POLÍTICA
Para melhorar educação é preciso corrigir distorção idade-série
Distorção, analfabetismo e evasão escolar abrem a segunda reportagem da série 'Desafios do novo governo', produzida pela Rede Paraíba de Comunicação.
Publicado em 06/01/2015 às 9:24
Maria das Dores tem 17 anos, está no 7º ano e tem dificuldades de leitura
Por três anos consecutivos, Maria das Dores da Conceição, 17 anos, foi reprovada. Está no 7º ano, apesar de ter idade de estar concluindo o ensino médio. Diante dos livros, ela admite a dificuldade que tem em ler. Também não consegue escrever com facilidade nem fazer cálculos simples. Maria não sabe, mas está no grupo dos estudantes que apresentam a distorção idade-série na Paraíba, onde a cada 100 alunos, 23 estão atrasados, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
O problema da distorção idade-série, como também o analfabetismo e a evasão escolar, abre a segunda reportagem da série 'Desafios do novo governo', produzida pelo JORNAL DA PARAÍBA e pelos demais veículos da Rede Paraíba de Comunicação. Os desafios da aprendizagem incluem também os professores, categoria que reclama dos salários e das péssimas condições de trabalho.
Maria entrou tarde na escola, aos 7 anos. Ainda hoje não mostra interesse – nem incentivo – pela sala de aula. Sem pensar muito, revela que o momento que mais gosta na escola é a hora do recreio. Tem dificuldade em matemática e não costuma revisar o conteúdo em casa. Os pais de Maria tentam estimular a filha, exigindo que ela vá para a escola, mas também estudaram pouco – não chegaram a concluir a primeira fase do ensino fundamental.
A adolescente é aluna da Escola Estadual Professor Renato Filho, em Cuité de Mamanguape. Nas escolas da rede estadual do município, o índice de distorção idade-série é de 52% nos anos iniciais do ensino fundamental, de 64% nos anos finais, e de 48% no ensino médio. No 7º ano, o mesmo que Maria faz, 64% dos alunos estão atrasados em relação a idade-série, segundo o Inep.
A evasão escolar é outro desafio a ser vencido – ou pelo menos combatido – no segundo mandato do governador Ricardo Coutinho (PSB). Um dos casos é de Cristiane Firmino, que aos 15 anos abandonou a escola quando estava no 2° ano do ensino fundamental porque engravidou. Segundo ela, que agora tem 34 anos, era impossível conciliar os estudos com a maternidade. Optou por ser mãe em tempo integral, mal sabe escrever o nome. Livros para ela só servem mesmo para enfeitar a estante da sala.
Com as filhas, Cristiane tenta fazer diferente. Não admite que as meninas – Mayara, Juciara e Mariana – faltem às aulas na escola pública na qual estão matriculadas. “Quero que elas estudem direitinho, que tenham um futuro diferente do meu. A pessoa sem estudo não é nada”, destaca. Uma das filhas de Cristiane está cursando o 8° ano do ensino fundamental aos 15 anos e diz que pretende concluir o ensino superior. “Espero que o pensamento dela não mude”, apela a mãe.
De acordo com o relatório publicado pelo Tribunal de Contas do Estado da Paraíba (TCE-PB) – Pacto pela boa governança: um retrato do Brasil – no que se refere à taxa de abandono no ensino médio, a Paraíba tem percentual acima do da Região Nordeste e do nacional. Em relação à taxa de aprovação, a situação é semelhante. A Paraíba tem índices inferiores aos estados de Pernambuco, Ceará e Maranhão.
O fechamento de escolas no governo de Ricardo Coutinho foi apontado pelo relatório como uma das possíveis causas para a redução no número de matrículas no Estado. Entre os anos de 2011 e 2012 foram fechadas 228 escolas da rede estadual de ensino, segundo o TCE-PB.
O resultado da Prova Brasil 2013, divulgado no início de dezembro do ano passado, mostrou que a Paraíba tem o 3º pior desempenho em Língua Portuguesa. Segundo os dados, os estudantes do 9º ano do ensino fundamental têm dificuldade de interpretar textos e reconhecer expressões típicas da linguagem.
Meta do novo secretário é melhorar o acesso e a qualidade para o ensino médio
O novo secretário de Educação, Aléssio Trindade de Barros, após tomar posse no cargo na manhã de segunda-feira (5), disse que está estudando os indicadores da Educação da Paraíba e que está entre suas metas dar continuidade à reforma de escolas e melhorar o acesso e a qualidade para o ensino médio, além de implantar a rede de escolas técnicas estaduais e fortalecer a oferta de vagas em cursos técnicos para a população paraibana.
Em relação à distorção idade-série, ele adiantou que vai fazer um diagnóstico para identificar em quais municípios e escolas ocorre com maior intensidade a distorção. “E vamos fazer uma política específica, melhorando mais ainda o processo de gestão e monitoramento para, de fato, conseguir vencer esse desafio”, afirmou Aléssio.
Aléssio Trindade de Barros, que assumiu a pasta como novo secretário, disse que vai investir em criação de ensino técnico estadual
A difícil realidade dos professores da rede pública
“É difícil ser professor em escola pública na Paraíba. Como se não bastasse a questão da violência, ainda temos de nos conformar com salários defasados e condições de trabalho precárias”. O desabafo é de um professor que trabalha na rede estadual de ensino na Paraíba. Ele prefere ter a identidade preservada por medo de sofrer algum tipo de retaliação. Depois de 15 anos em sala de aula, o professor diz que não recebe estímulo algum para continuar na profissão.
Ele parece não ser o único. Segundo Carlos Belarmino, presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação do Estado da Paraíba (Sintep-PB), a categoria tem uma lista extensa de insatisfações. A primeira delas é referente à remuneração, sobretudo no que diz respeito à progressão vertical, que é o aumento da mudança de cargo de uma classe para outra.
A diferença salarial entre um professor de nível médio para superior é de 20%, mas o sindicato defende a proposta que iguala a Paraíba aos estados de Pernambuco e Rio Grande do Norte, onde o percentual é de 50% entre as classes. O professor especialista, na Paraíba, tem reajuste de 25% (nos demais estados é de 50%; com mestrado, o professor passa a receber 30% (o sindicato pede 80%); e o doutorado representa um aumento de 35% (o Sintep-PB defende 100% de reajuste). A demora na implantação desses percentuais aos salários, em média um ano, também deixa os professores inconformados.
A categoria também reclama por ter perdido a gratificação histórica, a GED (Gratificação de Estímulo à Docência) durante o primeiro mandato do governador reeleito. “Essa foi a perda mais significativa que tivemos. Era um valor que era incorporado à aposentadoria, hoje isso não acontece mais”, afirma Belarmino. Segundo ele, o governo usa a GED para atingir o piso salarial da categoria, mas a retira na aposentadoria.
O que diz a proposta de governo de Ricardo Coutinho sobre educação
. Concluir a recuperação da rede física, ampliar e adequar a infraestrutura das escolas;
. Garantir a incorporação de tecnologias na educação e dar acesso aos alunos e professores a um ensino avançado, moderno e de qualidade;
. Investir na formação docente e valorizar o professor;
. Garantir a educação inclusiva;
. Superar o analfabetismo;
. Avançar na escola de tempo integral;
. Melhorar a escolaridade da população.
A proposta de governo de Ricardo Coutinho (2015-2018) pode ser conferida, na íntegra, no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
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