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CULTURA

O oásis acústico de Bethânia

Unindo música e poesia, Maria Bethânia lança seu 50º disco. O trabalho acústico traz pela primeira vez a gravação de um texto da cantora.

Publicado em 03/04/2012 às 6:30


Poucos são os artistas que lançam 50 discos com a relevância de Maria Bethânia. Por isso, a cantora resolveu valorizar seu 50º trabalho, Oásis de Bethânia (Biscoito Fino, R$ 31,90), celebrando seu canto e seu texto com um disco acústico, minimalista, que ressalta a voz, a colocação e a afinação de uma das maiores cantoras vivas do país. Além disso, pela primeira vez, Bethânia grava um texto seu, num disco que harmoniza sua proposta de unir música e poesia.

Oásis de Bethânia interrompe a sequência de belos e orquestrais discos arranjados pelo maestro Jaime Alem para dar vazão a uma criação coletiva de muito canto e um mínimo de instrumentos.

Bethânia atribuiu a uma série de amigos a tarefa de recriar as dez faixas do disco, dando-lhes total liberdade. Esses amigos atendem por nomes como Hamilton de Holanda, Lenine, Djavan, Marcelo Costa, André Mehmari e o próprio Jaime Alem.

O rumo musical de Bethânia, embora seja algo novo, não é inédito. Lançado há 28 anos, o disco Ciclo tinha papel semelhante, de dar novos ares a uma cantora que tinha estabelecido uma sonoridade deslumbrante com Mel (1979) e Alteza (1981). Ou como disse Chico Buarque a respeito de seu disco Francisco (1987), “Francisco é algo novo, sem ser novidade”.

A máxima se aplica a Oásis de Bethânia, que inclui uma versão da faixa de abertura de Francisco, ‘O velho Francisco’. Aqui, a salsa-merengue ganhou os arranjos de Lenine, que toca seu inconfundível violão na companhia de Jorge Helder (baixo) e Marcelo Costa (percussão). "A gravação do Chico é exuberante, mas queria uma coisa com mais peso, algo que doesse mais.

Lenine tem a genialidade musical e uma coisa rítmica de Pernambuco, do frevo, da África, do céu, do inferno. Ele é genial'', disse a cantora à agência Folhapress.

Djavan pilota a criação de uma faixa dele, inédita por sinal. ‘Vive’ traz, no DNA, a poesia e o violão do alagoano, que além da letra, emprestou seu dedilhado no instrumento à faixa, que também conta com Jorge Helder e Marcelo Costa. Em entrevista coletiva, concebida na semana passada, no Rio, Bethânia explicou que Djavan a procurou e, mesmo sem nada nas mãos, acabou presenteando o disco com ‘Vive’. "Ele quis fazer uma canção para mim e enviou material com ele mesmo tocando'', disse a cantora.

"Percebi, então, que não poderia ser outra pessoa na gravação''.

Coube a Hamilton de Holanda trabalhar a canção de Candido das Neves, ‘Lágrima’, belíssimo choro imortalizado na voz de Orlando Silva, para a faixa que abre o CD. Somente acompanhada pelo bandolim de Holanda, Bethânia dá aos versos ‘Quero fazer das lágrimas que choro / Estrelas a brilhar / Rosas de cristal / Do pranto emocional’ a elegância emocional que a letra exige.

Sozinha, Bethânia debruçou-se sobre ‘Calmaria’, de Jorge Velloso, colocando sua voz em primeiro plano, acompanhada somente pelos berimbaus de Marcelo Costa e Marco Lobo. De poesia afiada, a letra de Velloso conecta-se à récita de ‘Não sei quantas almas tenho’, de Fernando Pessoa (sob o heterônimo de Bernardo Soares).

Das dez faixas, três são do baiano Roque Ferreira, autor recorrente em discos de Bethânia e que em 2010 ganhou um belo tributo de Roberta Sá, junto ao Trio Madeira Brasil. Arranjado pela cantora com Jorge Helder, ‘Casablanca’ transporta o clássico filme de Michael Curtiz para junto de Caymmi através do piano suave de Vitor Gonçalves e um solo preciso de sax com Marcelo Martins.

O piano de Vitor volta, solitário, em ‘Barulho’, outra recriação da dobradinha Bethânia-Helder. A terceira canção de Roque Ferreira rendeu um dos melhores momentos do álbum: ‘Fado’. Uma das mais belas letras do compositor baiano ganhou arranjo e o belo dedilhar do violão e das violas do maestro Jaime Alem, piloto de boa parte dos discos que Maria Bethânia lançou nos últimos 25 anos.

Do nosso Jackson do Pandeiro, ela toma o primeiro verso do samba ‘Lágrima’ (‘Nenhuma lágrima, derramei por você...’) para introduzir ‘Calúnia’ (Marino Pinto/Paulo Soledade’) com os arranjos e o violão de 7 cordas de Maurício Carrilho.

Bethânia deu à André Mehmari a incumbência de recriar a parceria do saudoso Rafael Rabelo com Paulo César Pinheiro, ‘Salmo’, para o desfecho de um repertório nobre e emocionante.

"Queria que o Elton John tivesse participado, mas André Mehmari cobriu bem'', disse a artista sobre o músico, que ainda toca piano (não creditado) na gravação.

De Paulo César Pinheiro, Bethânia também gravou ‘Carta de amor’, recriada por Marcelo Costa. Aqui, a cantora pega carona para um feito inédito: entrelaça os versos de Pinheiro com um poema seu, repleto de religiosidade. “Eu tenho Jesus, Maria e José / Todos os pajés em minha companhia / O menino-Deus brinca e dorme nos meus sonhos / O poeta me contou”.

Aos 65 anos e com disposição de se recriar, Bethânia se mantém firme como uma cantora de repertório valioso e uma interpretação majestosa, que busca, sobretudo no Nordeste (traduzida pela foto de capa, feita por Gringo Cardia no Sertão de Alagoas), a força da canção brasileira.

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Jornal da Paraíba

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