O camaleão ressurge

Em 8 de janeiro passado, o roqueiro inglês David Bowie anunciou o lançamento de um novo álbum de inéditas, The Next Day. Foi nesse dia, dia do seu aniversário, que o mundo soube que um dos mais inovadores artistas da música pop não estava aposentado.

Com raríssimas aparições públicas, Bowie passou a última década recluso. E foi com o sigilo absoluto do produtor Tony Visconti - um velho e habitual parceiro (fez com Bowie discos célebres como Space Oddity e Low) - e dos músicos envolvidos no projeto que o cantor passou 2,5 anos azeitando seu novo álbum.

The Next Day (Sony Music, R$ 27,90) chega nesta terça-feira às lojas de todo o planeta. A esta altura, os fãs já conhecem pelo avesso as 14 faixas do novo trabalho, disponíveis para audição em stream no iTunes desde o final de fevereiro.

O álbum é o primeiro disco do Camaleão do Rock – apelido que ganhou devido à versatilidade com que construiu sua carreira – desde Reality (2003), lançado um ano antes de Bowie sofrer o infarto que lhe tirou de circulação.

Aos 66 anos de idade, Bowie opta por revisitar seus melhores anos, sobretudo a década de 70, pista dada pela própria capa do trabalho, feita em cima do lendário Heroes (1977).

Por essa época, o cantor morou na Berlim e essas lembranças são evocadas na letra e no videoclipe de ‘Where are you now’.

O tom melancólico da canção não traduz a pegada rock do disco – Bowie escolheu a balada para intermediar seu reencontro com o público de uma maneira mais sutil.

The Next Day é um álbum de rock até o osso, apesar da significativa quantidade de baladas. É um dos melhores trabalhos do músico, mesmo que não aponte novas direções para o pop.

Seu “lado A” aposta nas canções com maior potencial comercial, como a faixa-título, de pegada pós-punk e refrão poderoso; ‘Dirty boys’, com ótimo refrão e sax marcante; a citada e belíssima ‘Where are you now’ e o novo single ‘The stars (are out tonight)’, melhor faixa do repertório.

A partir de ‘If you can see me’, o álbum é para os fãs mais íntimos da obra do camaleão. Destaque para 'Id rather be high', 'How does the grass grow' e '(You will) Set the world on fire', hard-rock de guitarras pesadas e vocais vintage.

À medida que se aproxima do fim, o disco vai ficando mais melancólico. ‘You feel so lonely you could die’ (“Você se sente tão só que poderia morrer”), a penúltima faixa, é a balada mais triste do disco, mas sua beleza a leva ao topo das melhores canções do álbum.

E é com vocal fantasmagórico e cantando sobre seu passado (‘Heat’) que Bowie encerra sua obra, um passeio pela mente, pelo coração e pela música de um dos grandes artistas em atividade do planeta.