ESPORTES
Opinião: o feio exemplo do Belo
Repórter da Rádio CBN, Max Oliveira dá sua opinião sobre a postura do Botafogo-PB em barrar o também repórter da CBN, Fábio Hermano, de cobrir o dia a dia do clube.
Publicado em 23/05/2023 às 12:25 | Atualizado em 23/05/2023 às 19:40
Texto de Max Oliveira
Os brasileiros que se horrorizam (e devem) com o caso de racismo sofrido por Vinicius Jr. na Espanha também precisam voltar seus olhos para a Paraíba. Mais precisamente para um espaço de exceção chamado Maravilha do Contorno, onde dirigentes do Botafogo-PB tiveram a ousadia de oficializar a lei da mordaça.
Estamos diante de um caso realmente perturbador.
Aparentemente, os cartolas do Belo pegaram um túnel do tempo, aportaram na Idade Média e, de lá, mandaram uma missiva à direção da Rádio CBN — veículo que vem se notabilizando pela ampla e plural cobertura do futebol paraibano — em que comunicam que o repórter Fábio Hermano não poderá mais entrevistar jogadores, nem mesmo nas coletivas de imprensa.
Alegam que o repórter, responsável pela cobertura jornalística do clube para a CBN, teria "rusgas pessoais" com integrantes da diretoria botafoguense.
Causa espanto a falta de pudor. E destemor. Pois só quem não teme pode colocar no papel, de forma solene e oficial, a disposição de ferir a liberdade de imprensa.
Não cabe aqui sequer questionamentos sobre as tais rusgas — pois o Botafogo-PB não é tribunal supremo para tolher a mídia. E qualquer eventual situação de desconforto da parte dos dirigentes em relação ao repórter deve ser resolvida no ambiente judicial, conforme prega nosso arcabouço legal, sob o qual também está (ou deveria estar) o quadrado em que a direção do Botafogo-PB julga mandar e desmandar em flagrante afronta às leis.
Mas, ainda assim, vamos à pergunta: O que teria feito Fábio Hermano para provocar tais rusgas? A resposta é simples: cobrir o clube com profissionalismo.
O Belo tem uma grande torcida, que demanda informação para além da assessoria de imprensa e redes sociais do clube.
Furar essa bolha é, na ótica dos dirigentes do Belo, uma falta digna de cartão vermelho. Há muito tempo, eles se aproveitam dessa velha retórica para deixar muito claro que imprensa boa é aquela que reza pela cartilha do clube.
Fábio Hermano é daqueles repórteres natos, que nasceu com o feeling de apuração. Dedica maior parte do seu tempo para informar os botafoguenses, seja na CBN, em suas redes sociais ou no canal 90 minutos de Belo, no YouTube, onde estão salvos todos os registros do tratamento profissional destinado ao clube da Maravilha do Contorno.
Mas – repito - ainda que ele tivesse faltado com esse profissionalismo, atacando um dirigente do Botafogo-PB, não justificaria a mordaça oficializada e endereçada à CBN.
Com a palavra, quem tem poder efetivo para avisar aos cartolas do Belo que a Maravilha do Contorno precisa aportar rapidamente no século 21, respeitando as leis, a liberdade de imprensa e o contraditório.
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