Praias impróprias: entenda o problema e quais os riscos para quem tomar banho

As praias urbanas de João Pessoa são um dos maiores atrativos turísticos da cidade, mas, infelizmente, algumas delas podem ser consideradas impróprias para banho devido à poluição.

O monitoramento regular da qualidade da água realizado pela Superintendência de Administração do Meio Ambiente (SUDEMA) indica que determinadas praias apresentam níveis elevados de coliformes fecais, principalmente após períodos de chuvas intensas, quando o escoamento de águas pluviais pode levar resíduos para o mar.

Quando um praia é considerada imprópria?

Uma praia é considerada imprópria para banho quando a qualidade da água não atende aos padrões estabelecidos por órgãos ambientais e de saúde pública. A avaliação geralmente é feita com base na concentração de bactérias indicadoras de contaminação fecal, como Escherichia coli (E. coli) ou Enterococos, que são indicadores de poluição por esgoto. A seguir, detalho os principais critérios e procedimentos utilizados para essa avaliação:

Critérios para Classificação de Praia como Imprópria para Banho

Contagem de Bactérias:

Enterococos: É uma bactéria encontrada no intestino de humanos e animais. Uma alta contagem de Enterococos na água indica a presença de fezes e, portanto, a possível presença de outros patógenos. O valor limite geralmente aceito é 100 UFC (unidades formadoras de colônias) por 100 ml de água.

Escherichia coli (E. coli): Também é um indicador de contaminação fecal. O valor limite varia, mas em muitos locais é considerado impróprio quando há mais de 400 UFC por 100 ml de água.

Amostras de água são coletadas regularmente (semanalmente, em muitos lugares) em diferentes pontos da praia para monitorar a qualidade da água ao longo do tempo.

Após chuvas intensas, a drenagem urbana pode carregar contaminantes para o mar, aumentando temporariamente os níveis de bactérias. Portanto, algumas praias podem ser temporariamente consideradas impróprias após chuvas significativas.

Descargas de esgoto tratadas inadequadamente ou acidentes envolvendo redes de esgoto podem contaminar a água do mar.

Como são feitas as avaliações

Amostras de água são coletadas de diferentes pontos da praia e a diferentes profundidades, conforme as diretrizes dos órgãos de saúde. As amostras são levadas a um laboratório, onde são analisadas para determinar a quantidade de bactérias presentes.

Os resultados das análises são comparados com os padrões estabelecidos pelos órgãos reguladores, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) ou normas locais específicas.

Os resultados são divulgados ao público, muitas vezes através de placas na praia, websites de órgãos de saúde pública e aplicativos móveis. As praias são classificadas como próprias ou impróprias para banho com base nas concentrações bacterianas encontradas.

Alguns sinais visuais também podem indicar que uma praia é imprópria para banho

Espuma ou Descoloração da Água

Pode indicar a presença de poluentes ou matéria orgânica em decomposição.

Lixo e Resíduos Flutuantes

Indicam que a praia pode estar recebendo grande quantidade de poluentes.

Odor Desagradável

Pode ser um indicativo de matéria orgânica em decomposição ou esgoto.

Manter-se informado sobre a qualidade da água e respeitar as sinalizações de órgãos de saúde pública é fundamental para evitar riscos à saúde associados ao banho em praias impróprias.

Doenças causadas por banho em praias impróprias

Infecções Gastrointestinais

A ingestão acidental de água contaminada pode causar infecções gastrointestinais, resultando em sintomas como diarreia, vômitos, dores abdominais e febre. Essas infecções podem ser particularmente graves para crianças, idosos e pessoas com sistemas imunológicos comprometidos.

Infecções de Pele e Ouvidos

A exposição a águas poluídas pode levar a várias infecções de pele, incluindo dermatites e erupções cutâneas. Além disso, a água contaminada pode causar otite externa, conhecida como "ouvido de nadador", uma infecção dolorosa no canal auditivo externo.

Infecções Respiratórias

A inalação de gotículas de água contaminada pode resultar em infecções respiratórias. Isso é especialmente perigoso em praias onde a água é agitada, gerando aerossóis que podem ser inalados pelos banhistas.

Hepatite A

O vírus da hepatite A, que causa uma infecção hepática aguda, pode estar presente em águas contaminadas por esgoto. A infecção ocorre principalmente através da ingestão de água ou alimentos contaminados, mas nadar em águas poluídas também representa um risco.

Doenças Oculares

A água contaminada pode causar conjuntivite, uma infecção ou inflamação da conjuntiva, a membrana que cobre a parte branca do olho e o interior das pálpebras. Os sintomas incluem vermelhidão, coceira, lacrimejamento e, às vezes, secreção purulenta.

Como Proteger-se

Verifique a Qualidade da Água

Antes de ir à praia, consulte os relatórios de qualidade da água fornecidos por órgãos ambientais e de saúde pública. Muitas praias têm sinalizações indicando se a água é própria ou imprópria para banho. A Sudema divulga os trechos que estão liberados para banho.

Evite Nadar Após Chuvas Fortes

Chuva intensa pode levar contaminantes das ruas para o mar, aumentando o risco de poluição temporária. Espere pelo menos 24 a 48 horas após fortes chuvas antes de nadar.

Observe Sinais Visuais

Evite nadar em águas que aparentem estar poluídas, com presença de espuma, descoloração, lixo flutuante ou odor desagradável.

Higienize-se Adequadamente

Após nadar, tome uma ducha de água doce para remover quaisquer possíveis contaminantes da pele e dos cabelos. Evite engolir água do mar e lave bem as mãos antes de comer.

Procure Tratamento ao Notar Sintomas

Se você ou alguém da sua família desenvolver sintomas como diarreia, vômitos, dores de ouvido ou erupções cutâneas após nadar, procure atendimento médico imediatamente.

Estar informado e tomar precauções pode evitar problemas de saúde sérios e garantir que você e sua família desfrutem de um verão seguro e agradável. Sempre fique atento às informações dos órgãos de saúde e respeite as sinalizações sobre a condição das praias.

André Telis é médico, cirurgião cardiovascular, doutor em medicina pela Unifesp, professor da UFPB