ECONOMIA
Golpe do Tomate: o que se sabe sobre esquema que pode ter causado prejuízo de R$ 120 milhões
Jucélio Pereira foi preso suspeito de liderar um esquema que atraía investidores em cultivo de hidropônicos.
Publicado em 09/09/2024 às 10:16 | Atualizado em 09/09/2024 às 10:31
Promessas de dinheiro fácil, grandes quantias investidas e prejuízos exorbitantes. Essa foi a realidade de quem investiu dinheiro na Hort Agreste, do empresário Jucélio Pereira de Lacerda, preso na quarta-feira (7), suspeito de liderar um esquema que atraía investidores para o cultivo de plantações hidropônicas, na cidade de Lagoa Seca, região de Campina Grande. A empresa tinha como carro-chefe a plantação de tomate, por isso o caso está sendo conhecido conhecido como 'Golpe do Tomate'.
De acordo com as investigações da Polícia Civil, a fraude cometida pelo suspeito pode ter causado um prejuízo de mais de R$ 120 milhões nos últimos dois anos. O processo do caso está em segredo de Justiça
O Jornal da Paraíba preparou uma matéria com as principais informações sobre o golpe até o momento, cedidas por vítimas e também pelas investigações da polícia, que revelou alguns detalhes. Veja abaixo.
Empresário preso
O empresário Jucélio Pereira de Lacerda foi preso na manhã desta quarta-feira (7), na zona rural de Lagoa Seca, na região de Campina Grande, por suspeita de estelionato qualificado e formação de quadrilha, em um esquema de investimentos em cultivo de hortaliças hidropônicas em que ele não efetuava os retornos prometidos. Ele era o administrador da empresa Hort Agreste.
Ele foi preso por força de um mandado de prisão preventiva expedido pela Justiça. Após audiência de custódia, nesta quinta-feira (8), a prisão foi mantida e ele foi transferido para o Presídio Padrão de Campina Grande. Como o mandado de prisão é da comarca de João Pessoa, existe a possibilidade dele ser transferido mais uma vez, dessa vez para um presídio da capital nos próximos dias.
O Jornal da Paraíba não conseguiu localizar a defesa do acusado.
De acordo com o delegado Elias Rodrigues, o suspeito possui uma fazenda de cultivo de hortaliças hidropônicas, que são vegetais plantados na ausência de solo, apenas com água e nutrientes necessários.
Ele oferecia investimentos nesse cultivo, com a justificativa de que a manutenção do plantio é cara, e prometia em troca lucros acima da realidade do mercado financeiro.
Quando chegava a época do investidor começar a receber seus retornos financeiros, os pagamentos não eram efetuados.
Sócios também presos
Nuriey Castro foi preso e é apontado pelas vítimas do golpe como sendo um funcionário responsável pela captação e distribuição de valores da empresa Hort Agreste, localizada em Lagoa Seca, na região Agreste da Paraíba.
O advogado de Nuriey Francelino de Castro, Abraão Beltrão, afirmou ter feito uma petição ao juiz Geraldo Emílio Porto, requerendo a revogação da prisão do acusado, que se apresentou à polícia na quarta-feira, 3 de setembro, para o cumprimento do mandado.
Priscila dos Santos Silva, a terceira pessoa que estava foragida e suspeita de participar no caso do golpe que atraía investidores do cultivo de hidropônicos ao prometer lucros acima da realidade do mercado financeiro se entregou à polícia na segunda-feira, 9 de setembro.
Prejuízo milionário e hidroponia
De acordo com investigações da polícia, a fraude cometida pelo suspeito pode ter causado um prejuízo de mais de R$ 120 milhões nos últimos dois anos. Devido o caso estar em segredo de Justiça, não foram reveladas o total de vítimas que o empresário teria feito nesses dois anos de administração da empresa.
A empresa era responsável pela produção de vários legumes, vegetais e verduras de forma hidropônica, ou seja, que consiste em sistema de produção onde as plantas são cultivadas de forma elevada, sem contato com o solo, em bancada suspensa, recebendo sofisticado sistema de irrigação e com nutrição química.
O golpe da hidroponia consistia justamente na compra dessas bancadas suspensas, com as promessas de lucros na venda do que era produzido ali.
Como acontecia o golpe
Várias vítimas relataram ao Jornal da Paraíba a forma como Jucélio atuava à frente da Hort Agreste. De acordo com o relato de João Vicente Neto, um ex-funcionário da empresa e que posteriormente virou investidor, as promessas de lucro altíssimo eram a grande atração do empresário.
No caso em particular de João Vicente, o contrato que ele firmou com a empresa liderada por Jucélio, que a reportagem teve acesso, foram prometidos rendimentos mensais de 7% para os valores investidos na bancada de Tomate Tipo 1 durante 12 meses e 10% para Tomate Tipo 2 durante 24 meses. Após os prazos informados, o investidor teria acesso ao percentual de 30% a título de participação nos lucros.
A vítima pagou R$ 190 mil com essa promessa, da seguinte forma:
- R$ 40 mil pagos em 23 de fevereiro de 2023;
- Outra parcela de R$ 40 mil paga em 27 de julho
- Última parcela de R$ 100 mil paga em 30 de agosto
Além desses três pagamentos, que foram feitos via transferência bancária, o investidor fez um quarto pagamento de R$ 10 mil, em outubro, via cartão de crédito.
A vítima, João Vicente, alega que investiu e realizou esses pagamentos conforme firmado no contrato, mas desde o dia 15 de novembro deixou de receber seus rendimentos.
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“Invenção Mágica”
Outro investidor da Hort Agreste, que preferiu não se identificar, disse a nossa reportagem que além das promessas altas de rendimentos, havia também uma dita “invenção mágica”, uma nutrição química que permitiria que o que fosse produzido, pepino, tomate ou qualquer outra coisa do tipo, pudesse ser colhida mais rapidamente. O Jornal da Paraíba teve acesso ao contrato que essa vítima firmou com o empresário e o Boletim de Ocorrência feito na polícia sobre o caso.
“Jucélio é formado em Química. Com isso, ele alegava que tinha descoberto uma forma de balanceamento químico para nutrir essas plantas de forma a ter resultados muito mais rápidos que outros produtores, que com isso ele conseguia acelerar o sistema produtivo e que por essa razão o lucro ele pagaria de forma tranquila”, relatou.
Segundo a vítima, era justamente no aspecto da nutrição química que Jucélio tentava convencer potenciais investidores, garantindo que a “descoberta química” garantiria o retorno financeiro prometido aos investidores.
“De fato ele (Jucélio) aparentava ter muito conhecimento sobre a hidroponia, da nutrição química da planta. Ele tinha todos os dados. Ele manipulava bem esses dados, fazendo cálculos na nossa frente, dos insumos, do custo para produção de cada bancada, ele conseguia facilmente enganar qualquer pessoa, porque tinha todo o domínio dos dados. Só que não sabíamos que aquilo era falso”, contou.
O que ainda não se sabe
Devido ao processo que versa sobre a Hort Agreste estar em segredo de Justiça, ainda não se sabe se mais pessoas participaram do esquema de golpe na parte de administração da empresa. A Polícia diz apenas que o empresário vai responder pelo crime de formação de quadrilha, no entanto, não especifica quem são as outras pessoas investigadas que poderiam ter contribuído para o golpe.
Além disso, não se sabe a quantidade de vítimas que sofreram com as falsas promessas de Jucélio, que prometia lucros exorbitantes, sem o retorno do que foi investido a partir de um certo tempo depois do aporte inicial.
Outro ponto que ainda permanece sem uma resposta é se a Polícia Federal vai investigar o caso como Pirâmide Financeira e crime contra a ordem financeira, como os responsáveis por empresas como a Braiscompany estão respondendo.
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