VIDA URBANA
Trens estão abandonados na Paraíba
Linhas férreas chegaram em 1880 à Paraíba e a partir de 1980 o uso dos trens entrou em decadência.
Publicado em 23/03/2014 às 8:00 | Atualizado em 11/01/2024 às 18:46
As primeiras ferrovias chegaram à Paraíba em 1880 e mudaram a economia e os modos culturais dos paraibanos. Todos os dias, os trens de cargas e de passageiros partiam da Estação Ferroviária de João Pessoa em direção a municípios do Agreste e também a estados vizinhos, como Pernambuco, principalmente. Passados cem anos, em 1980, o uso dos trens entrou em decadência, devido aos investimentos voltados para a construção de estradas e, consequentemente, as ferrovias foram desprezadas, segundo os registros históricos.
Atualmente, é visível a necessidade de melhorias nas estações da capital e Região Metropolitana, cujos trens ainda estão em funcionamento. Por outro lado, a malha ferroviária do interior e as poucas estações que ainda resistem ao tempo estão abandonadas.
Aos 88 anos de idade, o presidente da Associação dos Ferroviários da Paraíba, Antonio Jorge Sobrinho, vivenciou os bons tempos e a decadência do transporte ferroviário. Hoje, ele conta que sente um misto de saudade e vergonha, ao ver o estado em que se encontram os trilhos que o ajudaram a sustentar a família. "Naquela época, o Nordeste tinha outra maneira de ser. Tudo era transportado de trem. Como eu vi a movimentação na estrada de ferro, com trens de passageiros e de carga, saindo da Paraíba para o Ceará até três vezes por semana, para o que a gente vê hoje, é uma vergonha", lamenta.
Mesmo com a má conservação, os trens urbanos que trafegam pelos trilhos da capital e Região Metropolitana transportam, em média, 9 mil pessoas, todos os dias, e é em João Pessoa que se encontra a maior linha férrea do Estado, com 30 quilômetros de extensão.
Também é esta malha ferroviária a primeira do Estado e de onde partiam os trens que seguiam para Recife (PE), Ceará (CE) e Rio Grande do Norte (RN). Atualmente, essa ferrovia interliga a capital com os municípios de Bayeux, Santa Rita e Cabedelo. É da estação desta última cidade que parte todos os dias o vendedor ambulante José Coutinho.
Para ele, se deslocar da cidade portuária em direção a João Pessoa de trem é vantajoso economicamente e a viagem é considerada tranquila. “É uma vantagem grande porque de Cabedelo para cá só pago R$0,50. Se eu quiser descer só em Santa Rita, também pago a mesma coisa. Também não tem problema com demora, porque os trens sempre passam na hora certa”, disse o comerciante.
Assim como a rotina de José Coutinho, que faz o percurso Cabedelo/João Pessoa todos os dias, os trilhos foram trazidos para a Paraíba para impulsionar as atividades econômicas e também fortalecer alianças políticas. A explicação é do doutor e pesquisador em História da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) Gervácio Batista Aranha, que há mais de 20 anos estuda a relação da chegada do trem com a história da Paraíba.
Segundo ele, as estações eram construídas mais afastadas do perímetro urbano. No entanto, com a movimentação no entorno das estações, começaram a se formar feiras e pequenos núcleos urbanos. “Quando os trens começaram a incrementar a economia, a malha urbana começou a se estender em direção às estações. Em torno desses locais existiam espaços de sociabilidade. A ferrovia trouxe muitas mudanças, porque era uma espécie de porta de entrada cultural nas cidades”, completa o pesquisador, acrescentando ainda que as ferrovias revolucionaram as comunicações e encurtaram distâncias. “As pessoas criavam o hábito de sempre ir às estações comprar jornais e nos próprios trens tinham os gazeteiros que vendiam jornais de outros estados”, disse.
Antonio Jorge, que trabalhou como supervisor e visitou boa parte das ferrovias do Nordeste durante 33 anos, lembra saudoso da época em que a chegada dos trens nas cidades do interior era motivo de festa. “Nas estações era uma festa quando o trem ia chegar", recorda.
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