CULTURA
Novo banho de sangue
Protagonizado por Chloë Grace Moretz, clássico do horror 'Carrie, a Estranha', ganha nova versão para os cinemas e estreia em JP.
Publicado em 06/12/2013 às 6:00 | Atualizado em 04/05/2023 às 13:17
No começo dos anos 1970, quando um desconhecido Stephen King não ostentava a coroa de um dos escritores mais adaptados da Sétima Arte, ele repousava não necessariamente em um trono: se escondia entre monstros e vampiros atrás de sua Olivetti portátil, em um trailer no Maine, EUA, enquanto sua mulher, Tabitha, digladiava com uma montanha de contas para pagar no meio do choro de seus dois filhos pequenos.
Dentre uma e outra decepção dos parcos rendimentos de seus contos publicados, Tabitha resgatou do inferno reciclável da lixeira um manuscrito intitulado Carrie e o resto foi história, com direito a virar best-seller e ter uma adaptação cinematográfica em 1976 por Brian De Palma, com Sissy Spacek e Piper Laurie como protagonistas. O primeiro romance de King ganha mais uma versão homônima para o cinema, que estreia a partir desta sexta-feira, em João Pessoa.
Em Carrie, a estranha (Carrie, EUA, 2013), a personagem principal é uma adolescente tímida e introspectiva, engaiolada nas ‘asas’ da mãe – uma mulher com um exagerado e distorcido fervor religioso – seu único modelo familiar.
Menosprezada pelas colegas de escola, Carrieta White carrega um segredo tão bem guardado que nem a sua mãe conhece: ela desenvolve desde cedo habilidades telecinéticas, fenômeno onde a pessoa consegue mover objetos apenas usando a mente.
Sua inocência é tão grande que, quando sua primeira menstruação acontece no vestiário feminino após a aula de educação física, ela pensa estar morrendo, esvaindo-se em sangue. Mais um motivo para as garotas jogarem absorventes e insultos na ‘estranha’.
Carrie aprendeu que os pecados da carne são punidos severamente pela opressão de sua genitora baseada no sagrado. A tensão crescerá até o dia do baile de formatura, onde o seu ‘dom’ espontâneo vai desencadear a chama da vingança.
Desta vez, a frágil e humilhada protagonista da nova versão é Chloë Grace Moretz, que fez a forte e segura Hit-Girl da franquia Kick-Ass. Diferente de beldades ‘enfeadas’ como a sul-africana Charlize Theron em Monster (2003), a atriz apenas está descabelada e sem maquiagem nos trailers oficiais. Stephen King descreve a personagem na obra como um ‘patinho feio’ no meio dos cisnes, esquelética e com espinhas no rosto e nas costas.
Julianne Moore (As Horas, Ensaio sobre a Cegueira) encarna a matriarca Margareth White, que promete dar mais carga dramática na produção. Também estão no elenco Gabriella Wilde (Os Três Mosqueteiros), Portia Doubleday (K-11), Judy Greer (Os Descendentes), Alex Russell (A Hospedeira) e o estreante Ansel Elgort.
Tanto no site oficial quanto no primeiro cartaz divulgado do filme é possível ver a frase “Você saberá o nome dela”. Trata-se de uma referência ao último verso da canção-título de um musical da Broadway baseado no filme original.
EM NÚMEROS
Com mais de 60 obras – entre coletânea de contos e romances – Stephen King já foi traduzido para mais de 40 países, sendo um dos dez autores mais traduzidos do mundo desde 1932, ao lado de nomes como William Shakespeare, Júlio Verne, Hans Christian Andersen e Agatha Christie, conforme dados fornecidos pela Unesco.
Atualmente são mais de 50 adaptações para o cinema e TV baseadas nas ideias de King, que ofereceu seu primeiro romance do gênero de terror para a esposa Tabitha, que resgatou um manuscrito remexendo no seu lixo e encorajou seu autor a reescrever e publicar um romance sobre uma esquisita garota chamada Carrie: "Para Tabby, que nisto me enrolou e depois me safou".
No Brasil, o romance foi publicado pelas editoras Nova Fronteira (1974), Abril Cultural (1983), Nova Cultural (1987), Planeta DeAgostini (2004), Objetiva (2007) e Ponto de Leitura (2009).
VERSÕES DA OBRA DO 'REI DO TERROR'
Em 1974, Brian De Palma já tinha anos de experiência como cineasta quando leu pela primeira vez Carrie, a estranha. Ficou interessado pela história, procurou saber se alguém em Hollywood já tinha adquirido seus direitos para o cinema e comprou por US$ 2.500,00.
O resultado foi uma produção ‘hitchcockiana’ (De Palma sempre reverenciava o ‘Mestre do Suspense’), tendo a tela repartida em dois pontos de vista e a câmera lenta como marcas registradas do diretor.
Foram duas indicações ao Oscar da época, nas categorias de Melhor Atriz (Sissy Spacek) e Coadjuvante (Piper Laurie como a mãe da protagonista). O elenco ainda contava com nomes como Amy Irving (ex de Spielberg e do brasileiro Bruno Barreto), John Travolta (pré Os Embalos de Sábado à Noite) e Nancy Allen (a policial Murphy da franquia Robocop).
Além da versão de 1976 e a que estreia hoje, Carrie, a estranha ganhou uma ‘continuação’, A Maldição de Carrie (1999) e um longa-metragem homônimo para a TV norte-americana em 2002, com um final em aberto para uma eventual série, que nunca saiu do papel em virtude do filme não ter sido bem recebido pelo público e crítica.
A nova produção é dirigida pela cineasta Kimberly Peirce, que comandou o drama Meninos Não Choram (1999). O roteiro ficou por conta de Lawrence D. Cohen (que já adaptou outras obras de King como as produções televisivas It e The Tommyknockers) e Roberto Aguirre-Sacasa (escritor de episódios de Glee e Big Love).
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