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VIDA URBANA

Técnicas de defesa pessoal e lutas conquistam mulheres em João Pessoa

Público feminino vem buscando treinamentos e aulas de modalidades como krav maga, jiu-jistu e muay thai como forma de se proteger. 

Publicado em 08/03/2015 às 14:00

Família, amigos e conhecidos. Era Réveillon e a universitária Isabel de Araújo, de 21 anos, tinha acabado de brindar a meia-noite quando decidiu, por causa do cansaço, dormir em um dos quartos da casa onde acontecia a festa. O que ela não sabia era que dentro de poucos minutos passaria por uma situação de tensão, precisando usar alguns dos golpes que havia aprendido durante as aulas de krav maga, técnica de defesa pessoal desenvolvida em Israel e difundida há quase 25 anos no Brasil.

“Assim que deitei, um rapaz que estava embriagado entrou de repente no quarto e foi para cima de mim, querendo me beijar à força. Quando ele começou a segurar nos meus braços, a reação foi totalmente instintiva. Eu usei o que eu treinava e nem pensei direito, apenas reagi e fiquei imobilizando ele no chão, gritando para ele sair”, contou a estudante de engenharia sanitária e ambiental, completando que o homem, mais alto e aparentemente mais forte do que ela, entendeu o recado e foi embora rapidamente. “Fiquei muito satisfeita, porque foi o resultado de toda minha dedicação”, afirmou.

Isabel não é a única a achar importante o conhecimento de táticas de defesa pessoal. Em João Pessoa, a procura de mulheres por treinamentos e aulas de artes marciais como krav maga, jiu-jistu e muay thai vem aumentando consideravelmente. Um dos que dizem comprovar esse crescimento é o professor de jiu-jistu Tarcísio Jardim, de 31 anos. Segundo ele, esse cenário tem a ver com a mudança no pensamento das pessoas, que estão deixando de enxergar as lutas como algo exclusivo para homens. “Essa mentalidade machista foi deixada de lado felizmente”, fez questão de ressaltar.

Para ele, em momentos de perigo, o jiu-jitsu, arte marcial originária do Japão, oferece um suporte bastante eficaz para o público feminino. “Eu sou um pouco suspeito para falar. Acho que ele é mais eficiente para a mulher porque grande parte da violência sofrida por elas é com agarramentos – pela frente, por trás ou até mesmo apertando o pescoço. E o jiu-jitsu é baseado nisso, em reverter isso, até pela fragilidade da mulher ser jogada no chão e o homem poder vir para cima”, explicou, destacando particularidades da modalidade. “A filosofia do jiu-jitsu é conseguir imobilizar o adversário e conseguir que ele se renda na luta com golpes de estrangulamento, chaves de articulação, de pé, de joelho”, citou.

Praticante há mais de dois anos do muay thai, arte marcial tailandesa, a funcionária pública Débora Morgana Albuquerque, de 30 anos, revela que quase 70% de sua turma é composta por mulheres. “Algumas entram pelo exercício físico, já outras se sobressaem, acabam gostando e começam a competir. Tem de tudo”, sublinhou, acrescentando que as aulas de defesa pessoal com a técnica têm suas especificidades. “O que o professor indica justamente é se livrar do agressor o mais rápido possível, não ficar trocando socos ou chutes. E a força conta muito, porque o aconselhado é que ela consiga escapar com apenas um golpe”, finalizou.

Krav maga é opção
De acordo com o instrutor de krav maga Edgar Torres, de 36 anos, o método de defesa pessoal que chegou à Paraíba em 2006 ganha cada vez mais adeptas com o passar dos anos. “As aulas na academia são para todos os públicos e os treinos são realizados em igualdade. Para mulher, isso até facilita porque ela vai treinar sempre com muitos homens e qualquer um que seja menor do que o colega de treino vai ser um problema mais fácil de resolver”, frisou, sem deixar de complementar que “quanto melhor o parceiro, melhor o treino”.

Edgar sustenta, além disso, que os benefícios do krav maga entre as mulheres são muitos e não ficam limitados apenas ao físico. “Elas se mostram mais confiantes. A primeira coisa que percebo é que a autoestima muda”, mencionou. “Poder olhar no olho de alguém sem baixar a cabeça já muda a vida da pessoa e não tem coisa mais preciosa do que poder andar de cabeça erguida, sabendo que você não vai se sentir coagido se alguém vier bater de frente”, continuou, lembrando que, apesar disso, sempre instrui os alunos a analisar cada circunstância. “Você só vai ser coagido se achar que diplomaticamente aquela alternativa é melhor para você. Ninguém é incentivado nas aulas a ter uma reação desmedida”.

A educadora física Aline Santana, de 28 anos, é uma das discípulas de Edgar e grande entusiasta do krav maga. Ela recorda que se dispôs a ter aulas de defesa pessoal para se proteger do assédio masculino, comum sobretudo nos transportes públicos. “Sempre acontecem essas agressões. Os homens passam encostando, se esfregando nas mulheres, e muitas ficam caladas. Eu queria não ficar intimidada, queria me defender de alguma forma”, confessou.

Desde que se aprofundou na técnica, ela acredita que já tenha conseguido se livrar de diversas investidas. “Uma vez, bem cedo, o ônibus estava lotado e um rapaz passou querendo se aproveitar. Eu dei uma cotovelada bem discreta, mas que doeu – eu sei que doeu porque foi forte – e ele se afastou. Até as mulheres que estavam lá ficaram impressionadas e vieram perguntar o que eu havia feito”, rematou, assumindo que os golpes também costumam despertar a curiosidade das amigas. “Elas ficam com muita vontade de aprender. Ninguém tem preconceito, todo mundo gosta e incentiva mesmo”.

Treino gratuito


Em alusão ao Dia Internacional da Mulher, celebrado neste domingo (8), a Federação Sul Americana de Krav Maga vai realizar em João Pessoa um treino gratuito de defesa pessoal exclusivo para o público feminino. A aula, aberta para interessadas de todas as idades, com ou sem experiência, acontece hoje, das 8h30 às 12h30, no Clube dos Oficiais da Polícia Militar da Paraíba, em Manaíra.

Conforme o instrutor Edgar Torres, o evento acontece simultaneamente em todo o país e tem como objetivo expor de maneira rápida que qualquer mulher pode se defender em certas situações de perigo, desde que tenha preparo para isso. “A gente vai mostrar como ela pode se livrar de um bandido que tente puxar a bolsa ou o celular dela e sair correndo – vale frisar que não estou falando de ameaças com arma de fogo ou faca, para isso é preciso mais treino”, observou.

“Mas o principal é a parte voltada para a violência sexual. Então tudo o que leva a esse possível momento de estupro, seja um puxão de cabelo, seja um agarramento ou estrangulamento, nós vamos abordar. E vamos também dar opções para quando tudo parecer que vai dar errado, inclusive para quando o cara já estiver em cima dela”, concluiu.

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Jornal da Paraíba

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