CULTURA
Opinião: Quinteto da Paraíba e o bodejado mavioso
Jamarrí Nogueira fala da edição do Quinteto Convida com Escurinho e Totonho.
Publicado em 14/10/2018 às 7:04 | Atualizado em 19/10/2018 às 13:09
Nas últimas três décadas, o Quinteto da Paraíba tornou-se referência nacional da música instrumental (de extrema qualidade). Sonoridade camerística armorial. Essa construção rende – desde o ano passado – ‘duetos’ com grandes nomes da música brasileira. Cantores populares, celebridades do universo instrumental e heróis da cultura popular já participaram do projeto Quinteto Convida, que ocorre em João Pessoa (com algumas edições em Campina Grande).
No último dia 5, na Sala de Concertos Maestro José Siqueira, na Funesc, o Quinteto Convida recebeu – pela primeira vez – dois cantores da cena paraibana: Escurinho e Totonho. Uma noite fantástica. Uma ‘brincadeira’ elegante. Mais uma noite de encontro entre plataformas distintas (em um casamento profundamente harmonioso). Os arranjos de Carlos Anísio e Xisto Medeiros deram ainda mais grandiosidade às composições dos dois convidados.
A noite começou com ‘Lamento nordestino’. Depois disso, canções de Escurinho e Totonho ganharam ressignificações. Escurinho começou com ‘Savanas’ e seguiu com a inédita ‘Cadê as flores?’ (em parceria com Chico César), ‘O princípio básico’, ‘Usura’ e ‘Sai de casa’. Canções dos discos ‘Labacé’, ‘Princípio básico’ e ‘Malocagem’. Também teve a divertida ‘Boi Tungão’ e ‘Lá vem a onda’.
Escurinho me surpreendeu bastante com o nível de maturidade performática. Algo que garantiu a completa harmonia com o Quinteto. É bem verdade que o mestre Escuro pareceu tolhido no palco, mas nada apático. O volume da voz reverberou mais baixo. E o tom para cantar as músicas também foi mais baixo. Mas, a alegria era explícita! Cavernoso e talentosamente selvagem, Escuro foi um lorde!!!
https://www.facebook.com/reiromao/videos/1895387817221116/
Nem mesmo as manifestações de apoiadores políticos na plateia tiraram o foco de Escurinho na apresentação. Não errou nada! Foi perfeito na necessária concordância sonora que a noite exigia. Foi perfeito no equilíbrio que o show – às vésperas do primeiro turno das eleições – exigia. Sendo mais explícito: Escurinho era candidato a uma vaga na Assembleia Legislativa e, claro, que não poderia se manifestar como candidato! Cumpriu a regra muito bem.
Ao lado do Quinteto da Paraíba (formado por Xisto Medeiros, Ronedilk Dantas, Thiago Formiga, Nilson Galvão e Ulisses Silva), Totonho também mandou seu recado. Foi lindo (apesar dos erros e desencontros)! Cantou ‘Glaciais’, ‘O vaqueiro’, ‘Mandei meu amor pro espaço’ e a inédita ‘Pra não dizer que não falei de frevo’. Teve, ainda, ‘O samba’ (de seu novo disco ‘Samba Luzia Gorda), ‘Nhem, nhem, nhem’ e, claro, ‘Tudo pra ser feliz’.
Diferentemente de Escurinho, Totonho não parecia tolhido nem engessado. Soltou a voz. Berrou lindamente como de costume. Mas, não teve o mesmo nível de harmonia que Escuro teve com o Quinteto. Na canção ‘Glaciais’, por exemplo, o show teve que parar porque o cantor entrou errado (parou até porque há um registro em vídeo e todos querem o melhor registro). A plateia não ligou. Até aplaudiu! E isso em nada diminuiu a beleza do show...
>>> Veja outros artigos de Jamarrí Nogueira no Jornal da Paraíba
Às vésperas da eleição do último final de semana, Totonho foi pouco político, mas ainda lançou um ‘Marielle... Presente!’ e também discursou muito brevemente sobre o risco que a democracia no Brasil e na América Latina está correndo. A plateia aplaudiu, gritou pouquíssimas palavras de ordem, mas não transformou o show em uma manifestação política. O Quinteto?!?! Como sempre, impecável. Dandesco!!!
E por falar em Quinteto Convida, ano que vem, o grupo celebrará 30 anos. Um dos principais projetos dessa nova fase do grupo é o Quinteto Convida, que já recebeu artistas do calibre de Marcelo Jeneci, Carlos Malta, Nelson Ayres, Toninho Ferragutti, Zeca Baleiro, Maestro Spok, Duofel e Mônica Salmaso. A programação do Quinteto Convida para ano que vem é tão boa quanto a deste ano.
A temporada 2019 começará em fevereiro com Mônica Salmaso. Em abril, o show será com Guinga. Em junho, com Antônio Nóbrega. Egberto Gismonti vem em agosto. E também tem Lenine na programação, em outubro. Apenas o último show não está confirmado, conforme Xisto, mas deverá ser com Ney Matogrosso, em dezembro.
Para 2020, bem que o Quinteto Convida poderia ter um encontrão do Quinteto da Paraíba com grandes nomes da contemporânea cena musical paraibana. Uma edição com uns 12 convidados! Cada um deles cantando duas músicas.
Uma seleção que poderia contar com nomes do calibre de Jonathas Falcão (Seu Pereira), Adeildo Vieira, Chico Limeira, Titá Moura, Nathália Bellar, Val Donato, Milton Dornellas, Sandra Belê, Alex Madureira, Guga Limeira, Renata Arruda e Pedro Índio Negro. E isso é uma dica... Apenas uma dica... E vida longa ao Quinteto...!!!
* Jamarrí Nogueira é repórter da CBN João Pessoa e escreve sobre arte e cultura aos domingos no Jornal da Paraíba.
Comentários