ECONOMIA
Setores econômicos da Paraíba traçam futuro para o momento pós-pandemia
De que forma representantes do comércio, construção civil, indústria e turismo estão reagindo?
Publicado em 05/08/2020 às 14:20 | Atualizado em 06/08/2020 às 8:29
O novo coronavírus – e a pandemia por ele provocado – mudou a forma de vida do planeta nestes quase cinco meses, em que foi preciso aderir ao uso diário de máscaras e à prática do distanciamento social, bem diferente de abraços, apertos de mãos e outros comportamentos comuns entre alguns povos. Além dessas ‘perdas’ na interação social, os segmentos econômicos sofreram com empresas fechando, colaboradores sendo demitidos e mudanças que só aconteceriam em décadas, precisaram ser antecipadas em meses.
A busca pela retomada da economia e, principalmente, pela descoberta de uma vacina para a cura da Covid-19, doença provocada pelo coronavírus, têm movimentado muitas pessoas em todo o mundo.
Mas, qual o futuro das cidades em um cenário pós-pandemia? Na tentativa de encontrar respostas para esta pergunta, o JORNAL DA PARAÍBA aproveita este 5 de agosto, feriado do aniversário de 435 anos de João Pessoa e também marco da fundação do estado, para dialogar sobre este ‘futuro’ com setores como o comércio, construção civil e turismo.
O objetivo é compreender os desafios encarados até então, as mudanças que permanecerão de forma definitiva e quais são as formas de reagir, buscando uma recuperação de cada setor aqui na Paraíba.
Comércio: “as lojas a partir de agora serão físicas e virtuais”
As formas de consumo mudaram e para o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Paraíba (Fecomércio), Marconi Medeiros, a pandemia provocada pelo novo coronavírus fez com que os empresários aderissem às vendas virtuais, ao mesmo tempo em que podem manter as lojas físicas.
“Continuamos prontos, empresários do terceiro setor e trabalhadores, imbuídos da mesma responsabilidade de continuar alavancando a economia O que nós verificamos é que, embora tenha sido um momento muito difícil, o empresariado também adquiriu muita experiência dentro desse momento. Não retroagem mais o comércio virtual, ao mesmo tempo em que também teremos as lojas físicas. O delivery vai dobrar de tamanho e o drive-thru vai continuar. As lojas a partir de agora serão físicas e virtuais”, frisou.
A recuperação econômica da Paraíba, segundo Medeiros, surpreenderá a todos. “Eu estou dizendo isso, baseado em pesquisas econômicas com a área empresarial e gerencial das empresas do terceiro setor, que acreditam que nós rapidamente saberemos buscar o caminho do desenvolvimento. O empresariado está confiante”, contou.
Construção civil: “a recuperação passa pelo nosso setor”
O otimismo pela retomada da construção civil é demonstrado de forma, literalmente, concreta pelo presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de João Pessoa (Sinduscon-JP), José William Montenegro. De acordo com o dirigente, o segmento reunia (até antes da pandemia) aproximadamente 18 mil trabalhadores na Região Metropolitana da capital paraibana e, segundo ele, pelo fato da construção ser responsável por movimentar 97 outros setores, a recuperação da economia, de um modo geral, passa pelos ‘canteiros de obras’.
“Ninguém esperava o que aconteceu. O setor foi paralisado, mas acredito que fomos menos prejudicados do que outros setores. Tivemos quedas nas vendas, lutamos para evitar o desemprego e ficamos parados totalmente, por cerca de 30 dias. Esse momento, eu tenho dito que é de confiança do empregador, do empregado, de quem pode comprar e pode investir. A recuperação passa pelo nosso setor, pois movimentamos outros 97 setores, indo desde Seu Zé ou Dona Maria que vende o picolé e o café para a turma da obra, até segmentos como ferro, móveis e outros, indispensáveis na construção”, disse.
Sobre as perdas, William afirmou que é difícil responder, mas destacou que uma das principais dificuldades durante a pandemia foi vender os imóveis, já que segundo ele, é uma atividade essencialmente presencial.
“Hoje você compra muitas coisas pela internet: eletrodomésticos, eletrônicos e várias outras coisas, mas ainda não é da nossa cultura comprar imóveis através deste meio. A nossa atividade é essencialmente presencial, mas as vendas online foram aprimoradas durante esta pandemia e acredito que isso vai fazer parte do nosso meio com mais frequência. O universo online é mais pela falta de costume e comprar um imóvel tem uma série de fatores agregados, principalmente o do sonho da casa própria, que é muito forte”, destacou.
Para William, duas coisas norteiam esta retomada da construção civil: a confiança e uma maior valorização empregado-empregador, adquirida durante este período de pandemia.
Indústria: “32% do segmento na PB não está funcionando”
Um dos setores que já contabiliza perdas concretas é o da indústria. O presidente da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba (Fiep), Buega Gadelha, afirmou que 32% do segmento não está funcionando. Este percentual se refere a empreendimentos que fecharam definitivamente ou que estão esperando uma nova oportunidade para retomar as atividades.
“É uma perda concreta. Muitas deram férias coletivas e poucas tiveram um aumento na produção. Alimentação e bebidas são alguns dos exemplos. Eu acredito que a recuperação até que vai ser um pouco acelerada. Digo isso porque há muitos recursos para o consumidor que foram injetados pelo Governo Federal. Essa injeção de recursos era fundamental e extremamente necessária para que houvesse uma revitalização do segmento”, disse.
O gráfico da retomada, segundo Buega, se assemelha a vogal ‘U’ com as empresas descendo, passando um período em baixa e depois voltando a crescer.
As mudanças definitivas, Gadelha preferiu não fazer projeções sobre o setor industrial, mas afirmou que por algum tempo, as pessoas sentirão algumas delas. O que ele acredita é que, pessoalmente falando, as ambições vão diminuir e os indivíduos passarão a ser mais fraternos, pois segundo ele, o isolamento ao mesmo tempo que aproximou alguns, causou tristeza em outros. “Vai haver mais solidariedade”, resumiu.
Turismo: “a retomada é lenta e o setor está sofrendo”
Diferente de alguns setores produtivos, o turismo é uma atividade que necessita essencialmente do contato entre pessoas: turistas, guias, profissionais de gastronomia, hotelaria, artesanato e vários outros itens que integram este segmento. A presidente da Empresa Paraibana de Turismo (PBTur), Ruth Avelino, afirmou que se mantém otimista, mesmo adiantando que a retomada será lenta e que o setor sofre com a situação originada pela pandemia do novo coronavírus.
“A cada dez empregos, pelo menos um é gerado pelo turismo. Pessoas viajam pelo mundo inteiro e imagine o que é interromper tudo isso, por causa da pandemia? Me mantenho muito otimista, mas o setor está sofrendo demais. Em João Pessoa, por exemplo, nenhum hotel fechou em definitivo, mas imagine o que é você ter toda uma estrutura esperando pelos hóspedes e não tê-los? O que tem movimentado atualmente é o chamado turismo corporativo, que são as pessoas que se hospedam por questões profissionais”, pontuou.
Para contribuir com o fomento e a retomada do turismo, Ruth contou que a PBTur tem feito uma série de campanhas voltadas para que os paraibanos conheçam a própria Paraíba, com trajetos que podem ser feitos de carro e com pessoas da mesma família. Um eixo da campanha tem se expandido para a Região Nordeste, seguindo a mesma tendência: ‘Nordestinos pelo Nordeste’, com viagens e roteiros pela região.
“João Pessoa, por exemplo, é uma capital que as pessoas querem vir para morar. Temos qualidade de vida, não temos praias poluídas, trânsito caótico não temos e os paraibanos precisam valorizar isso. Do mesmo jeito, temos atrações e roteiros turísticos belíssimos em várias regiões do nosso estado. A Paraíba se diferencia de outros lugares exatamente pela qualidade de vida que consegue oferecer”, disse.
Ruth Avelino acredita que a pandemia incentivará as pessoas a realizar algumas práticas, antes desprezadas por muita gente. “A história da higienização foi muito boa, pra gente ter mais cuidado conosco, com o outro, com a casa e com o ambiente de trabalho. Na minha casa mesmo, ninguém mais entra de sapato. Montei um espacinho do lado de fora já para isso”, contou Ruth, reforçando a necessidade da descoberta e validação de uma vacina contra o novo coronavírus: “sem vacina, um item que não conseguiremos viver sem é a tal da máscara”, comentou.
“O quarto trimestre será decisivo para os próximos tempos”, afirma economista
Com prós e contras, a expectativa do futuro das cidades pós-pandemia pode ter a indicação de um caminho a ser percorrido a partir dos meses de outubro, novembro e dezembro deste ano. Este prognóstico é traçado pelo economista Werton Oliveira, que também aponta uma melhoria no cenário, a partir do surgimento de vacinas que combatam a proliferação do novo coronavírus.
“Teremos uma queda grande, que pode ser que seja a maior em termos de PIB e no próximo ano tenhamos um crescimento positivo, porém ainda lento. Que nesse 2021 possamos retomar a abertura de novas empresas, celebrar novos contratos e admitir novos colaboradores. Teremos um sinal mais claro deste cenário no quarto trimestre, porque juntos podem vir as vacinas, através de países do mundo com protocolos melhores do que estamos vendo hoje. O quarto trimestre nosso vai dizer muito”, disse.
Segundo Werton, a probabilidade é que haja crescimentos diferentes nos setores. O setor de alimentação, por exemplo, pode ser que cresça mais rápido do que a hotelaria, que está há muito tempo fechado. Para o economista, cada segmento vai ter um momento diferente de crescimento e assim como houve um crescimento na procura por supermercados e farmácias, pode ser que este mesmo serviço sofra uma queda nos próximos tempos, levando em consideração a procura dos últimos meses.
O especialista destacou três pontos que para ele, devem permanecer mesmo no período pós-pandemia:
1) Compras online
“Isso vai fazer parte da nossa vida. Muita gente entrou nesse nicho de mercado e não consumia por aplicativos ou não usava esse tipo de coisa”.
2) Home office
“É outra mudança. Reuniões e viagens de negócios tendem a diminuir. O home office deve ficar mais forte, agora claro, criando-se uma legislação para isso. Eu não acredito que isso seja uma mudança radical, mas será uma máxima nas empresas”.
3) Empresas
“Elas vão perceber que se não tiverem um diferencial no mercado, serão vistas de outra forma pelas pessoas. Os consumidores enxergam como um diferencial, o que diz respeito ao aspecto social. Muitas empresas ajudaram nessa época da Covid-19. Quem não tiver um aspecto social forte, as pessoas também vão ficar cautelosas. Quem pensou em na pandemia, passará a ser visto de outra forma”.
Werton acredita que até sair a vacina contra a Covid-19, os negócios que vão se dar bem no período pós-pandemia são os que atrelarem inovação e segurança ao cliente.
“Muita gente está com medo de ir para os restaurantes, por exemplo. Não sabe se lá está cumprindo as regras. É preciso inovar, principalmente no que pode ser oferecido aos consumidores. As academias, por exemplo, sofreram um abalo neste período. O que algumas fizeram? Se os clientes não podem vir à academia, vamos alugar os equipamentos para que eles se exercitem em casa. Esse é um dos pontos que inspiram o quesito inovação”, comentou.
Outro ponto do pós-pandemia, segundo Werton, seria como os setores estão sentindo a crise. Os serviços de delivery, alimentação, para ele, foram alguns dos que sentiram menos, já que as passaram a consumir os produtos em casa, por causa da indisponibilidade de restaurantes abertos e também devido ao isolamento social.
Por outro lado, segmentos como turismo, aviação, hotéis e eventos terão uma complicação, até sair a vacina. “Isso faz parte de um novo momento econômico. As transformações econômicas foram antecipadas em décadas, precisaram ser feitas em meses ou até semanas”, afirmou.
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