CULTURA
Da concepção ao resultado final, 'Elis, a Musical' é um espetáculo nota 10
É uma viagem nostálgica porque remete à juventude dos que viram e ouviram Elis em sua época. Melancólica porque fala de sonhos desfeitos.
Publicado em 12/06/2016 às 12:36
“Elis, a Musical”, espetáculo apresentado neste sábado (11) no Teatro Pedra do Reino, em João Pessoa, dialoga com dois públicos. Um, formado pelos que não foram contemporâneos de Elis Regina. Outro, pelos que foram. Neste, cabe uma subdivisão: os que não só foram contemporâneos da maior cantora do Brasil,
mas tiveram o privilégio de vê-la ao vivo.
Seja qual for o público, objetivamente, é um espetáculo muitíssimo bem realizado. Dirigido por Dennis Carvalho, “Elis, a Musical”, da concepção ao resultado final, tira nota 10 em qualquer um desses itens: texto, escolha de repertório, cenografia, figurino, direção musical, desempenho do elenco. Nada
está fora do lugar nos 150 minutos de duração dos dois atos.
Subjetivamente, a minha percepção é a de quem foi contemporâneo de Elis e pôde vê-la ao vivo. Nessa perspectiva, o musical escrito por Nelson Motta e Patrícia Andrade corresponde a tudo o que de melhor foi dito dele. É uma viagem melancólica e nostálgica por um tempo que, a despeito de ser de trevas, ofereceu contrapontos da dimensão de uma Elis Regina.
A tragédia pessoal da artista se funde ao impasse brasileiro das décadas de 1960 e 1970. Do festival que a revelou com “Arrastão” (1965) à morte aos 36 anos (1982), Elis teve pouco mais de uma década e meia de carreira. Com muita fidelidade, o espetáculo conta a sua história e um pouco da história do país através de canções que são verdadeiros petardos para seus contemporâneos.
Viagem nostálgica porque remete à juventude dos que viram e ouviram Elis em sua época. Melancólica porque fala de sonhos desfeitos, de permanentes transversais do tempo. “Elis, a Musical” faz pensar no país convulsionado da ditadura, também no de hoje. A letra comovente de “Aos Nossos Filhos”, escrita num Brasil que não existe mais, soa mais forte ainda quando ouvida agora.
A permanência dos impasses brasileiros impede o que Elis, com a voz embargada, pede na letra da canção. Que se faça a festa por ela.
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