Joffily fechando sua trilogia da vocação

Se o primogênito dos Joffily, Francisco, não fosse o que o seu irmão mais novo chamou de "melômano", a Paraíba talvez tivesse perdido um cineasta para ganhar um músico.

"Por causa do meu irmão, que monopolizava o aparelho de som da casa, nunca tive espaço para ouvir música", lamenta José Joffily ao JORNAL DA PARAÍBA.

Talvez tenha sido este sentimento de frustração que o diretor tentou compensar com Prova de Artista (Brasil, 2011), documentário que estreia nacionalmente hoje, em sete praças de cinema.

Os paraibanos que quiserem prestigiar o conterrâneo, porém, vão ter que ir a Natal (RN), única cidade nordestina onde o filme será exibido.

Segundo Joffily, o longa-metragem fecha uma série que ele batizou de 'Trilogia da Vocação', iniciada em 2001 com O Chamado de Deus e retomada em 2005 com Vocação do Poder.

"Sempre me interessei pelo tema da vocação: o que leva uma pessoa à profissão que escolheu para o resto de sua vida.

Primeiro abordei a vocação religiosa, depois a política, e agora me volto à vocação artística", explica.

Durante a produção do documentário, Joffily acompanhou de perto a rotina de cinco integrantes de algumas das principais orquestras sinfônicas do país: a Orquestra Sinfônica Brasileira, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo e a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais.

"As filmagens foram feitas ao longo do processo de audição dos músicos, o que é quase um rito litúrgico no meio erudito, com o instrumentista executando suas peças diante de uma parede, sabendo que seus preceptores estão lá atrás", conta Joffily.

Ao mesmo tempo em que retrata as tensões e os conflitos internos dos músicos, Prova de Artista também tem a ambição de fazer uma radiografia social do Brasil, pousando o olhar sobre postulantes a uma carreira que, muitas vezes, é o estro de algumas famílias brasileiras.

"Todos os músicos são de origem modesta, um deles é filho de um metalúrgico de Taubaté, no interior de São Paulo, e foi a grande aposta da família para aumentar sua renda mensal".

FICÇÃO E REALIDADE
Homenageado na edição passada do Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro, que lhe concedeu um troféu pelo conjunto da obra, José Joffily voltou ao documentário depois que sua ficção Olhos Azuis (Brasil, 2010) faturou cinco prêmios no Festival de Paulínia do ano passado.

Para o diretor, não há muita diferença atuar nas duas instâncias: a da realidade e a da ficção.

"Provavelmente um outro cineasta faria um documentário completamente diferente sobre a vocação, se o tema também lhe despertasse interesse. Esta é a minha visão sobre o tema então, certamente, deve haver também algo fictício nisso."