CULTURA
Mauricio de Sousa 'upgrade'
Gustavo Duarte e Shiko autografam seus álbuns, lançados pelo Graphics MSP; editor Sidney Gusman fala sobre o projeto.
Publicado em 07/12/2013 às 6:00 | Atualizado em 04/05/2023 às 13:18
“Tem leitores que voltaram a ler quadrinhos por causa desse projeto”, declara com grande satisfação Sidney Gusman, editor do Graphics MSP, selo que traz versões dos famosos personagens criados por Mauricio de Sousa por uma nova geração de quadrinistas nacionais.
Foram quatro álbuns de 80 páginas lançados pela Panini através da Mauricio de Sousa Produções (MSP): Astronauta – Magnetar, de Danilo Beyruth (com cores de Chris Peter), Turma da Mônica - Laços, dos irmãos Lu e Victor Cafaggi, Chico Bento - Pavor Espaciar, de Gustavo Duarte, e Piteco - Ingá, de Shiko.
Esses dois últimos autores – junto com o editor – vão autografar seus respectivos trabalhos neste sábado, a partir das 18h, na gibiteria Comic House, em João Pessoa.
O embrião do selo nasceu em 2009, com o lançamento do álbum MSP 50, onde 50 artistas prestam reverência à carreira cinquentenária do ‘pai’ da Mônica e cia. O sucesso foi tamanho que vieram mais dois volumes na esteira do projeto: MSP + 50 e MSP Novos 50.
Gusman explica que um dos objetivos do Graphics MSP é resgatar o leitor infantojuvenil adulto. “Eu acreditava no sucesso, mas foi mais do que eu esperava”, confessa. “Surgiu até o colecionador de MSP”.
Sem revelar números, Sidney Gusman – o Sidão para os mais chegados – conta que o primeiro álbum do selo, Magnetar, já teve duas reimpressões e já ultrapassou fronteiras, sendo publicado na Alemanha, Espanha, França e Itália; Laços está na quarta reimpressão e os outros dois, Pavor Espaciar e Ingá, não tiveram reimpressões porque as suas primeiras tiragens foram aumentadas em relação aos outros álbuns.
FUTURO
No mês passado, durante o Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ), realizado em Belo Horizonte (MG), Sidney Gusman anunciou a próxima fornada de Graphics MSP: Papa-Capim, por Marcela Godoy e Renato Guedes; Bidu, por Eduardo Damasceno e Luis Felipe Garrocho; Turma da Mata, por Greg Tocchini, Davi Calil e Artur Fujita; Penadinho, pelo casal Paulo Crumbim e Cristina Eiko; junto com duas sequências Astronauta 2, de Danilo Beyruth, e Turma da Mônica 2, dos irmãos Cafaggi.
“O processo de escolha foi demorado”, conta o editor. “Passei meses quebrando a cabeça pensando nos autores e personagens. A ideia era justamente ter diversidade”.
Sidão declara que o projeto não tinha previsão de ter uma continuidade. “O sucesso nos fez mudar de ideia. Os caras vão querer se superar. Vamos surpreender o pessoal mais uma vez”, promete.
CAIPIRAS E PRÉ-HISTÓRIA
Apesar de ter sido o terceiro publicado, Gustavo Duarte foi o primeiro a ser convidado para a empreitada do Graphics MSP.
Empolgado, ele foi o único que escolheu o personagem e queria ir além: “Queria fazer um crossover entre o Chico Bento e o Pelezinho em Bauru”, relembra, sendo ‘acalmado’ pelo editor, Sidney Gusman.
O humor gráfico visto em obras anteriores como Có, Taxi, Birds e Monstros ‘casou’ com o tema que Gustavo adora: ficção científica. “Quando precisavam de um plot para saber o que seria cada história, pensei logo que funcionaria o Chico Bento e o Zé Lelé serem abduzidos”.
Dentre as várias referências pop espalhadas nas páginas de Chico Bento - Pavor Espaciar, em determinado momento vemos a dupla de caipiras sentados no sofá cercado de quadrinhos, uma cena biográfica nas reminiscências do autor. “Aquele sofá é minha infância, quando eu e meu primo ficamos lendo e desenhando”, conta o quadrinista. “Ali tem três dos meus maiores mestres: (Will) Eisner, (Charles) Schulz e (Sergio) Aragonés”.
Já Piteco - Ingá tem um verdadeiro ‘cordão umbilical’ com a Paraíba. Além de ser feito pelo paraibano Shiko, o autor homenageou os petróglifos da Pedra de Ingá, no Agreste do Estado, um dos registros rupestres mais antigos do país que datam aproximadamente de seis mil anos atrás.
“Quando crio uma ficção, tenho que ter uma referência do meu real pra ‘lombrar’ em cima”, analisa. “A referência pré-história que mais tinha próximo era Ingá. É um ponto de partida da história de uma informação gráfica que foi deixada ali para ser vista e percebida por outras gerações”.
Para Shiko tentar entender esse mundo, ele fala que explorou o viés místico e divino, elementos importantes dessa época. Por isso, de acordo com o quadrinista paraibano, a personagem Thuga tem um papel vital na trama. Raptada pela tribo dos homens-tigres, o álbum mostra Piteco indo ao seu resgate quando o povo de Lem migra após o rio próximo à aldeia secar.
“Aquele perfil de Thuga de uma mulher atrás de um marido funciona apenas para a proposta da versão infantil da personagem”, reflete. “Para uma personagem mais adulta, ela tinha que ter mais tutano e representar um lado místico e de fertilidade, elementos-chave para a minha versão do Piteco”.
OUTRAS OBRAS
Na noite de autógrafos deste sábado na Comic House, os autores também vão rabiscar para os leitores seus outros álbuns.
Gustavo Duarte apresentará suas HQs independentes Taxi e Birds juntamente com Monstros (Quadrinhos na Cia.) e 13, coletânea que reúne cartuns, charges e outros trabalhos gráficos.
Dentre os álbuns que levam a assinatura de Shiko estarão disponíveis O Quinze (Ática), adaptação do romance homônimo de Raquel de Queiroz, Marginal (Marca de Fantasia), seleção de HQs curtas de seu fanzine de mesmo nome, e O Azul Indiferente do Céu (Marca de Fantasia), uma fábula sobre a violência e a banalização da morte na América Latina, focada nos últimos momentos do ativista colombiano Héctor Abad Gómez.
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