PLENO PODER
Com negativa de Livânia e sem 'fato novo', documentário sobre Calvário apenas prega para convertidos
Material tenta fazer comparação entre a Calvário e a Lava Jato
Publicado em 09/05/2022 às 18:59
Anunciado com grande expectativa por alguns, o documentário 'Justiça contaminada: o teatro do lavajatismo na Paraíba', publicado dias atrás no Youtube, faz uma associação entre as operações Lava Jato e Calvário. A tese principal é de que as duas são 'gêmeas siamesas' e que, nos dois casos, há indícios de lawfare.
A narrativa é composta de 9 episódios. Eles analisam os desdobramentos e citam algumas das denúncias apresentadas pelo Gaeco à Justiça.
Fiz questão de assistir todo o material. Li ao longo dos últimos meses também, integralmente, as 23 denúncias oriundas da investigação.
Para além de uma narrativa articulada pelas defesas dos investigados, o documentário acrescenta pouco. Não traz 'fatos novos'. Não há, por exemplo, novos áudios e/ou mensagens que indiquem algum indício de conluio ou perseguição por parte dos investigadores.
No material o promotor Octávio Paulo Neto e o desembargador Ricardo Vital são comparados ao ex-procurador Deltan Dallagnol e ao ex-juiz Sérgio Moro. Mas sem elementos que justifiquem tal assertiva.
Não há diálogos entre os dois, por exemplo. Nem provas que demonstrem parcialidade na condução das investigações.
O único elemento a mais trazido - supostos desabafos feitos pela ex-secretária de Administração do Estado, Livânia Farias - foi rechaçado por ela no fim de semana. Livânia negou, através de carta, que tenha dado o depoimento aos jornalistas responsáveis pelo trabalho.
O documentário questiona as estratégias investigativas usadas pelo Gaeco. Defende, por exemplo, que a prisão dos investigados só deveria ter ocorrido após uma sentença condenatória. Esquece, porém, que mesmo antes da Lava Jato a lei já admitia a possibilidade de prisão temporária, ou preventiva.
O material diz ainda que ocorreram vazamentos seletivos, sem apresentar provas de quem vazou, onde e para quem. Questiona a competência, esquecendo-se que essa discussão está sendo travada pelo Judiciário há meses.
Como disse no início, os fatos relatados no documentário não parecem ter força para mudar o curso dos processo - como fez a 'Vaza Jato'.
Ele reproduz um relato legítimo dos investigados, é verdade.
Todos, afinal, têm o direito de contradizer as versões do MP. Mas as narrativas, por enquanto, mais parecem discurso político na tentativa de desqualificar a Calvário. O material é 'mais do mesmo'.
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