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CULTURA

Praia do preconceito?

Carimbo em ingresso para o filme 'Praia do Futuro' gera polêmica; cliente acredita se tratar de ação homofóbica e se sentiu constrangido.

Publicado em 22/05/2014 às 6:00 | Atualizado em 29/01/2024 às 15:04

“Senhor, tem certeza que deseja ver esse filme? Pois ele contém cenas de sexo homossexual”, avisou o atendente da bilheteria do Box Cinépolis no Manaíra Shopping, em João Pessoa, sobre a sessão de Praia do Futuro, filme de Karim Aïnouz com o astro Wagner Moura como protagonista que entrou em cartaz na Paraíba há uma semana.

Para o espectador Iarlley Araújo do Nascimento, professor de Turismo, o mais estranho foi o carimbo de “avisado” que ele recebeu na sua entrada. “Está tendo um índice de pessoas saindo da sala muito grande”, justificou o bilheteiro, de acordo com Iarlley.

“Isso foi constrangedor”, afirma o cliente, que colocou uma foto do ingresso na rede social, acreditando que houve uma ação homofóbica por parte da rede de cinemas. “A gente tem hoje em dia a questão do homossexualismo em todas as vertentes. Acho a carnificina nos filmes mil vezes pior do que uma cena de amor entre dois homens ou duas mulheres, por exemplo”, opina Iarlley.

Segundo Ronaldo Rodrigues, um dos gerentes do Box Cinépolis de João Pessoa, o carimbo é um “procedimento básico de segurança” da empresa para alertar os consumidores que foram avisados sobre a apresentação da carteira de estudante para o bilheteiro ou que o filme não é recomendado para a faixa etária abaixo da indicada pela distribuidora. “Às vezes não são os pais que compram o bilhete e temos que avisar sobre a carteira ou a censura, independente do filme”, garante o gerente.

“Tenho carteira de estudante e nunca aconteceu isso comigo”, rebate Iarlley Araújo. “Prevenir o cliente desavisado que tem cenas de sexo deve ser direcionado para todos os públicos. Por que só em Praia do Futuro é que estão avisando?”

Não é um fato isolado: recentemente, em Aracaju (SE), um grupo de pessoas ficou tão indignado pelo filme ter tais cenas que decidiu tomar satisfação com o próprio gerente (da rede Cinemark), partindo, inclusive, para a agressão física.

“Essas atitudes parecem localizadas. Não recebi relatos sobre isso no Sul-Sudeste do país”, afirma o produtor cultural Roberto Nunes, idealizador e coordenador do projeto nacional Cine Cult, do Cinemark, e da Mostra Noite de Estreia (em João Pessoa).

Nunes afirma que o mote principal do longa-metragem não é a homossexualidade dos protagonistas. Ele lembra que o próprio Karim Aïnouz, quando participou de uma mesa-redonda no lançamento do filme em Natal (RN), pelo Cine Cult, cogitou que, se fizesse uso de divulgação das cenas de sexo, traria mais público para as salas.

“A grande confusão no imaginário homofóbico é que Wagner Moura ainda é o Capitão Nascimento (de Tropa de Elite)”, teoriza Nunes. “O ator não desvencilhou do estereótipo e virou refém do personagem”.

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Jornal da Paraíba

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