CONVERSA POLÍTICA
Justiça Federal manda Dnit religar radares em rodovias federais
Na Paraíba, mais de 90 radares de velocidade deixaram de funcionar no início de agosto por falta de verba.
Publicado em 19/08/2025 às 11:24 | Atualizado em 19/08/2025 às 14:08

A juíza Diana Wanderlei, da 5ª Vara Federal em Brasília, determinou nesta segunda-feira (18) que o governo federal mantenha "em pleno funcionamento" os radares das rodovias federais que pararam de operar neste mês por falta de verba.
Na Paraíba, até o dia 1º de agosto, quando houve a suspensão, havia 91 equipamentos operando, 38 em processo de instalação e dois com status de paralisação, segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).
De acordo com o órgão, seria preciso R$ 364 milhões para manter os radares em operação em 2025, mas o orçamento destinou apenas R$ 43,3 milhões.
O que foi decidido
A 5ª Vara Federal determinou que o DNIT comunique as concessionárias, em até 24 horas, "para que mantenha ligados e em pleno funcionamento os radares definidos no 'Acordo Nacional dos Radares' [de 2019]". O DNIT foi intimado da decisão nesta noite.
As empresas terão 24 horas para religar os radares após a notificação, sob pena de multa diária de R$ 50 mil, para cada radar desligado, tanto para as concessionárias quanto para o DNIT.
Segundo a juíza, o objetivo é levar o governo a realocar recursos orçamentários para garantir o pagamento às empresas responsáveis pela manutenção dos equipamentos.
"É inconteste que o não adimplemento dos contratos e a ausência de prestação do serviço atingem diretamente o interesse primário da sociedade pela segurança. A autonomia do Poder Executivo na definição das dotações orçamentárias é relativa, pois o cumprimento de serviços primários não pode ser relegado ou colocado em segundo plano", escreveu Diana Wanderlei.
A juíza ainda ordenou que:
- o DNIT informe, em até 72 horas, quais as "consequências do apagão" nas rodovias federais e qual o "valor exato que precisa receber por parte do Poder Executivo Federal para continuar a execução do Acordo Nacional dos Radares";
- a União apresente, em até 5 dias, o "planejamento de recursos orçamentários para imediato pagamento dos investimentos realizados para o fiel cumprimento do Acordo Nacional dos Radares".
Resposta do Dnit
Ao Conversa Política, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) confirmou que foi informado da decisão judicial e que os técnicos da autarquia estão analisando os termos da determinação. "Junto com a Advocacia-Geral da União (AGU) irá apresentar em tempo os argumentos que respeitem o processo legal da referida ação".
Na nota, a autarquia reiterou seu compromisso com a segurança viária das rodovias sob sua administração e que atua dentro dos preceitos legais dos trâmites administrativos, garantindo a lisura de suas ações.
Ação remanescente do governo Bolsonaro
A decisão da Justiça foi tomada em uma ação popular ajuizada em 2019, quando o então presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que desligaria os equipamentos responsáveis por multar motoristas que dirigem acima da velocidade permitida.
Naquele ano, a Justiça fechou um acordo com o governo Bolsonaro para impedir a retirada dos radares. O acordo previa o funcionamento dos aparelhos em pontos das estradas com "índices de criticidade médio, alto e altíssimo, a partir de análises de acidentes e mortalidade".
Juíza questiona petistas
A magistrada lembrou que a ação popular permaneceu em aberto desde o acordo fechado com o governo Bolsonaro, justamente para prevenir descumprimentos futuros, como ocorreu agora.
"Para surpresa deste juízo, o atual governo federal, grupo que, à época da retirada dos radares nas rodovias federais [em 2019], foi um dos grandes críticos daquela medida [...], agora age de forma oposta, o que soa como contradição e retrocesso na proteção social, no cuidado com as pessoas", disse.
A ação popular, originalmente contra o governo Bolsonaro, foi apresentada pelo senador Fabiano Contarato (PT-ES).
Destino do dinheiro das multas
A juíza também ressaltou que o dinheiro arrecadado com multas não vai para concessionárias nem para o DNIT, mas para o caixa da União.
"O montante das multas arrecadadas [...] supera os gastos com os radares em cerca de três vezes. Ou seja, em dose dupla, a União está abrindo mão de receitas e comprometendo a segurança viária, incentivando as altas velocidades nas rodovias e, por conseguinte, as mortes no trânsito."
*com informações do g1
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