ECONOMIA
Desaquecimento deve afetar meta de cimenteiras na Paraíba
Produção que atingiria 10 milhões de toneladas anuais de cimento , até o final de 2016, pode cair para 6,3 milhões.
Publicado em 21/06/2015 às 8:00 | Atualizado em 07/02/2024 às 17:23
Mesmo com a implantação de mais quatro cimenteiras na Paraíba, a expectativa de atingir a marca das 10 milhões de toneladas anuais de cimento, até o final de 2016, pode cair para 6,3 milhões. O setor da construção civil desaquecido com as recentes mudanças de restrição ao crédito, aumento na taxa de juros e dos custos na construção civil pode refletir no desempenho do polo cimenteiro paraibano e causar uma acomodação nas indústrias do setor, segundo especialista.
Um dos sinais do impacto da recessão econômica no setor da indústria da construção, destino final do cimento, é a queda na redução da atividade nas empresas do segmento. De acordo com os dados da última sondagem industrial, feita no mês de abril, a utilização da capacidade de operação caiu 17%, em relação ao mesmo mês de 2014, e a expectativa para o último mês de maio também era negativa (redução de 14,6 pontos no nível de atividade).
Para o especialista em economia regional e professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Paulo Fernando Cavalcanti Filho, o atual cenário da indústria paraibana, incluindo também as cimenteiras, está passando por uma postergação por parte do empresariado diante da instabilidade econômica e um dos resultados disso será um crescimento mais discreto da produção.
A estagnação recente e as incertezas atuais da economia brasileira colocam uma interrogação sobre as decisões de investimento já realizadas e em implantação, o que tende a levar o empresariado a postergar novas decisões de ampliação de capacidade. Pelo menos até que a economia volte a exibir um crescimento sustentado e os grupos cimenteiros se reestruturem, acredito que deveremos observar um período de menor expansão futura, sendo isto válido para a Paraíba, o Nordeste e demais regiões do país”, explicou o acadêmico.
Até o ano passado, com as duas indústrias Lafarge e InterCement em operação, a Paraíba produziu, em média, 2,5 milhões de toneladas de cimento, segundo a Federação das Indústrias do Estado da Paraíba (Fiep). Este ano, o volume deverá ser um pouco maior com o reforço da Elizabeth Cimentos, que começou a operar no último mês de fevereiro e pretende atingir 1,1 milhão de toneladas anualmente.
Considerando que a média produzida seja a mesma para 2016 e com o incremento de, pelo menos, 3,8 milhões de toneladas do material, proveniente de mais três das quatro novas indústrias que passarão a operar no Estado, o volume total produzido chegará a 6,3 milhões de toneladas anuais.
ESTADO DEVE LIDERAR
Com esse resultado, o Estado deve liderar a produção de cimentos no Nordeste, atualmente ocupada por Sergipe (3,3 milhões toneladas/ano) e sair da 8ª para a 3ª colocação no ranking nacional, segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SINC). Hoje, o maior produtor de cimentos do país é o Estado de Minas Gerais (15,5 milhões de toneladas/ano), seguido por São Paulo (9,9 milhões de toneladas/ano) e Paraná (6,1 milhões de toneladas/ano).
Na análise do professor Paulo Cavalcanti, a expansão da indústria paraibana se deve a fatores externos, com destaque para a expansão de crédito (pessoa física e jurídica), políticas sociais e ampliação dos investimentos federais na região Nordeste. Sendo assim, a dinâmica industrial do Estado fica dependente das condições da economia nacional.
EXPANSÃO
No caso da indústria cimenteira, o pesquisador lembra que “a expansão do setor é um processo de longo prazo, seja no tempo para a tomada de decisão dos investimentos, seja pelo tempo de execução dos projetos de instalação das unidades produtivas e ainda pelo prazo longo para os investimentos apresentarem os retornos esperados”.
O presidente da Fiep, Buega Gadelha, recorda que a construção de grandes obras, como a duplicação da BR-101 e a transposição do rio São Francisco, além do crescimento do setor imobiliário no Estado nos últimos seis anos alavancaram a produção cimenteira paraibana. Para ele, será justamente essa demanda por moradia que impulsionará a produção deste segmento industrial. “A construção civil tem sido o motor de desenvolvimento da região Nordeste e do país, que ainda precisa de 23 milhões de residências. Os bens duráveis (de capital, como residência) são quase que uma obrigatoriedade e sabemos que esse setor não vai deixar de crescer. Com isso, nós vamos manter a produção de cimento. Além disso, muitas concessões estão acontecendo, de portos, aeroportos, ferrovias, que vão movimentar a indústria cimenteira, até porque a maioria dos recursos será de capital privado”, explicou Buega Gadelha.
Sustentabilidade é novo foco
As jazidas de calcário para a exploração do cimento na Paraíba têm potencial de extração do minério que deve durar, pelo menos, até os próximos 400 anos, segundo a estimativa das cimenteiras. Para reduzir os impactos ambientais, as novas empresas instaladas no Estado estão implantando técnicas de sustentabilidade, como o tratamento dos resíduos que serão lançados no ar e reuso da água.
Uma das maiores preocupações com a produção de cimento é a emissão de materiais para a atmosfera, os chamados materiais particulados. Neste caso, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) permite o limite máximo de 50mg/Nm³. Na Elizabeth Cimentos, a solução encontrada para atender à legislação e reduzir a emissão de poluentes foi a instalação de filtros especiais nas chaminés, como explica o engenheiro e gerente industrial da empresa, Degmar Peixoto Diniz.
“Em todas as chaminés e em todos os pontos de transferência de materiais são instalados um filtro de mangas. Esses equipamentos controlam as emissões, que, no nosso caso, estão abaixo de 15mg/Nm³. Outra técnica é o sistema de armazenamento. Nesse caso, as matérias-primas e combustível para o processo produtivo são armazenados em grandes galpões cobertos, evitando o arraste de partículas finas pelos ventos, facilitando o controle das chamadas poeiras fugitivas”, detalhou o gerente.
Degmar Peixoto lembrou ainda que a empresa possui sistemas para reaproveitamento de água e uso eficiente da energia elétrica nas etapas de produção do cimento. Segundo ele, o consumo energético está 15% abaixo da média nacional. “Outro aspecto de grande relevância na busca da sustentabilidade é o reaproveitamento dos cacos cerâmicos e porcelanato, que antes eram um problema ambiental. Ao ser gerido pelas empresas do grupo, esses materiais demonstraram “propriedades pozolânicas” e são aproveitados como matéria-prima importante para a produção de um tipo especial de cimento”, destacou.
Outra indústria que também investirá em tecnologia desde a instalação até as etapas do processo produtivo é a Votorantim Cimentos. Com previsão para começar a operar no Estado em 2016, a empresa implantará um conjunto de programas ambientais. A proposta abrange o controle e qualidade do ar, gestão de resíduos sólidos, monitoramento da água, vegetação e fauna, além de ações de educação ambiental com trabalhadores e moradores da região onde será instalada a indústria.
Já a Lafarge tem como uma das principais técnicas o uso de combustíveis alternativos que substituem os combustíveis fósseis. A indústria reutiliza resíduos (como papel, borracha e pneus) de processos produtivos de outras empresas, como matéria-prima para os fornos de cimento (coprocessamento).
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