VIDA URBANA
Tribunal de Contas aponta problemas em hospitais da PB
Carência na acomodação e atrasos de cirurgias são relatados em levantamento do TCU.
Publicado em 29/03/2014 às 6:00 | Atualizado em 16/01/2024 às 15:07
A superlotação em quatro hospitais de urgência e emergência da rede pública da Paraíba foi apresentada ontem no relatório 'Saúde no Brasil', elaborado pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Sobre a situação dos institutos do Estado, o documento trouxe informações sobre a situação de atrasos para a realização de cirurgias e carência na acomodação adequada para os pacientes.
De acordo com o relatório do TCU, o diagnóstico da Paraíba resultou de inspeções realizadas em 2013 nos Hospitais Regionais de Emergência e Trauma Dom Luiz Gonzaga Fernandes, em Campina Grande, Deputado Janduhy Carneiro, em Patos, Complexo Hospitalar de Mangabeira Governador Tarcísio Burity e Hospital Edson Ramalho, ambos em João Pessoa.
Conforme o documento, a quantidade excessiva de pacientes internados e mal acomodados dificultou o trânsito entre os leitos, e “os setores de emergência e urgência dos hospitais visitados encontravam-se superlotados, contando com a utilização quase constante de leitos extras”, diz o relatório.
Além da superlotação nos leitos, os relatores identificaram ainda que “na Paraíba, foram constatados casos de pacientes que permanecem internados sem previsão para a realização das respectivas cirurgias”.
Esta foi a realidade da mãe da dona de casa Dirlene de Souza. Ela conta que a aposentada ficou internada no Hospital Edson Ramalho do dia 10 de fevereiro deste ano até o último dia 20, enquanto aguardava por uma cirurgia vascular. Segundo a dona de casa, após esse período a mãe foi transferida para o Hospital São Vicente de Paula, onde passou pela cirurgia e teve que amputar a perna direita.
“Minha mãe chegou no Edson Ramalho com problema de circulação no dedo do pé. Passou esse tempo todo e o médico disse que não poderia fazer a cirurgia porque não tinha o material. Se ela tivesse sido atendida a tempo, não teria perdido a perna”, lamenta Dirlene.
A longa espera por um leito neste hospital também é a mesma para quem procura consultas especializadas. Há cinco meses, a agricultora Maria da Guia Silva foi diagnosticada com um nódulo no seio esquerdo e necessita fazer cirurgia. Ela conta que só ontem conseguiu uma consulta para depois marcar o procedimento.
“Vou passar pela consulta e só Deus sabe quando vou conseguir a cirurgia. Já tive esse mesmo problema e passei uns oito meses esperando para tirar o nódulo”, reclama.
Assim como Maria da Guia, que veio do município de Solânea, no Brejo, buscar atendimento na capital, é comum a presença de pacientes de outros municípios nas cidades de João Pessoa e Campina Grande, principalmente. Conforme a análise dos relatores, essa prática contribui para a superlotação e gera uma crise no sistema hospitalar.
“Durante as entrevistas, foram relatadas situações em que o paciente é levado a mais de um hospital, antes de encontrar uma vaga e ser atendido. Isso também demonstra a existência de problemas de superlotação e de deficiências na regulação hospitalar. O efeito mais visível desse problema é a redução da qualidade do atendimento hospitalar de emergência”, diz o relatório.
Cópias do relatório do TCU foram entregues às Secretarias de Saúde da Paraíba (SES) e dos municípios de João Pessoa, Campina Grande e Patos, além do Congresso Nacional. A assessoria jurídica do TCU na Paraíba informou que fará outros procedimentos conforme orientação da sede do órgão federal.
A reportagem entrou em contato com a coordenadora do Centro de Apoio Operacional às Promotorias da Saúde (Caop da Saúde) do Ministério Público da Paraíba (MPPB), a promotora de Justiça Adriana Amorim, para saber mais detalhes sobre o acompanhamento dos casos de superlotação dos hospitais da Paraíba, porém não obteve retorno. A assessoria de comunicação do MPPB informou que a promotora estava viajando.
Estado já inaugurou 615 novos leitos. Sobre os dados da superlotação apresentados no relatório, a assessoria de comunicação da SES esclareceu que, “de 2011 até agora o governo do Estado inaugurou 615 novos leitos e a meta é chegar a mil leitos até o final do ano”.
A assessoria adiantou ainda que várias obras foram inauguradas durante este mesmo período e que ainda este ano será entregue a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) em Princesa Isabel, orçada em R$3,3 milhões. Sobre o Hospital Regional de Patos, a assessoria disse, por email, que “houve aquisição de equipamentos, implantação da climatização, reforma na enfermaria e instalações do novo refeitório e nova ala de urgência, totalizando R$1,5 milhão em investimentos”.
Já o diretor técnico do Hospital Edson Ramalho, em João Pessoa, tenente-coronel Agripino Melo, ao ser questionado a respeito da superlotação na unidade, fez questão de frisar que os casos são resultados dos poucos postos de atendimento médico na capital. “Isso não é mais novidade, é pouco hospital para muita gente. E o Edson Ramalho é o único hospital que atende às urgências não traumáticas de João Pessoa”, queixou-se.
“Temos, atualmente, em torno de 160 leitos para atender múltiplas especialidades: maternidade, clínica médica, cirúrgica, ambulatório. Para uma cidade como a nossa, é logico que vai haver superlotação. A solução seria a criação de outras opções de urgência. Se tivesse uma UPA (Unidade de Pronto-Atendimento) aqui no Centro, talvez ajudasse”, acrescentou.
Para solucionar a questão das longas filas de espera por atendimento, a assessoria de comunicação da Secretaria Municipal de Saúde de João Pessoa informou que foi criado em 2013 um programa chamado 'Ande Bem'. Conforme o órgão, por meio da iniciativa, a prefeitura contratou mais médicos, abriu mais leitos e conseguiu realizar mais cirurgias, diminuindo a superlotação no Hospital Ortotrauma de Mangabeira.
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