurgias estão com blocos cirúrgicos limitados e até fechados. Recebemos, assim, pacientes que não deveriam ser nossos", declarou ele.

O diretor afirmou ainda que, devido à alta demanda, é dada prioridade aos procedimentos de emergência, o que de fato leva ao cancelamento de cirurgias não emergenciais e à falta de vagas.

Para CRM, atendimento pediátrico não é encarado como prioridade

De acordo com João Alberto Morais, diretor do CRM que participou da inspeção realizada pelo MPPB na sexta-feira (17), o problema de fato não está restrito apenas ao Arlinda Marques. "A política governamental - entendo aqui nos âmbitos municipal, estadual e federal - não dá a prioridade necessária ao atendimento pediátrico", ressaltou. "De fato, há uma superlotação no Arlinda Marques, especialmente no setor pediátrico, mas isso está relacionado a um problema estrutural do programa de saúde infantil", declarou ele.

Morais adiantou que o CRM está preparando um relatório sobre a situação do atendimento pediátrico em João Pessoa, e que ele deverá ser entregue à promotora Maria das Graças Azevedo Santos assim que estiver finalizado.

De posse do relatório, a promotora irá tomar as medidas necessárias.

Rede municipal não realiza procedimentos de emergência infantil, diz SMS

Segundo nota enviada pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o único hospital da rede municipal que realiza cirurgias infantis é o Hospital Municipal Valentina Figueiredo, localizado no bairro de mesmo nome . Segundo a secretaria, o bloco cirúrgico do hospital está de fato fechado há cerca de duas semanas, mas o hospital realiza apenas cirurgias eletivas (agendadas) e não procedimentos de emergência.

"As cirurgias que não foram realizadas neste período já foram remarcadas e deverão ser realizadas a partir da próxima semana com a reabertura do bloco cirúrgico, não ficando nenhuma delas para serem realizadas em qualquer outra unidade hospitalar", afirma a nota, acrescentando que o hospital realiza cerca de 20 procedimentos por mês.

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Jornal da Paraíba

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