Somente Elis Regina poderia decidir se faria publicidade para a Volkswagen

Quando foi assassinado, em 1968, o senador Robert Kennedy era um político progressista que estava em campanha para presidente dos Estados Unidos. Em 2023, seu filho Robert Kennedy Jr. é um conservador que também almeja a Presidência. Durante a pandemia, obteve notoriedade por sua postura antivacina. Pensem no filho, se chegar a ser candidato, usando a imagem do pai, através da inteligência artificial, para difundir suas ideias atrasadas.

Quando morreu, em 1982, Elis Regina era uma artista de esquerda que não estava do lado das montadoras, mas dos trabalhadores, sempre que eles entravam em greve. É difícil imaginar, portanto, que, nos últimos anos de sua vida curta, a maior cantora do Brasil seria protagonista de um filme publicitário da Volkswagen.

Elis teve dois filhos e uma filha. João Marcello, o primogênito, do casamento com Ronaldo Bôscoli. Pedro e Maria Rita, a caçula, do casamento com César Camargo Mariano. O produtor musical João Marcello tem 53 anos. O cantor Pedro Mariano tem 48. E a cantora Maria Rita, 45.

O filme publicitário que usa inteligência artificial para promover o "encontro" de Maria Rita com Elis Regina não existiria sem a autorização de João Marcello, Pedro Mariano e Maria Rita, que é protagonista da peça de propaganda da Volkswagen.

Se estivesse viva, Elis teria 78 anos. A sua presença nessa peça publicitária a montadora não é algo tão simples, que diz respeito só à emoção das pessoas. Não. Mexe com questões éticas que, necessariamente, devem acompanhar o debate sobre a IA e o papel que esta vai desempenhar no futuro da humanidade.

Em 1982, aos 36 anos, Elis não faria a propaganda da Volkswagen. Não combinava com as ideias dela. Será que faria em 2023? Não sabemos. Mas estamos convictos de que somente ela - e mais ninguém - poderia tomar essa decisão.