ECONOMIA
Indústria brasileira vive momento de incerteza
Crescimento econômico brasileiro desacelerou e arrastou para baixo importantes índices referentes ao setor industrial do país.
Publicado em 24/05/2014 às 6:00 | Atualizado em 29/01/2024 às 15:06
Eles sabem o que querem e têm uma agenda muito precisa. Nos últimos anos, as indústrias asiáticas – sobretudo chinesa e coreana – têm invadido outros países com produtos manufaturados eletrônicos de alto padrão. São notebooks, smartphones e tablets com alto valor agregado que atendem a públicos de diversas faixas de renda.
Enquanto isso, a indústria brasileira enfrenta um momento de incerteza, devido a variáveis que estão além da atuação dos empresários, como alto preço da energia, pesada carga tributária, ineficiência da estrutura estatal e mão de obra com baixa qualificação. E isso tem um reflexo mais próximo do consumidor do que parece: o braço industrial se estende desde a coleta da matéria-prima no campo até a entrega na porta do varejo.
DIA DA INDÚSTRIA
No Dia da Indústria, celebrado neste domingo, o setor não tem muito o que comemorar. Nos últimos anos, o baixo crescimento econômico brasileiro arrastou para baixo importantes índices referentes ao setor industrial. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), no último mês de abril o Brasil registrou saldo negativo de 3,4 mil empregos, sendo 1,5 mil apenas na Paraíba.
O Nordeste acumula perda de 20,6 mil postos. A Utilização da Capacidade Instalada (UCI) no Brasil é de 80,9%, e a quantidade de horas trabalhadas caiu 2,4%, conforme levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Na Paraíba, é de 73%.
Em 10 anos, a indústria no país perdeu 2,9 pontos percentuais de participação no PIB, de 27,8% para 24,9%. A indústria de transformação, que equivale a metade do setor indústrial nacional, caiu 5 pontos percentuais, de 18% para 13%. Já o setor de serviços deu um salto de 54,6% para a maior participação nesse período, atingindo 69,4%, puxado pelo aumento de 51% na renda per capita do brasileiro e pelos programas de transferência de renda.
CONSTRUÇÃO CIVIL
O único subsetor que ainda rende dividendos para a indústria é a construção civil. Com crédito garantido, demanda morna e uma cadeia produtiva concentrada na Paraíba, o segmento tem obtido bons resultados. Mesmo com poucos lançamentos imobiliários, devido à proximidade com a Copa do Mundo, o setor contratou mais do que demitiu em abril, fechando o mês com saldo positivo de 260 postos de trabalho. Em 2013, a variação ficou um pouco abaixo do PIB nacional, com 1,9%, porém acima do crescimento da Indústria (1,3%).
“O próprio mercado e o programa Minha Casa, Minha Vida já satisfizeram uma boa parte da demanda por imóveis na Paraíba”, afirma Irenaldo Quintans, vice-presidente da Câmara Brasileira da Construção Civil (Cbic). A afirmativa encontra eco na realidade: em 2010, o crescimento foi de 11,6%, bem acima dos 7,5% do PIB. Desde então, a taxa de crescimento vem diminuindo (3,6% em 2011 e 1,4% em 2012).
PARAÍBA
Por unidade de federação, a Paraíba conta com uma cena industrial diferente. Terrenos de sobra para a instalação de plantas industriais, benefícios fiscais e locatícios e localização estratégica fazem do Estado um dos melhores para a construção de novas indústrias. De acordo com a sondagem industrial da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba (Fiep), o volume de produção cresceu 4,3% no mês de março em relação a fevereiro, e 1,6% ante o mesmo mês de 2013.
Mesmo assim, há insatisfação e desconfiança dos empresários em relação à economia, o que manteve o lucro operacional e a situação financeira geral das indústrias abaixo do desejável.
PROPOSTAS
Por outro lado, os problemas que a indústria enfrenta não são pontuais, mas sim estruturais, o que é uma péssima notícia. O presidente do Sindicato da Indústria Têxtil e vice-presidente da Fiep-PB, Magno Rossi, destaca que o setor tem uma agenda pronta para retomar o crescimento da indústria brasileira, e que irá angariar apoio de candidatos ao Congresso nas eleições de 2014 para que sejam criadas leis que ajudem o setor a recuperar a competitividade e o potencial de inovação.
Os pontos são: educação (básica e técnica), melhoria do ambiente macroeconômico e da gestão fiscal, maior eficiência do Estado, segurança jurídica e burocracia, desenvolvimento de mercados, relações de trabalho, acesso a linhas de financiamento, melhoria da infraestrutura, reforma tributária, inovação e produtividade. É um amplo dever de casa a ser feito, porém uma vez concluído irá resultar em benefícios de curto e longo prazos.
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