CONVERSA POLÍTICA
Para proteger Bolsonaro, Queiroga desliza feito quiabo e dribla senadores oposicionistas na CPI da Covid-19
Publicado em 07/05/2021 às 9:08 | Atualizado em 30/08/2021 às 18:57
Por LAERTE CERQUEIRA
Se alguém duvidava da habilidade do paraibano Marcelo Queiroga no meio político, teve que se convencer que ele sabe jogar o jogo. Bolsonaro soltou fogos com o depoimento dele, ontem.
O ministro da Saúde deslizou feito quiabo, deu duplo carpado, driblou, e não comprometeu o governo como queriam os oposicionistas da CPI da Covid-19. Vale ressaltar, o despreparo de alguns senadores também. Queriam fatos, perguntando sobre opiniões. Queiroga, esperto, esquivou-se e seguiu o roteiro governista.
Bolsonaro saiu ileso, Pazuello também e todo mundo presenciou incrédulo Queiroga deslizar em qualquer pergunta que pudesse gerar problemas para o governo. Nada de materialidade, nada de acusações adjacentes, nem diretas. Podemos até condenar o posicionamento dele, mas foi um "soldado" fiel. Como médico omitiu informações que podem salvar vidas para não contrariar Bolsonaro. O que é grave.
Não opinou sobre a cloroquina
Renan Calheiros (MDB-AL) se irritou, como um coronel contrariado, e não conseguiu tirar de Queiroga a opinião dele sobre a cloroquina. Tarso Jereissate (PSDB-CE), educado, até que tentou, mas ficou sem resposta. No máximo, a afirmação de que não houve recomendação dele para uso do medicamento.
Ninguém conseguiu tirar dele uma acusação contra o ex-ministro Pazzuello. Ninguém conseguiu fazer Queiroga dizer que é o presidente está errado em não incentivar o uso de máscara. Ele disse, no entanto, que o Ministério recomenda a medida. Ele só não consegue convencer o presidente, como já disse em outros momentos.
Ninguém conseguiu fazê-lo explicar porque depois de um ano o Brasil ainda não tem um protocolo de tratamento contra a Covid-19 padronizado. Apenas uma orientação.
Muito engodo
Qualquer pergunta sobre ações passadas, o paraibano lembrava aos senadores que só estava à frente da pasta há 40 dias. Dizia que não era com ele, que não tinha conhecimento.
Sobre o impacto de eventuais erros passados, no cenário atual, Queiroga recorria ao gerúndio: "estamos trabalhando...", "estamos fazendo"...
Engodo puro. Nas perguntas dos governistas, tergiversava sobre o passado, presente e futuro.
Até o erro do Ministério de recomendar a antecipação da segunda dose ficou sem resposta. O próprio Queiroga referendou a medida, mas ontem culpou a judicialização da questão para justificar parte do problema.
Tocou no governo
O mais próximo de atingir o governo foi quando ele disse que estados e municípios devem adotar medidas de acordo com a realidade local. Ou seja, prefeitos e governadores, interpretando a fala, têm que adotar providências. O que contraria o discurso do presidente.
Também negou que há indícios de guerra química, como disse Bolsonaro esta semana.
Deu números incertos e confusos sobre as vacinas já contratadas pelo governo brasileiro.
Disse que não está sendo comunicado sobre o decreto "abre tudo", anunciado pelo presidente, anteontem, no processo incansável de enfrentar a maioria dos governadores e o STF. Para ele, inimigos.
Condenou aglomerações que foram provocadas pelo presidente Bolsonaro dizendo que qualquer aglomeração é prejudicial.
Mas, para variar, não teve coragem de dizer que presidente está errado.
Queiroga evitou atritos com o chefe. Com subserviência assustadora. Só opinou quando era conveniente para o governo e negou dar opinião quando era contra. A CPI não conseguiu tirar dele nada significativo. Apenas, ficou evidente que Queiroga está disposto a fazer ginástica para defender o "mestre". Boa parte da classe médica, no entanto, deve ter se envergonhada.
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