SILVIO OSIAS
Na Band, Jair Bolsonaro mostra quem é ao perder o controle e agredir verbalmente a jornalista Vera Magalhães
Publicado em 29/08/2022 às 8:01 | Atualizado em 29/08/2022 às 8:21
É uma tradição desde a retomada das eleições diretas em 1989. A Band realiza o primeiro debate com os candidatos a presidente, do mesmo modo que a Globo realiza o último. A largada foi na noite deste domingo (28), num programa que se estendeu por quase três horas (Foto/Reprodução) e trouxe o confronto inaugural entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Comecemos pelo candidato que está na frente em todas as pesquisas e, até aqui, tem grande favoritismo na disputa. Na semana passada, Lula deu um show ao ser entrevistado por William Bonner e Renata Vasconcellos na bancada do Jornal Nacional. No debate da Band, não estava bem. Você pode concordar com ele, você pode ser eleitor dele, mas não custa reconhecer: Lula não estava bem. Parecia cansado, pouco motivado com o formato do debate. O Lula que se deu tão bem ao responder a William Bonner sobre a corrupção, não exibiu a mesma segurança quando foi indagado sobre o tema por Bolsonaro, logo no primeiro confronto do programa.
Jair Bolsonaro, como de costume, falou para seus aliados. É bom para ele. Não perde votos. Mas corre sempre o risco de não ganhar. Foi assim na bancada do Jornal Nacional, foi assim no debate da Band. Chamar Lula covardemente de ex-presidiário devia estar no seu roteiro. Mas perder o controle com as mulheres, certamente não estava. Logo as mulheres, a parcela do eleitorado onde tem forte rejeição. Bolsonaro, como se diz bem coloquialmente, perdeu o rebolado com uma pergunta de Vera Magalhães e agrediu verbalmente a jornalista. Em seguida, "bateu" na candidata Simone Tebet. O presidente parece confirmar a tese de que ele de fato não gosta de mulheres.
Ciro Gomes exibiu a sua costumeira fluência e pediu voto na base do "meu irmão, minha irmã". Recebeu um claro aceno de Lula, que o colocou no mesmo patamar de Roberto Requião e Mário Covas, mas não deu bolas ao ex-presidente. Lula também o criticou ao sugerir que não fosse para Paris no segundo turno, como fez na eleição de 2018. A gente sabe que, nos bastidores, o PDT conversa com Lula sobre apoio num eventual segundo turno, mas Ciro, com duros ataques ao ex-presidente e ao PT, deixa as coisas perto da irreversibilidade. Não para o partido, mas para ele. Como justificaria ser aliado de alguém em quem tão duramente bateu?
Chegamos a Simone Tebet. A candidata do MDB que representa a terceira via está em luta com uma ala expressiva do seu partido e não consegue passar dos dois por cento nas pesquisas. Não precisa que você pense como Simone, não precisa que você vote nela. Não. Mas é necessário reconhecer que ela soube ter protagonismo no debate. Foi quem melhor se conduziu. Foi quem melhor defendeu suas ideias. Criticou o PT, mas nem tanto, porque talvez esteja com Lula num segundo turno. Não teve dó nem piedade de Bolsonaro. Seu sonho, afinal, seria tirar o presidente da disputa, o que parece improbabilíssimo. Vamos ver se o debate ajuda Tebet nas próximas pesquisas.
Restam Luiz Felipe D'Ávila e Soraya Thronicke. Bem, sempre há gente como D'Ávila e Thronicke nos debates políticos. Acabam atrapalhando os outros candidatos, aqueles que realmente interessam ao eleitor. Com o presidente Jair Bolsonaro fica o troféu do pior da noite, sobretudo pelo inaceitável ataque misógino à jornalista Vera Magalhães. Foi o momento mais deprimente do debate.
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