CULTURA
Paraíba com memória: onde está a originalidade?
Projeto lançado pelo Sistema Correio já foi realizado há quase dez anos pela Rede Paraíba de Comunicação.
Publicado em 17/05/2015 às 11:00 | Atualizado em 09/02/2024 às 17:03
O nome é o mesmo: Paraíba com memória. O objetivo é o mesmo: o resgate da história de personagens importantes do nosso Estado. O projeto que o jornal Correio lançou no último domingo nada tem de original. Já foi realizado pelos veículos da Rede Paraíba de Comunicação há quase uma década.
Ao longo de quase 30 anos, trabalhar com o resgate da memória tem sido uma das marcas institucionais dos diversos veículos que compõem a Rede Paraíba de Comunicação. No final da década de 1980, as TVs Paraíba e Cabo Branco realizaram uma série pioneira de documentários intitulada “A Paraíba e seus artistas”. Produzidos e apresentados pelo jornalista e professor Rômulo Azevedo, os programas contaram a história de artistas como Jackson do Pandeiro, Sivuca e Antônio Barros e Cecéu.
Outro marco foi a realização da escolha, no ano de 2001, do Paraibano do Século, que envolveu as duas emissoras de televisão e também o Jornal da Paraíba. Após percorrer todo o Estado, uma ampla caravana que convocava a população a votar em urnas eletrônicas ajudou a difundir a trajetória e o legado de nomes como Ariano Suassuna, José Lins do Rego, José Américo de Almeida, Celso Furtado e Epitácio Pessoa. Ao final do projeto, o poeta Augusto dos Anjos foi o escolhido, de forma consagradora e através do voto direto de milhares de pessoas.
Um fato de grande repercussão pública foi o gesto de Ariano Suassuna de vir a João Pessoa sugerir que a população não votasse nele, mas em Augusto dos Anjos. O escritor procurou a TV Cabo Branco e pediu que uma equipe o acompanhasse a uma urna eletrônica instalada na então Escola Técnica para registrar seu voto no poeta do “Eu”. Dos dez nomes que concorreram à escolha do Paraibano do Século, somente Ariano e Celso Furtado estavam vivos quando a eleição foi realizada.
Já o projeto Paraíba com memória, ora reprisado pelo Sistema Correio, foi originalmente realizado pela Rede Paraíba de Comunicação em 2006. A ideia foi da então secretária estadual de Cultura, Cida Lobo, que agora é mencionada em reportagem do Correio como colaboradora desta versão 2015. Cida sugeriu a realização do projeto ainda em 2003 e este foi encampado pela Rede Paraíba.
Uma parceria entre o governo do Estado e as TVs Cabo Branco e Paraíba e o Jornal da Paraíba viabilizou uma série de ações em torno de grandes personagens da nossa história. Foram escolhidos cinco vultos representando regiões distintas do Estado: o poeta Augusto dos Anjos, o teatrólogo Paulo Pontes, o pintor Pedro Américo, o músico José Siqueira e o poeta popular Pinto do Monteiro.
O projeto Paraíba com memória, em sua edição original, era composto por reportagens especiais nas TVs Cabo Branco e Paraíba e no Jornal da Paraíba e ações presenciais, de caráter educativo, nas cidades de origem dos homenageados. Um dos marcos da iniciativa foi a restauração do Memorial Augusto dos Anjos, em Sapé, cuja entrega contou com a presença do poeta Ronaldo Cunha Lima, que se projetara nacionalmente num programa de televisão respondendo em versos sobre a vida e a obra de Augusto.
A Rede Paraíba de Comunicação não se pretende detentora exclusiva da preservação do nosso patrimônio cultural e entende que qualquer instituição ou empresa pode lançar mão de seus recursos para promovê-lo. Mas lamenta que, nesse caso, o Sistema Correio faça uso de um remake. A verdade é que o Paraíba com memória lançado na semana passada em matéria do jornal Correio começa com um flagrante exercício de falta de memória.
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