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ECONOMIA

Pioneira da bentonita ganha memorial em CG

Empresa Betonit inaugura espaço para valorizar a memória e o patrimônio histórico e cultural da indústria paraibana.

Publicado em 30/05/2014 às 6:00 | Atualizado em 29/01/2024 às 15:59

Em 1965, foi instalada, na Paraíba, a primeira indústria brasileira de exploração e beneficiamento de bentonita – mineral cuja utilidade vai desde a lubrificação de brocas, passando por perfuração de poços, até a clarificação de óleos para consumo humano.

Em homenagem à empresa, será inaugurado hoje o Memorial Bentonit União Nordeste, que acontecerá às 20h na sede da empresa, no Distrito Industrial de Campina Grande. Durante o evento acontecerá também o lançamento do livro “Memorial da Indústria: Uma História da Bentonit União Nordeste”.

Ambos são parte do projeto Memória e Patrimônio Histórico Cultural da Indústria, coordenado pelo Sesi Paraíba. O projeto foi um dos vencedores do edital Sesi/Senai de Inovação em 2011, e foi executado durante cerca de 18 meses. No total, a entidade destinou R$ 300 mil para a construção do memorial – que funciona em um anexo da fábrica – e publicação do livro, e a Bentonit União será a responsável pelos custos de manutenção, água e luz. O objetivo da iniciativa é valorizar a memória e o patrimônio histórico e cultural da indústria paraibana por meio da trajetória da Bentonit União.

Após inaugurado, o local será palco de exibições fotográficas, peças antigas da indústria, documentos, dentre outros componentes da história da Bentonit União.

“Foi uma empresa que trouxe a cultura industrial para o Estado da Paraíba”, comenta o presidente da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba (Fiep/PB), Francisco Buega Gadelha.

“Junto com a fábrica de cimentos Matarazzo, que ficava no litoral, a Bentonit favoreceu a criação de outras indústrias locais.

Hoje o setor de mineração é o principal da Paraíba, sem sombra de dúvida”, afirma.

HISTÓRIA

Na década de 60, o imigrante ítalo-alemão Ernesto Reibel, que à época trabalhava em um escritório de construções, teve o primeiro contato com a bentonita.

“Nem sabia o que era quando vi a amostra”, conta. Na mesma época, o mineral foi descoberto na Paraíba, e ele resolveu investir. “Comecei a pesquisar sobre a bentonita. Fui até o Instituto de Minerais na Alemanha para conhecer mais sobre o mineral e suas aplicações”, relata Reibel.

Como o produto era amplamente usado pela indústria petrolífera para lubrificar as brocas de perfurar poços e havia demanda por parte da então jovem Petrobras, existia um mercado interno certo para a bentonita. Em 1965, foi inaugurada a primeira facilidade, localizada em Campina Grande. “No começo, o que fazíamos era transformar a argila, a matéria-prima, em bentonita sódica. Na época fechamos um contrato de licenciamento com uma empresa europeia.

Recebemos um grande apoio da Petrobras, que era o grande consumidor”, relembra o empresário.

A bentonita além de facilitar a perfuração, veda as rachaduras, o que fornecia mais estrutura e menor risco. Quando a broca passava, formava-se um tubo de argila em seu rastro. Na época, a fábrica de Campina Grande produzia 300 toneladas de bentonita sódica por mês, exclusivamente para o setor. “Hoje existem outros produtos que se usam para obter o mesmo efeito. O mercado da bentonita no setor petrolífero mal chega a 3% atualmente”, diz.

Como a bentonita tem várias aplicações, não foi tão complicado encontrar novos mercados. Um deles é o da fundição de ferro, que Reibel aponta como um dos mais promissores. No processo, a caixa do molde onde é despejado o ferro derrete todo e precisa ser preenchida com areia sintética.

“Quando é acrescentado 5% de bentonita à areia, ela pode ser reutilizada, depois adiciona-se um percentual menor, e assim por diante, até a areia precisar ser descartada”, detalha.

A construção civil, um dos setores que mais crescem na Paraíba, também utiliza o material nos canteiros de obras para fazer escavações sem danificar os prédios vizinhos. A bentonita é um componente estratégico também no processo de pelotização do minério de ferro – ou seja, a compressão do minério bruto e impuro, o que facilita seu transporte e fundição.

“A bentonita evita que a bola de ferro se desmanche ao ser colocada na esteira”, fala. Outros usos incluem a clarificação e tratamento de óleos vegetais e minerais e sanitários para animais de estimação.

BENEFICIAMENTO

A Bentonit se destaca não apenas pela exploração do material para venda, mas também pelo beneficiamento e transformação da argila bruta em um bem de consumo. A empresa começou a investir em pesquisa e desenvolvimento próprios em 1972. Em 2005, foi criada a Buntech Tecnologia em Insumos, localizada no município de Suzano (SP), com foco apenas em produtos baseados em bentonita, porém de alto valor agregado. São detergentes, óleos, cosméticos, tintas e resinas que estão presentes no cotidiano das pessoas.

DE SOLDADO A EMPREENDEDOR NO NE

No ano de 1929, nascia na Itália Ernesto Reibel, filho de mãe brasileira e pai alemão. Após a morte do pai, ele, sua mãe e seus irmãos foram viver na região sul da Alemanha, próximo a Stuttgart. Era a época de ascensão do Terceiro Reich, que perdurou até o fim da Segunda Guerra Mundial. Reibel não tinha mais de 15 anos, mas, como outras crianças do seu país, foi alistado na Hitlerjugend, a Juventude Hitlerista – a mesma da qual o ex-Papa Joseph Ratzinger fez parte e foi desertor.

“Fiquei na marinha. Outros barcos foram explodidos, mas o meu não”, lembra Reibel, que mantém o forte sotaque de seu país, apesar do perfeito domínio da língua portuguesa.

Com o fim da guerra, sobreveio a miséria e, com ela, a vontade de desembarcar em terras mais prósperas e pacíficas. “Quando acabou foi uma tragédia, passamos muitos anos ruins na Alemanha, o povo foi punido. Minha mãe resolveu voltar para o Brasil. Em 1947 conseguimos autorização da Comissão Militar do Brasil em Berlim, e eles confirmaram o seu direito de voltar ao país como cidadã brasileira”, relata.

Não era possível sair legalmente do país. Foi necessário fugir. Reibel e sua família escaparam pela fronteira com a Suíça, passando por baixo de uma ponte. No país, conhecido por sua neutralidade em conflitos internacionais, sua mãe fez contato com os familiares no Brasil, e eles conseguiram o tíquete de volta.

“Viajamos em um pequeno cargueiro, um produto da guerra ainda. Eram apenas duas cabines para uns 12 homens e mulheres. O navio viajava a apenas 18 quilômetros por hora; saímos da Suíça em junho, e só chegamos em agosto ao Porto de Santos”.
Isso foi no ano de 1948. Na época, a pavimentação da Rodovia Anchieta, até hoje o principal elo entre as cidades de Santos e São Paulo, era uma novidade. Ainda na Alemanha, Reibel chegou a cursar Arquitetura, mas não concluiu a graduação.

Chegou ao Brasil balbuciando algumas palavras em português, sem trabalho, pouco dinheiro e estudos incompletos. Seu primeiro trabalho foi na construção, recebendo meio salário mínimo, sem carteira assinada e nenhuma garantia. “Tratei de aprender português. Depois de quatro anos resolvi trabalhar por conta própria e aluguei um escritório no subsolo”, revela.

Quando se associou a um colega e passou a construir plantas industriais, o negócio engatou e ele passou a faturar. “Deu muito mais dinheiro e menos problemas”, diz.

Sua ligação com o Nordeste começou com os benefícios fiscais concedidos durante o governo de Juscelino Kubitschek: 25% do Imposto de Renda poderiam ser investidos em empreendimentos na Região. “Consegui em tempo recorde esses créditos depositados no Banco do Brasil. Mas para começar a exploração não foi fácil, porque não éramos donos do minério”, recorda. Os campinenses donos da terra, lembra, preferiam dar o sangue a permitir que alguém mexesse no chão. “Houve resistências, o povo achava que quem possuía a terra tinha direito também sobre os minérios. Foi difícil na época”. Uma parceria com um produtor de minério foi o início da resolução do problema.

O resto é história. Hoje todas as fábricas da Bentonit União têm capacidade instalada entre 16 mil e 17 mil toneladas por mês.

Com uma diversa carteira de clientes em todo o Brasil e expertise em produtos manufaturados, a Bentonit União se consolida como uma das principais mineradoras da Paraíba e do Brasil. Ernesto Reibel, com 87 “primaveras” nas costas e uma lucidez de jovem combatente, estará diante de mais uma conquista esta noite.

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Jornal da Paraíba

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