ECONOMIA
Produção de leite de cabra da cidade de Prata é tradicional e uma das melhores do Brasil
Para produzir muito leite, os animais são de origem referenciada no país. Os produtores são capacitados para o manejo sustentável.
Publicado em 27/08/2022 às 16:19
Quando se pensa em grandes quantidades de leite de cabra, a cidade de Prata, a 292 km de João Pessoa, no Cariri da Paraíba, vem logo à mente. Graças ao alimento, a cidade com pouco mais de 4 mil habitantes tem um índice quase zero de pessoas passando fome. Para produzir muito, os animais são de origem referenciada no Brasil, a genética Prata, tradicional e uma das melhores do país, segundo os resultados da última Exposição Nacional de Cabras Leiteiras.
Produto retirado de várias raças, o leite é distribuído gratuitamente aos alunos da rede pública de ensino. Mas antes de chegar à merenda escolar, o alimento vem de rebanhos de várias localidades. As cabras super produtoras do município são premiadas nacionalmente, como a Giseli, do caprinocultor Fita, que coleciona centenas de troféus do seu plantel.
Produtores como ele, vendem dezenas de litros por dia à Usina de Beneficiamento do Leite de Cabra, mantida pela Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos de Prata (Accop), intermediária no Programa Alimenta Brasil (PAB). Segundo a presidente da Usina, Paula Tassyana, a produção de leite pasteurizado deste ano está animadora. De janeiro a julho, a Usina produziu um total de 220.747 litros em saquinhos. O destaque foi no mês de abril, que a Usina registrou 33.854 litros envasados.
“Nós estamos atualmente com 135 produtores cadastrados, todos de Prata, sendo que 8% é de mulheres caprinocultoras. O trabalho realizado pela Usina é receber o leite deles, beneficiando e entregando ao PAB, que paga ao produtor. Cada caprinocultor tem sua planilha e mensalmente é alimentada pelo sistema de informação para o programa. O produtor recebe na conta bancária através do sistema do Governo Estadual”, explicou.
Ela conta que a Associação é sem fins lucrativos, mas conseguiu um faturamento de R$ 50.958, no ano passado. Segundo Paula, tudo que entra na Usina é utilizado para manter a mesma, com despesas de pessoal, equipamentos, manutenção, escritório e limpeza. Sempre que podem, os administradores investem em melhorias, como um jato que higieniza depósitos de leite dos produtores. Como eles são limpos na Usina, o leite fica sem resíduos, conforme os envasadores.
Autonomia
A atividade econômica da caprinocultura pode gerar autonomia financeira ao caprinocultor que consegue fazer bons negócios. Um dos produtores de caprinos que mais consegue renda em Prata é Cícero Rodrigo de Tôrres, 34 anos. Ele mora no Sítio Pilões, que fica a 3,5 km de Prata. Faz seis anos que trabalha com caprinos e já planejou sua saída do sistema da Usina em novembro deste ano. Ele já chegou a deixar 64 litros de leite no dia para beneficiar.
“Eu comecei a partir da morte do meu pai. Assumi o controle da propriedade dele e quem foi meu grande incentivador foi Mário de Zeca, que era presidente da Usina na época e me deu um casal de cabritos Saanen PO. Comecei no ano de 2016 com essa oportunidade de trabalhar na usina, onde aprendi demais sobre a atividade”, comentou.
Cada proprietário de rebanho tem seus próprios desafios. Os principais obstáculos de Rodrigo foram a falta de energia elétrica na propriedade e de recursos para poder melhorar o plantel. “Eu me deparei com fases difíceis nessa atividade. Mas, ao longo desses anos, consegui melhorar o plantel e graças a Deus chegou energia recentemente na propriedade, o que vai me permitir fazer as melhorias necessárias”, explicou.
Rodrigo fatura em média R$ 4 mil por mês, mas tem muitas despesas. Ele vai sair da Usina, depois de refletir um tempo, para cuidar mais de perto do negócio rural. “Está muito corrido para mim conciliar o sítio com meu horário de trabalho na usina. A partir de novembro tenho vários planos para colocar em prática. Um deles é fazer uma produção de 100 litros de leite/dia e construir meu aprisco dentro dos padrões que as cabras merecem” disse.
Paixão
Nesta mesma linha de dedicação, muitos produtores de Prata têm verdadeiro apego pelas criações. José Odilon Nogueira, 56 anos, morador do sítio São Francisco, é um deles. Começou criando a raça francesa Saanen porque achava bonita e nunca mais deixou de criar. “Eu sou um dos fundadores da primeira Usina de Beneficiamento de Leite. Comecei a muitos anos com poucas cabras, hoje tenho algumas dezenas e considero uma ótima atividade”, disse.
Odilon mora com a mãe Carmelita Limeira, que também já criou cabras. A primeira Saanen da cidade de Prata, ele comprou do Major Delmiro. “Eu conhecia um morador da fazenda dele, fui lá comprar cabras, vi essa raça, que é de uma cabra branquinha, de pelo longo, mais calma e dócil. Achei linda e comprei logo. Depois fui descobrindo as informações sobre como criar e incentivar a produção de leite. Ela é uma raça que dá muito leite”, contou.
Atualmente, Odilon está com 50 cabras leiteiras e um reprodutor. Durante a 8ª Expoprata, que acontece até este domingo (28), ele e muitos outros caprinocultores fortalecerão o setor com novos negócios. Ele venderá 10 cabras na exposição. “A Prata tem esse lado bom: quando a gente não vende leite, tem onde vender animais ou fazer as duas coisas. Eu apoio e participo da Expoprata, de tudo o que é feito para desenvolver a atividade”, concluiu.
* Valdívia Costa
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