VIDA URBANA
Trotes somam 72% das ligações do Disque 123
72% das ligações recebidas em dois meses pelo Disque 123, que ouve denúncias de violação de direitos do cidadão, foram trotes.
Publicado em 05/04/2014 às 6:00 | Atualizado em 16/01/2024 às 15:22
Das cinco mil ligações que o Disque 123 recebeu após quase dois meses de implantação, 72% foram trotes, o equivalente a 3,6 mil ligações. O serviço foi criado no dia 21 de fevereiro deste ano pela Secretaria de Desenvolvimento Humano da Paraíba com o objetivo de registrar denúncias sobre violação de direitos do cidadão, porém muitas vezes fica indisponível para quem realmente precisa devido a essas ligações. O trote é crime previsto no código penal e pode acarretar desde multa até detenção.
Segundo a coordenação do Disque 123, 85% dos trotes registrados foram feitos por crianças em horário de intervalo escolar, 10% são registros de pessoas que ligam e desligam sem falar nada e 5% de adultos mal intencionados.
De acordo com a subcoordenadora do serviço, que não pôde se identificar devido ao sigilo do órgão, no fim de semana a média de trotes triplica com relação a dias normais. A subcoordenadora chegou a relatar que em apenas um sábado uma atendente recebeu 88 trotes.
Apesar de não conseguir quantificar o número de ligações diárias recebidas pelo órgão, apenas o total desde o início do serviço, a subcoordenadora afirmou que é um número alarmante, tendo em vista que apenas 18% das ligações direcionadas ao órgão são efetivamente denúncias.
“72% são trotes, 18% são denúncias reais e os demais 10% são pessoas pedindo informações. A gente orienta, informa, mas infelizmente isso continua acontecendo”, lamentou.
A subcoordenadora do serviço relatou que alguns trotes chegam a descrever detalhadamente casos de abuso, ocupando a linha por muito tempo. “A gente tem muitos operadores, mas mesmo assim isso é complicado, porque os trotes se tornam uma demanda muito grande. Porém, o órgão está agindo para coibir essa prática”, declarou.
Assim como o Disque 123, o Centro Integrado de Operações Policiais (Ciop), que recebe uma média de 600 ligações por dia através dos números 190 e 193, também registra um grande número de trotes. Segundo o comandante do Ciop, major Marcos Benevides, 60% da demanda diária de ligações é de trotes.
“Tem dia que aumenta esse número, tem dia que diminui, mas é religiosamente todos os dias. De uma média de 18 mil ligações que a gente recebe todo mês, umas dez mil ou mais é de trotes”, lamentou.
De acordo com o comandante do Ciop, a maioria das ligações é feita por jovens e crianças e principalmente de telefones públicos, o que impede que o órgão possa fazer uma operação mais ostensiva contra esse crime.
Segundo o comandante do Ciop, algumas ligações também são feitas por deficientes mentais e pessoas depressivas. O comandante já solicitou à Secretaria de Segurança e Defesa Social a instalação de um aparelho que liberará as linhas ocupadas.
PARAÍBA TEM LEIS PARA PUNIR INFRATOR
Na Paraíba, pelo menos três leis foram elaboradas com o objetivo de reduzir a incidência de trotes telefônicos para os diversos órgãos de segurança. Nas leis, ficam estabelecidas punições contra infratores e realização de constante campanha educativa sobre a importância de não interferir nos serviços de órgãos de segurança e de saúde.
A lei nº 9.544 institui a aplicação de multas contra o proprietário de linhas telefônicas das quais sejam originadas as ligações falsas para a Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Os valores previstos são de R$ 100 por cada trote realizado, sendo este duplicado em caso de reincidência.
Outra lei é a 9.002. Similar à 9.544, ela estabelece as mesmas punições, porém a diferença é que o dinheiro do pagamento das multas (50 Ufirs por trote) deve ser revertido para a modernização tecnológica das unidades operacionais dos órgãos vítimas das ligações telefônicas falsas.
Já a lei 9.376 obriga que as escolas da rede pública estadual implementem campanha educativa constante contra os trotes.
De acordo com a assessoria de comunicação da Secretaria de Educação Estadual, as escolas trabalham em seus planos pedagógicos com o tema, dentro dos conteúdos de formação cidadã dos alunos. Informou ainda que não existem campanhas específicas para coibir o problema.
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