SILVIO OSIAS
Glauber Rocha, o maior cineasta do Brasil, morreu há 35 anos
Publicado em 22/08/2016 às 6:51 | Atualizado em 31/08/2021 às 7:47
Nesta segunda-feira (22), faz 35 anos da morte de Glauber Rocha, o mais importante e controvertido de todos os cineastas brasileiros.
Lembro que, no dia seguinte à morte de Glauber, o Jornal do Brasil circulou com textos assinados pelos críticos Ely Azeredo e José Carlos Avellar.
Um deles mencionava o gênio do construtor, o cineasta que levou o cinema brasileiro a obter grande prestígio internacional com os filmes que realizou, sobretudo Deus e o Diabo na Terra do Sol, Terra em Transe e O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro.
O outro artigo falava do mito do demolidor, a figura de opiniões polêmicas e discurso muitas vezes incompreendido, principalmente quando enxergava nos militares que tomaram o poder em 1964 um caminho que levaria o país à redemocratização.
Lembro das duas imagens registradas por Azeredo e Avellar porque temo que, ao longo dos anos, o mito do demolidor tenha se sobreposto ao gênio do construtor. O que, se é verdade, representa uma profunda injustiça com um cineasta do tamanho de Glauber.
O homem que fez Deus e o Diabo na Terra do Sol com pouco mais de 20 anos e estarreceu os europeus com seu filme não pode ser lembrado pelas falas desesperadas dos últimos anos de sua vida curta. O realizador que retratou o Brasil no país imaginário de Terra em Transe não pode ser avaliado como se ainda nos guiássemos só pelos confrontos entre esquerda e direita.
Prefiro a percepção que, de longe, Martin Scorsese tem do significado de Glauber Rocha. Cineasta e pensador do cinema, o americano de origem italiana vê e revê os filmes de Glauber e os apresenta aos seus atores.
É Martin Scorsese em oposição aos cinéfilos e homens de cinema que, entre nós, detratam Glauber, subdimensionam a sua obra e reforçam a tese de que, nele, o mito do demolidor é mesmo muito maior do que o gênio do construtor.
Melhor fundir os dois, enxergando em Glauber um cinema que nasceu da sua profunda inquietação criativa e da combinação desses elementos. O construtor e o demolidor, ambos movidos por uma grande ambição e um extraordinário desejo.
Nas imagens e nos sons que trazem Ford, Kurosawa e Villa-Lobos para o Sertão da Bahia em Deus e o Diabo na Terra do Sol.
Nas questões cruciais ainda não superadas pelo Brasil nessas quase cinco décadas que nos separam de Terra em Transe.
No delírio de A Idade da Terra, síntese do seu desespero e também da sua ousadia estética.
A ambição e o desejo de Glauber falam do cinema brasileiro e do nosso destino como Nação.
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