Tsunami: mesmo com possibilidade remota no Brasil, saiba como identificar e o que fazer

Erupção do vulcão Cumbre Vieja causou discussão na costa brasileira sobre a possibilidade remota de um tsunami.

Praias de João Pessoa – Foto: Divulgação

A erupção do vulcão Cumbre Vieja, no território espanhol das Ilhas Canárias, na costa norte da África, chamou atenção da população que mora em áreas banhadas pelo Oceano Atlântico e, aqui no Brasil, a tensão se misturou com incertezas do que de fato estava ocorrendo lá no hemisfério norte.

A falta de informação básica à população fez com que alardes nas redes sociais fossem criados acerca do vulcão Cumbre Vieja e levantou a possibilidade que ele pudesse causar um tsunami que viesse a atingir a costa do Norte e Nordeste do Brasil. Ele até pode, mas, geograficamente, isso não é tão simples assim, e os especialistas dizem que a possibilidade é remota.

O vulcão espanhol entrou em erupção em 19 de setembro e desabrigou mais de 7 mil pessoas, que tiveram que ser evacuadas de suas casas, e deixou cerca de 2 mil prédios destruídos pelos destroços da erupção e pelos rios de lava que escoam pela ilha no meio do Atlântico.

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Vulcão Cumbre Vieja entra em erupção nas Ilhas Canárias.
Foto: Borja Suarez/Reuters

A erupção do vulcão levantou a discussão no Brasil sobre um provável tsunami. Mas o que é um tsunami? Muitas pessoas não sabem o que é esse fenômeno natural ou de que forma ele acontece, e nesta sexta-feira, 5 de novembro, a Organização das Nações Unidas (ONU) reservou no calendário o Dia da Conscientização sobre Tsunamis para informar as pessoas do que é esse fenômeno ou como agir caso venha a ocorrer na sua região.

“O tsunami é uma grande onda ou uma sucessão delas, que varia de velocidade (pode atingir 700km/h) e altura (podendo chegar a 40 metros da costa) e as causas desses fenômenos naturais são abalos sísmicos (tremores) no assoalho oceânico, vulcanismo, deslizamentos de terra no talude continental (nas áreas submersas), impactos de meteoritos ou qualquer outra força capaz de gerar esse efeito ondulatório”, explica Saulo Vital, professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

A probabilidade do vulcão Cumbre Vieja causar um tsunami é pequena e, para que venha a ocorrer, o vulcão precisaria entrar em erupção de forma tão explosiva que parte de sua estrutura vulcanológica desmoronasse em direção ao mar, um volume de terra intenso que, em choque com as águas do mar, geraria um tsunami, que atingiria com maior força a costa da África, mas teria ondas atenuadas caso chegasse no Brasil, pela distância de pouco mais de 4.000 quilômetros de distância. Mas Saulo Vital rechaça essa possibilidade.

Já foi descartado pelo serviço Geológico dos Estados Unidos e da Espanha, toda e qualquer possibilidade de tsunami na nossa costa, advinda de sua erupção. O desmoronamento de parte da ilha de La Palma é algo praticamente impossível de acontecer, uma vez que não há indicativo disso até o momento. Além disso, o tipo da atividade vulcânica que ocorre naquele local não é capaz de gerar um evento dessa magnitude”, disse o professor.

Como identificar e como agir em caso de tsunami

Independente da ocorrência de um tsunami atingir a costa brasileira ou não, a população deve saber como identificar um tsunami e de que forma deve agir caso venha a ocorrer.

Na possibilidade da ocorrência de um provável tsunami, quem estiver na área costeira deve observar um recuo súbito do mar ou o comportamento estranho de animais, e a calma deve ser mantida. Ao observar esses fenômenos na beira mar, deve-se procurar por lugares altos, seja telhados de residências, edifícios ou colinas, pois quanto mais alto e mais distante da costa, melhor. O ideal é que se afaste até três quilômetros da costa em direção ao continente e estar numa altura de 30 metros acima do nível do mar (o que corresponderia a um edifício de 10 andares).

O Brasil teria problemas para lidar com esse tipo de fenômeno natural. As cidades não têm planejamento ou estrutura física e organização para lidar com esse tipo de evento natural, pois no país não ocorrem casos desse tipo e as administrações públicas não prepararam um plano preventivo nem de conscientização da população para agir diante de catástrofes naturais.

“Não há planos preventivos. Seria importante tê-los, mas antes deles temos outras prioridades, como planos de contingência frente a inundações em áreas de risco, erosão costeira e continental e movimentos de massa (tanto em barreiras, quanto referente ao colapso do solo urbano, como aconteceu recentemente na avenida Pedro II)”, comentou o professor da UFPB.

Paraíba já teve tsunami no passado

Um recente estudo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) destacou que a costa brasileira já foi alvo de um tsunami ocorrido em 1755, após o terremoto que devastou a cidade de Lisboa.

A pesquisa liderada pelo professor Francisco Dourado do Centro de Pesquisas e Estudos sobre Desastres (CEPEDES/UERJ), encontraram evidências físicas da chegada de um tsunami na costa do Brasil em 1755. A pesquisa analisou 270 quilômetros de costa litorânea entre o Rio Grande do Norte e o sul de Pernambuco, percorrendo 22 praias nesse espaço.

De acordo com o estudo, a Paraíba contou com ondas que variaram de tamanho entre 1,8m, na praia de Lucena, e 1,5m, em Pitimbu, e a inundação invadiu terra adentro, chegando a 300 metros além da linha da costa, em Lucena, com o volume de água adentrando no continente.

“Foram encontrados vestígios de uma camada de areia grossa na área da costa de Lucena, por pesquisadores da UERJ. Eles foram até o local por meio de uma simulação numérica prévia que indicou o local”, explica Saulo Vital.

Relatos em cartas e manuscritos da época mostram a chegada do grande volume de água na costa brasileira. No livro Tremeu a Europa e o Brasil também, de Alberto Veloso, traz-se cartas da época escritas por governadores  e arcebispos que relatam a ocorrência do maremoto. Numa das cartas, datada de 4 de março e 1756, diz: “Em Lucena e Tamandaré (PE), a enchente do terremoto entrou pela terra adentro coisa de uma légua (cerca de 4 a 5 km), e levou algumas palhoças e falta um rapaz e uma mulher”.

Mas o professor Saulo Vital explica que ainda é questionável se o maremoto de 1755 foi, de fato, um tsunami e que atingiu a costa brasileira, e que os estudos científicos ainda geram discussões no meio acadêmico.

“Alguns artigos científicos questionam se, de fato, foi um tsunami, uma vez que seu tamanho na época é questionável”, diz o professor.

Mesmo no centro de uma placa tectônica, o Brasil já foi impactado por um tsunami e variações em outros momentos da história. A possibilidade de um novo tsunami na costa brasileira é remota, mas, de qualquer forma, a conscientização sobre fenômenos naturais deve existir.