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CULTURA

Sotaque gaudério na rua

Pela primeira vez na Paraíba, Cooperativa de Artistas Teatrais Oigalê mostra elementos da cultura gaúcha na capital e no interior.  

Publicado em 29/08/2014 às 6:00 | Atualizado em 11/03/2024 às 11:01

O Rio Grande do Sul é um Estado tão autêntico que há quem defenda que é um outro país dentro do Brasil. Em 15 anos de carreira, a Cooperativa de Artistas Teatrais Oigalê procurou sempre entender esta autenticidade, diminuindo as distâncias que existem entre a cultura gaudéria e as outras culturas florescentes no estante do território nacional.

Prova disso é o 5º Corredor Cultural de Teatro de Rua, projeto contemplado com o Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz que traz o grupo pela primeira vez a uma das poucas regiões que ele ainda não havia visitado: o Nordeste.

Depois de passar pelo Rio Grande do Norte, Pernambuco, Sergipe e Alagoas, o Oigalê chega hoje à Paraíba para uma série de apresentações de O Baile dos Anastácio em João Pessoa e Campina Grande. Na capital, o penúltimo dos dez espetáculos de repertório da cooperativa estreia hoje, às 19h, no Teatro de Arena do Espaço Cultural José Lins do Rego. A entrada é gratuita.

Amanhã, às 19h30, haverá exibição de vídeos e bate-papo com os artistas na Usina de Arte (sede do grupo Quem Tem Boca é pra Gritar, parceiro do Oigalê na turnê paraibana). No domingo, é a comunidade do Porto do Capim quem recebe O Baile dos Anastácio, às 19h. Em Campina Grande as apresentações são entre os dias 7 e 10 de setembro, em local ainda não definido.

"A gente conta histórias regionais que se assemelham às histórias de outras regiões na medida em que são universais", ressalta Giancarlo Carlomagno, um dos três atores da Oigalê remanescentes da formação original, que atuou no primeiro espetáculo do grupo, Deus e o Diabo na Terra da Miséria (1999). "As histórias falam de relações de poder, da situação das mulheres e da terra, assuntos que acabam sendo temas abordados em qualquer região."

Em O Baile dos Anastácio, por exemplo, a questão do feminino em uma sociedade patriarcalista é bastante presente e familiar até ao universo nordestino. Na peça, o estanceiro Riograndino Anastácio e sua esposa Minuana querem casar a filha, Maria Pampiana. O proprietário de terras, porém, quer que os dotes da herdeira impulsionem os negócios da família e resolve preparar uma festa com músicas e danças para encontrar um casamento arranjado, ideal para os propósitos escusos do clã.

Segundo Carlomagno, o espetáculo tem a estrutura de uma contação de história, na medida em que a ação começa depois que seis peregrinos "apeiam" em uma cidadezinha e começam a contar a história no melhor estilo gauchesco. Um deles é o Índio Charrua (interpretado por ele), que depois se transforma em um dos personagens da trama.

"Tudo é uma grande metáfora do Rio Grande do Sul", justifica o ator, explicando a conotação imbutida nos nomes dos personagens. "Maria Pampiana representa os pampas; Minuana, a filha, os ventos que assolam a região. Os pretendentes são as mais diversas figuras ligadas à terra como políticos, donos de agronegócios, advogados casuísticos, um pouco da gente que a gente conheceu."

MÚSICA AO VIVO

A música é executada ao vivo pelos próprios atores, com instrumentos como a gaita (assim os gaúchos chamam a nossa sanfona) e o bombo-legueiro (um artefato de percussão feito com pele de ovelha). A sonoridade gauchesca é temperada por instrumentos de outras tradições musicais, como o cavaquinho.

A voz dos atores também é explorada ao limite, sobretudo por se tratar de um espetáculo de rua. Levemente rouco, Carlomagno conta que recentemente, em Alagoas, teve que elevar a voz acima dos jingles dos políticos que competiam com os artistas em praça pública, pela atenção do povo.

Enquanto uma metade Oigalê se esfalfa no Nordeste, a outra metade fica em casa, mas sem direito a férias. "Hoje, somos 11 atores. Seis de nós embarcamos nesta viagem e cinco ficaram no Rio Grande do Sul. Desta forma conseguimos uma certa onipresença: semana passada, estávamos apresentando O Baile dos Anastácio no Sergipe e tínhamos outro núcleo fazendo o Circo de Horrores e Maravilhas na fronteira com o Uruguai", sublinha Giancarlo Carlomagno.

Circo de Horrores e Maravilhas é o mais recente espetáculo do repertório, do ano passado. No elenco deste está a atriz Vera Parenza, outra integrante que atua desde a formação da cooperativa. O outro ator ainda remanescente do núcleo duro é Hamilton Leite, que está na caravana que veio a João Pessoa.

"Essa coisa do entra e sai acaba sendo normal já que os desejos das pessoas mudam e um grupo de teatro é como uma família ou um casamento: às vezes precisamos 'discutir a relação' e nem sempre todo mundo sai o mesmo depois disso", compara Carlomagno.

Viajando de van depois de chegar de avião ao Rio Grande do Norte, em agosto, o Oigalê ainda passa pelo Ceará, em setembro, antes de voltar para os pampas, em outubro. Voltam com o sotaque um pouquinho diferente, e muitas lembranças nordestinas na mala. "Hoje mesmo eu dei uma voltinha aqui no mercado público de vocês e achei fantástica a diversidade, a maneira como vocês trabalham o artesanato e a gastronomia", revela o ator. "De certa forma, quando a gente volta para o Rio Grande do Sul e embarca em um novo processo de criação, tudo isso acaba nos influenciando direta ou indiretamente."

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Jornal da Paraíba

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