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CULTURA

Francês decifra 'código Chirico'

Podia-se dizer que o pintor italiano Giorgio de Chirico (1888-1978) era tudo menos modesto.

Publicado em 30/09/2012 às 8:00


Podia-se dizer que o pintor italiano Giorgio de Chirico (1888-1978) era tudo menos modesto. Em uma carta datada de 1910, remetida ao artista alemão Fritz Gartz, com quem estabeleceu farta correspondência, proclamava: "Sou o único homem que compreendeu Nietzsche. Todas as minhas obras mostram-no".

Instigado pela frase, o filósofo francês Jean Maurel dedicou-se a associar a arte metafísica de Chirico ao 'pensamento do martelo' de Nietzsche. O resultado está em Nas Mãos do Monstro: O Rendez-vous de Nietzsche com Chirico (Nova Alexandria, 128 páginas, R$ 38,00), obra que chega ao Brasil após a passagem da exposição itinerante De Chirico: O Sentimento da Arquitetura pelo país.

Como o próprio Maurel assinala, casos de escritores e pensadores que mantêm um diálogo com a arte há às pampas: Baudelaire, por exemplo, considerava Constantin Guys como o "pintor da vida moderna"; Sartre escreveu seu romance A Náusea (1938) sob influência do quadro homônimo de Albrecht Dürer.

O caminho de volta também é bastante comum. Chirico, admirador confesso do pensador alemão, tinha, nas palavras do autor, uma "paixão súbita" pelo Zaratustra de bigodes.

"Ela é confessada e declarada longamente por numerosos textos do pintor. Estes, todavia, permanecem mais sugestivos que explícitos, como se o artista quisesse preservar o enigma, o segredo desse contato, dessa proximidade excepcional que parece ultrapassar o domínio mesmo da arte como a entendemos habitualmente e tocar, profundamente, a vida", escreve Maurel.

Este 'código' é desvendado a partir do 'mostrador de monstros' de Chirico: seu pincel, reproduzido nesta edição com a reprodução colorida de vários de seus quadros, examinados pelo pesquisador, mestre da Universidade de Paris I - Sorbonne, e especialista em filosofia e literatura.

A imagem da capa: Turim Primaveril, de 1914, representa bem este encontro: tema recorrente da paleta de Chirico, as praças de Turim foram também os cenários para os textos mais célebres de Nietzsche, como Ecce Homo, publicada por um homem às voltas com seu rebuliço mental e agitação de espírito.

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Jornal da Paraíba

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