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CULTURA

Celebrando o velho Lua

Gravadoras antecipam centenário de Gonzagão, lançando coletâneas e tributos que reverenciam o cancioneiro do pernambucano.

Publicado em 02/09/2012 às 8:43


Os 100 anos de nascimento de Luiz Gonzaga (1912-1989) batem à porta e as gravadoras correm para lançar tributos ao Rei do Baião que, como se vê através dos inúmeros projetos de shows, discos e tributos, é nome inigualável da música popular brasileira.

De largada, três CDs chegam às lojas, reverentes ao legado musical do grande Lua: Gilberto Gil Canta Luiz Gonzaga (Warner, R$ 29,90), Olha Pro Céu (Universal, R$ 39,90), e 100 Anos de Gonzagão (Lua Music, R$ 74,90).

Gilberto Gil Canta Luiz Gonzaga é uma coletânea que reúne as releituras de Gil para a obra de uma de suas maiores influências, Luiz Gonzaga. Com o carimbo do Discobertas e aval do próprio Gil, a seleção foi feita pelo garimpador Marcelo Fróes pinça 14 regravações, a maioria retirada da trilha-sonora de Eu Tu Eles (2000) e de Viva São João (2001), projetos quase que inteiramente dedicados à obra do pernambucano.

Mas estão lá o primeiro “cover” de Gonzagão, ‘Imbalança’, cujo fonograma foi extraído do CD Cidade do Salvador (1973), a roupagem moderníssima de ‘Vem morena’ (do CD Raça Humana, 1984), ‘Macapá’, lado B do compacto Não Chore Mais (1979) e a pungente ‘Respeita Januário’ do disco ao vivo em Montreux (1978). Ah, o encarte é generoso, com as letras das músicas e uma bela foto do setentão Gil ao lado do centenário Lua.

COLETÂNEA DUPLA
Gil também está no duplo Olha Pro Céu, coletânea bastante eclética de 28 faixas – 14 em cada CD – com nomes que vão da nossa Elba Ramalho a Caetano Veloso. São canções já conhecidas, extraídas dos empoeirados acervos das extintas Philips, Polygram, Ariola, Elenco, etc. e reunidos em um belíssimo estojo duplo digipack, com ótimo texto do jornalista Tárik de Souza.

Gilberto Gil comparece com três faixas do recente Fé na Festa ao Vivo (lançado em 2010 pela própria Universal) – ‘Olha pro céu’, Juazeiro’ e ‘Dança da moda’ - mais a citada ‘Imbalança’ de Cidade do Salvador.

O conterrâneo Caetano Veloso fornece a releitura tropicalista do clássico absoluto ‘Asa branca’, do seu disco homônimo de 1971, mais a performance de ‘A volta da asa branca/Eu só quero um xodó’ extraída de Phono 73 (1973), ‘Baião de dois’ (2002) e a inédita versão voz e violão de ‘Respeita Januário’, de uma demo caseira que Caetano fez de aniversário para o filho Zeca, que em 1999 completava dez anos de vida.

A coletânea não ignora o discípulo maior de Gonzaga, o cearense Dominguinhos, que está lá com o pot-pourri 'Siri jogando bola/Respeita Januário/Forró do mané', que gravou em Forró de Dominguinhos (1975).

O Quinteto Violado aparece mais: 'Algodão', 'Numa sala de reboco', 'São João do carneirinho/São João na roça/Polca fogueteira', o manifesto 'Vozes da seca' e a única faixa do CD que traz a participação de Gonzagão: 'Asa branca', registrada no LP Antologia do Baião (1977).

O disco ainda traz as gravações da 'Rainha do Baião' Carmélia Alves e da 'Princesinha do Baião' Claudette Soares. Tem também Bethânia, Elba (com 'Dúvida', de 1991, e 'Roendo unha', de 1983), Gal Costa, Amelinha, Fafá de Belém, Marília Medalha, Alceu Valença e Gerson King Combo.

VERSÕES INÉDITAS
Por fim, mas não menos importante, chega às lojas o melhor tributoà Luiz Gonzaga até agora. A caixa 100 Anos de Gonzagão, da Lua Music, reúne nada menos que 50 regravações inéditas do Rei do Baião, a partir de um time extraordinário: Fafá de Belém, Geraldo Azevedo, Amelinha, Zezé Motta, Ednardo, Gaby Amarantos, Ângela Rôrô, Rolando Boldrin, Elke Maravilha, Wanderléa, Zeca Baleiro, Vânia Bastos, Edy Star, Dominguinhos e os internacionais Forró in the Dark e Nation Beat.

A Paraíba está bem representada no CD. Estão lá Zé Ramalho (‘A Morte do vaqueiro’), Elba (‘No meu pé de serra’), Chico César (‘Pau de arara’) e Cátia de França (‘Vozes da seca’) em gravações modelo 2012.

“Inicialmente, a gravadora queria uma seleção de 20 músicas”, lembra o produtor do projeto, Thiago Marques Luiz, em entrevista ao JP, por telefone. “Mas é difícil escolher apenas 20. Então eu trabalhei bastante para chegar a 50, 50 versões inéditas que deram origem a três CDs (nomeados como ‘Sertão’, ‘Xamego’ e ‘Baião’)”.

O projeto ganhou forma no final do ano passado e entre janeiro e maio deste ano, Thiago acompanhou o time de artistas dos mais diversos estilos e gerações da música brasileira ao estúdio. Ou pelo menos parte deles. “A maioria desses artistas foi gravado em São Paulo. Dai gravamos uns 12, ou 15, no Rio.Outros, como Chico César, gravou ai em João Pessoa, o Forró in the Dark gravou em Nova York”, conta.

O repertório foi escolhido pelo próprio Thiago, salvo uma ou duas sugestões dos interpretes. A seleção contempla os grandes hits na voz de Gonzagão, mas também canções pouco conhecidas.

“Eu achei importante colocar algumas músicas menos conhecidas, para o projeto ter um certo diferencial”, justifica.

“Um amigo me disse: -Esse CD parece o Cassino do Charinha! Tem até a Elke Maravilha!”, lembra, divertido. “E o Cassino do Chacrinha mostrava isso, que há música boa em todos os gêneros”, pondera. Elke gravou, ao lado do Trio Dona Zefa, a dobradinha ‘O Xote das Meninas / Capim Novo’.

Tiago deu total liberdade aos artistas para interpretarem o cancioneiro de Luiz Gonzaga. “Cada um tem sua identidade e sua forma de cantar Gonzagão”, pontua. E esse é o grande trunfo da caixa. Da voz gutural de Zé Ramalho embalando “tengo, lengo, tengo, lengo...”, até a versão roqueira de ‘Baião’ protagonizada por Wanderléa, ou a recriação completamente Radiohead do Vanguart para ‘Assum preto’, há espaço para que cada artista faça sua homenagem ao aniversariante do ano, comprovando o quanto é plural, e atual, o legado de Gonzaga.

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Jornal da Paraíba

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