COTIDIANO
Viver em São Paulo afeta cérebro como guerra, afirma pesquisa
Estudo da Unifesp mostra que cérebro de paulistanos e ex-combatentes sofrem de modo parecido os efeitos da violência.
Publicado em 23/06/2008 às 7:13
Do G1
Uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e do Ibope comprova: a violência urbana está deixando marcas no cérebro dos brasileiros. As seqüelas incluem perda de memória, crises de ansiedade e até alucinações. O estudo também mostra que o estresse do paulistano é comparável ao de pessoas que vivem em zonas de guerra ou ao de ex-combatentes.
O trabalho mostrou que 600 mil pessoas na cidade de São Paulo já passaram por algum trauma gerado pela violência - do tipo que deixa marcas na alma. "Em cada rosto que eu via na rua, eu via o rosto da minha agressora", diz a professora aposentada Angela Cassão. "Qualquer um que chega perto de mim, eu tenho medo, eu choro", conta o ex-treinador Marco Antônio Hanser.
Os responsáveis pela pesquisa afirmam que 90% das pessoas vão melhorar espontaneamente, só com suporte social e familiar. Mas entre 10% e 15% dessas vítimas não se recuperam logo. Em São Paulo, isso significa que até 90 mil pessoas têm um distúrbio psicológico grave: o transtorno de stress pós-traumático. O número é comparável ao de regiões em conflito, como a Faixa de Gaza, ocupada por Israel durante quatro décadas, e hoje controlada pelos palestinos radicais do Hamás.
Razões do transtorno
A Unifesp tem um ambulatório de stress pós-traumático. Em quatro anos, já atendeu mais de 500 pessoas. Entre as razões que levam os paulistanos para o atendimento, o primeiro é a tentativa de homicídio com assalto a mão armada, o segundo é a perda de alguém por homicídio e, o terceiro, a violência sexual.
Os pesquisadores submeteram alguns pacientes ao exame de ressonância magnética. O objetivo foi avaliar se a aflição psicológica tem um correspondente físico. Entretanto, os resultados da ressonância não mostraram diferenças óbvias entre um cérebro afetado e um não-afetado.
A bióloga Andréa Jacowski diz que é preciso fazer uma análise refinada. Ela examina principalmente uma região do cérebro chamada hipocampo, que é um pouco maior que uma azeitona. "O hipocampo é uma região que está relacionada com a memória e com memórias que tenham um componente emocional", disse.
"O que nós observamos é que os pacientes que desenvolveram o transtorno tem uma redução dessa região cerebral." Segundo a pesquisa, essa redução varia de 5 a 10%. Uma das teorias pra explicar essa essa diminuição do cérebro é a ação de substâncias tóxicas fabricadas pelo próprio corpo.
Os pesquisadores afirmam que o stress pós-traumático de combatentes tem diminuição parecida. "A atrofia que foi encontrada aqui nos pacientes com esse tipo de violência social, urbana, é a mesma atrofia encontrada nos veteranos", diz o professor da Unifesp e especialista em estresse pós-traumático que coordena o estudo em São Paulo, Doutor Marcelo Feijó.
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