ECONOMIA
Investimento foi 'vilão' do recuo de 0,5% do PIB
Queda de 0,5% é a pior desde o primeiro trimestre de 2009, quando houve recuo de 1,6%.
Publicado em 04/12/2013 às 6:00 | Atualizado em 04/05/2023 às 13:17
Os investimentos lideraram a parada geral no ritmo de crescimento da economia brasileira, quando o Produto Interno Bruto (PIB) é olhado pela ótica da demanda, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A formação bruta de capital fixo (FBCF, como o investimento é medido no PIB), caiu 2,2% no terceiro trimestre em relação ao período imediatamente anterior, embora ainda haja alta no ano. Outro setor que puxou queda do PIB foi o recuo de 3,5% da agropecuária pelo lado da produção, no terceiro trimestre deste ano na comparação com o trimestre anterior.
A queda de 0,5% é a pior desde o primeiro trimestre de 2009, quando houve recuo de 1,6%. O PIB havia se mantido estável no primeiro trimestre deste ano e crescido 1,8% no segundo trimestre. A taxa de investimento ficou em 19,1% do PIB no terceiro trimestre, ante 18,7% em igual período de 2012.
Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a taxa precisaria estar em 22% para a economia crescer 3,75%, informou Cláudio Frischtak, da Inter.B Consultoria.
Para os técnicos do IBGE, a variação dos investimentos na comparação de um trimestre com o período imediatamente anterior tende a ser muito volátil. Por isso, o ideal seria olhar o acumulado do ano - de janeiro a setembro, os investimentos acumulam alta de 6,5%. Em 2012, registraram queda de 4%.
Outro setor que puxou queda do PIB foi o recuo de 3,5% da agropecuária pelo lado da produção, no terceiro trimestre deste ano na comparação com o trimestre anterior. Segundo a pesquisadora do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Rebeca Palis, a queda da agropecuária é reflexo tanto da produção menor de produtos típicos do terceiro trimestre (como o café e a laranja) quanto do fim da safra de soja, que se concentra no primeiro semestre.
“Apesar de a agropecuária ser a atividade que mais cresce no ano [com alta acumulada de 8,1%], [não há mais] safra da soja, que é o produto que mais cresceu neste ano e influenciou muito nas altas taxas de crescimento da agropecuária no primeiro semestre”, disse Rebeca.
Outras atividades econômicas também tiveram queda no terceiro trimestre, como outros serviços (-0,4%), indústria da transformação (-0,4%) e construção civil (-0,3%). A queda da construção civil, inclusive, teve impacto no recuo da formação bruta de capital fixo (investimentos) de 2,2% no trimestre, pelo lado da demanda.
Por outro lado, o consumo das famílias, que cresceu 1% entre o segundo e o terceiro trimestres, evitou uma queda maior do PIB. Segundo a pesquisadora, a alta pode ser explicada pela continuidade do crescimento da massa salarial real e do crédito.
PIB FICA EM R$ 1,210 TRI
Com a queda de 0,5%, o PIB totalizou R$ 1,21 trilhão no período de julho a setembro. Na comparação com o terceiro trimestre de 2012, a economia brasileira teve crescimento de 2,2%. O PIB cresceu 2,4 % no acumulado do ano e 2,3% no acumulado de 12 meses. A indústria e o setor de serviços cresceram apenas 0,1% no período.
PIOR ENTRE EMERGENTES
A retração de 0,5% do PIB brasileiro no terceiro trimestre representa o pior desempenho entre as principais economias globalizadas. O próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, reconheceu o fraco resultado. "Somos o país que menos cresceu entre todos os países do mundo", admitiu, destacando a alta base de comparação com os resultados do trimestre anterior, quando o país havia surpreendido o mercado com crescimento de 1,8%.
Segundo o ministro, no período, o Brasil foi um dos países do G20 com maior crescimento. "Teria crescido mais do que a China (no segundo trimestre). Mas, com o terceiro trimestre, o Brasil teria crescido menos do que a maioria dos países", apontou o ministro, em referência à revisão dos dados pelo IBGE.
"Ainda bem que depois faz uma média", completou.
Os resultados divulgados mostram que o país foi deixado para trás por concorrentes latinos de peso, como o México (0,8%) e Peru (1,1%). Lidera o ranking de comparação a Coreia do Sul, com crescimento de 1,1% do PIB.
CRESCIMENTO SERÁ MAIOR, DIZ MANTEGA
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, comentou que o Brasil terá um crescimento maior este ano do que o do ano passado.
"Nosso crescimento de 2012 será de 1% e este ano estaremos crescendo mais do que o ano passado", disse Mantega, mencionando o dado de 2012 revisado pelo IBGE. "Portanto, a economia brasileira está numa trajetória de crescimento gradual que deve continuar nos próximos trimestres."
Com a revisão, o Brasil foi um dos países do G-20 que mais cresceu no segundo trimestre, enfatizou o ministro. Segundo ele, o Brasil estaria crescendo mais ou menos no ritmo da economia mundial.
"O crescimento da economia mundial está sendo revisto e provavelmente vai ficar abaixo dos 2,9%, 2,7% que vem sendo estimados", completou Mantega, que prevê uma expansão entre 2,3%, 2,4%.
Ele informou ainda que o IBGE está iniciando uma reformulação da estatística de serviços e, em relação ao PIB de 2012, foi feito um "ensaio interno" que mostra que poderia haver um acréscimo de 0,4 a 0,6 ponto percentual do PIB do ano passado.
Mantega disse que o crescimento forte do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, de 1,8% na série revisada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dificultou a expansão no terceiro trimestre por causa da alta base de comparação.
"Com esse resultado do terceiro trimestre, de -0,5%, favorece um crescimento no quarto trimestre", destacou.
Segundo o ministro, os dados de crescimento no quarto trimestre "certamente serão positivos, mesmo porque isso é o que se percebe pelo movimento da economia".
De acordo com Mantega, a revisão dos resultados do primeiro e do segundo trimestres do ano mostra que há uma concentração do crescimento no segundo trimestre. Ele apontou ainda que o setor de serviços teve um desempenho fraco, ao crescer 0,1% no terceiro trimestre ante o segundo, e disse ainda que a alta de 2,9% do setor extrativo mineral da indústria mostra "alguma recuperação da economia global". (Com informações das agências Brasil e Estado)
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