POLÍTICA
Estudantes, professores e servidores fazem protesto na UFPB contra nomeação do novo reitor
Presidente nacional da UNE destaca que situação ocorrida na PB também já ocorreu em mais de 10 estados.
Publicado em 05/11/2020 às 16:56 | Atualizado em 05/11/2020 às 17:52
Estudantes, servidores e professores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) realizaram uma manifestação na tarde desta quinta-feira (5) contra a nomeação do professor Valdiney Veloso Gouveia para ser o novo reitor da instituição , que foi assinada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e publicada no Diário Oficial da União. Embora o reitor tenha sido escolhido pelo presidente, ele ficou, no entanto, em terceiro lugar na consulta interna realizada na universidade e não obteve sequer um voto na composição da lista tríplice que foi elaborada pelos órgãos deliberativos da UFPB.
Na consulta interna, a chapa mais votada foi a comandada pela professora Terezinha Domiciano, que obteve a soma ponderada e normalizada de 964,518 pontos, o segundo colocado foi Isac Medeiros, que obteve soma ponderada e normalizada de 920,013, e o terceiro no processo foi justamente Valdiney Veloso, com humilhantes 106,496 pontos, que foi nomeado.
Presente na manifestação, o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Iago Montalvão, destacou que já são mais de dez universidades em todo o Brasil que sofreram esse tipo de intervenção. "Alguns dos reitores que foram nomeados, inclusive, não estavam sequer na lista tríplice", destacou.
Para ele, esse tipo de ato por parte do presidente causa dois principais problemas: a interferência de interesses que não são próprios da pesquisa acadêmica e, também, uma quebra na harmonia da universidade. "Como um reitor vai poder fazer uma gestão se ele não tem diálogo com a própria comunidade e vai ter, na verdade, uma grande parte dela contra ele?", argumentou.
Segundo Montalvão, além dos atos que estão sendo convocados nas universidades em que tem havido a nomeação de reitores que não foram os indicados pela consulta eleitoral, a UNE também tem atuado no Supremo Tribunal Federal (STF), através de uma ação de inconstitucionalidade, atualmente em julgamento, e no Congresso, com projetos de leis que estão em tramitação.
Já de acordo com o integrante do movimento estudantil Levante Popular da Juventude, Ciro Caleb, a manifestação de hoje acontece como uma primeira resposta à decisão do presidente Jair Bolsonaro em nomear o professor Valdiney. "A principal motivação da nossa manifestação é dizer um não a essa intervenção, defender a nossa universidade, defender a autononia e a democracia na UFPB que agora está em risco diante de mais esse ataque de Bolsonaro às universidades federais", disse.
Já a professora Mônica Nóbrega, vice da candidata Terezinha Domiciano, que obteve maior número de votos na consulta interna, destacou a rejeição recebida pelo professor Valdiney nas eleições. "Foi um não retumbante ao projeto dele e é esse não que tem que permanecer na universidade. Desde os governos militares, nunca houve um interventor como hoje nós temos. Não há outro nome para o professor Valdiney. Não há uma justificativa para ter um interventor. Isso não é democracia, não é assim que nós vivemos", disse.
A Associação dos Docentes da UFPB, por sua vez emitiu uma nota (veja abaixo), chamando a nomeação de 'golpe' e convocando a comunidade universitária para uma plenária nesta sexta-feira (6). "Como não se trata de uma ação intervencionista isolada, mas uma prática assumida pelo atual governo em várias instituições públicas de ensino superior em nosso país, convocamos as demais universidades a lançarmos uma Campanha Nacional de Luta contra essas intervenções. Hoje foi a UFPB, amanhã poderá ser qualquer universidade pública brasileira!", diz a nota.
Em entrevista à TV Cabo Branco, nesta quinta, o novo reitor disse que o processo que resultou na escolha dele é legítimo. “Qualquer um dos três teria a possibilidade de assumir e ser indicado pelo presidente. Portanto, fui apenas uma das opções entre os três e o presidente considerou que eu seria a melhor opção para a conjuntura para este momento”, opinou Gouveia.
Confira a nota da ADUFPB completa:
Não aceitamos golpe na UFPB!
A Autonomia e a Democracia na universidade pública no Brasil estão mais uma vez sendo desrespeitadas pelo governo Bolsonaro. Na UFPB, a nomeação para reitor do terceiro colocado na lista tríplice expressa uma intervenção inaceitável, contra a qual estamos prontos a lutar. Como não se trata de uma ação intervencionista isolada, mas uma prática assumida pelo atual governo em várias instituições públicas de ensino superior em nosso país, convocamos as demais universidades a lançarmos uma Campanha Nacional de Luta contra essas intervenções. Hoje foi a UFPB, amanhã poderá ser qualquer universidade pública brasileira!
O desprezo pelas conquistas democráticas que foram historicamente construídas na nação brasileira demonstra o projeto ideológico desse governo, que nomeia reitores a partir de seu próprio interesse político, elevando à categoria de dirigentes máximos das universidades figuras que concordam com sua linha privatizante, fundamentalista e autoritária e que se prestam a assumir o cargo à revelia dos desejos expressos pelos votos de suas comunidades acadêmicas, carecendo, portanto, de legitimidade e representatividade.
Nós que fazemos a Diretoria do Sindicato dos Docentes da Universidade Federal da Paraíba repudiamos veementemente essa nomeação indevida e convocamos toda a comunidade universitária para uma plenária no dia 06/11/2020 para, juntos, exigirmos respeito à UFPB!
Reitora eleita é reitora empossada!
Não ao golpe na UFPB!
Não esperem de nós o silêncio dos covardes!
Diretoria Executiva da ADUFPB
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