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SILVIO OSIAS

Um temporal em São Paulo quase estraga a primeira vez dos Rolling Stones no Brasil

Publicado em 13/07/2022 às 8:09 | Atualizado em 13/07/2022 às 9:03


                                        
                                            Um temporal em São Paulo quase estraga a primeira vez dos Rolling Stones no Brasil

				
					Um temporal em São Paulo quase estraga a primeira vez dos Rolling Stones no Brasil

Nesta terça-feira, 12 de julho de 2022, os Rolling Stones completaram 60 anos. A data poderia ser outra (a do lançamento do primeiro single, por exemplo), mas é esta porque foi em 12 de julho de 1962 que eles se apresentaram pela primeira vez no Marquee, em Londres.

Os fãs brasileiros dos Rolling Stones esperaram até 1995 para ver a banda ao vivo. Foram três shows em São Paulo e dois no Rio de Janeiro. Vi quatro das cinco apresentações. Hoje, nos 60 anos dos Stones, resgato um texto que escrevi na época e que está no meu livro Meio Bossa Nova, Meio Rock'n' Roll.

27 anos depois, é um texto naturalmente envelhecido, mas registra, ou tenta registrar, o que senti no momento em que me vi diante dessa banda extraordinária em sua gigantesca performance ao vivo.

EU VI AS PEDRAS ROLANDO, E ELAS ESTAVAM VIVAS

São Paulo, 26 de janeiro de 1995. Mick Jagger desembarca ao amanhecer, um dia antes dos três shows que os Rolling Stones fariam na cidade. Enquanto, no Estádio do Pacaembu, dezenas de homens trabalham na montagem do palco da turnê Voodooo Lounge, a meteorologia prevê chuvas para o dia seguinte. O grupo que ostenta o título de "maior banda de rock'n' roll" do mundo está prestes a tocar pela primeira vez no Brasil, um sonho de pelo menos 20 anos para os fãs daqui.

27 de janeiro. Keith Richards, Charlie Watts e Ronnie Wood chegam durante a madrugada, vindos do México, a poucas horas do show de estreia. No início da noite, milhares de pessoas estão no Pacaembu assistindo à apresentação do Barão Vermelho, quando acontece o pior: um temporal cai sobre a cidade. Por algumas horas, o sonho de ver os Stones ao vivo esteve ameaçado. Mas, às onze e meia da noite, ainda debaixo de chuva, a banda subiu ao palco, e Mick Jagger cantou Not Fade Away.

O impacto de vê-los de perto é muito maior do que se pode esperar. Eles estão ali, a alguns metros da plateia, mas parecem vindos dos anos 60. Só que, agora, tudo é mais perfeito. Claro que, romanticamente, a gente pensa que seria melhor tê-los visto no comecinho da carreira, no tempo em que tocavam num pequeno clube londrino e eram rebeldes. Bobagem. Hoje, eles podem até viver do repertório do passado, mas o show é muito mais sedutor do que era antes. Tudo ficou melhor: o som, a luz, o palco, o telão, os fogos de artifício - e a banda, é claro. Em 1995, os Stones reúnem a experiência de 30 anos de carreira e levam uma vantagem enorme sobre o que foram quando eram jovens e rebeldes.

Vê-los ao vivo me faz pensar no que produziram desde que começaram a gravar em 1963. Qual a melhor fase da carreira dos Rolling Stones? Em discos, prefiro os anos 60, quando o instrumental não tinha a consistência que adquiriu depois, mas o repertório compensava essa limitação. A fase mais criativa avança até 1972, com o disco Exile on Main Street. Ali, e já um pouco antes, a banda atingira uma indiscutível maturidade. E, em matéria de rock'n' roll, se tornou imbatível nas apresentações ao vivo.

As performances ao vivo começaram a chamar atenção ainda nos anos 60. Refiro-me, especificamente, aos shows novaiorquinos de 1969, que estão no filme Gimme Shelter e no disco Get Yer Ya-Ya's Out. A partir dali, os Stones, de fato, tinham um algo mais no palco. Alguém já disse (terá sido Caetano Veloso?), que vê-los ao vivo é uma experiência estética comparável a assistir a um filme de Ingmar Bergman, e não tenho como discordar.

A banda está no palco montado em frente ao tobogã do Pacaembu. Jagger mostra porque é um dos grandes performers do rock. Keith Richards é um guitarrista simples, mas extremamente eficiente. Ronnie Wood cumpre um papel que nem foi de Brian Jones, o guitarrista morto em 1969, nem de Mick Taylor, seu substituto: Wood completa o que Richards faz, e as duas guitarras parecem uma só. E Charlie Watts é um inglês clássico, nada parecido com um baterista de rock, mas sua batida é de uma precisão absoluta. Os quatro não têm nenhuma dificuldade de provar porque são tão respeitados, embora façam somente rock'n' roll. "Eles são a escola de samba do mundo, reúnem todos os carnavais", disse Gilberto Gil, numa definição bem brasileira do grupo.

Em Voodoo Lounge, os Rolling Stones contagiam a plateia com números como Satisfaction, Honk Tonk Women,Jumpin' Jack Flash, Sympathy For The Devil, Brown Sugar e Start Me Up. Em Street FightingMan, levam o público de volta às manifestações de maio de 1968. Em Midnight Rambler, um blues devastador, exibem toda a força do gênero. Há também Rocks Off, Gimme Shelter, You Can't Always Get What YouWant e Miss You.

Eu vi as pedras rolando, e elas estavam vivas. A frase surgiu quando cruzava a Avenida Paulista, ao lado do meu irmão, a caminho do último dos três shows dos Rolling Stones em São Paulo. Horas mais tarde, enquanto eles voltavam para o hotel, fiquei contemplando o grande palco vazio e os fogos de artifício que ainda iluminavam o Pacaembu, extasiado e feliz por viver aquele momento.

Imagem ilustrativa da imagem Um temporal em São Paulo quase estraga a primeira vez dos Rolling Stones no Brasil

Silvio Osias

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